De meu bom amigo, o jornalista e editor Luiz Augusto Erthal:
“Euclydes da Cunha sempre nutriu um profundo desprezo pela Rua do Ouvidor, reduto, à sua época, de redações de jornais conservadores, cafés esnobes e salões restritos, cujos brilhos refletiam mais o pensamento cristalizado de nossas elites do que o reflexo das taças importadas da Bavária.
Sua correspondência pessoal e a fina ironia de algumas das páginas mais críticas de “Os Sertões”, seu livro-denúncia contra o massacre de Canudos, demonstram claramente esse sentimento, que o levou a buscar nos grotões do Brasil a essência da nossa nacionalidade.
Mas o conceito euclydiano de sertão não se restringe a uma situação geográfica específica. Para Euclydes, sertão é tudo aquilo que não seja a Rua do Ouvidor. Nesse sentido, todos nós, que não pertencemos à Rua do Ouvidor, somos autênticos sertanejos, seja trajando gibão e chapéu de couro, seja vestindo bombachas ou calças jeans. Ele próprio, um fluminense dos Sertões do Macacu, como era conhecida nos tempos da coroa portuguesa a região de Cantagalo, sua cidade natal, definiu sua imagem pessoal como sendo “da face de um tapuia”.
Dando as costas à Rua do Ouvidor, Euclydes se voltou para as nossas entranhas. Seja na campanha de Canudos, seja em sua fase amazônica, ensimesmou o país ao opor o Brasil real ao Brasil das elites, como costumava dizer Ariano Suassuna, euclydianista assumido. “Quem não entender Canudos nunca vai entender o Brasil”, dizia o grande paraibano. Mas o sertanejo de Euclydes tanto podia estar na caatinga nordestina como nas barrancas amazônicas ou em qualquer outra parte do país. Menos na Rua do Ouvidor.
O século XX mudou o eixo do poder. O processo de esvaziamento político e econômico do Rio de Janeiro ofuscou o brilho da Rua do Ouvidor, à medida que construía na pauliceia o novo palco iluminado das elites brasileiras, que atende, hoje, pelo endereço de Avenida Paulista. Lá estão os financistas. Lá estão os yuppies – versão moderna dos antigos punhos de renda.
Lá foi registrado no último domingo, desafortunadamente para a presente geração, o maior ato da história da direita brasileira, clamando pela deposição da presidente recém eleita em nome do seu “status quo”. Nada diferente do que sempre fizeram, exceto pela expressiva participação dessa gente. Lá está o Brasil das elites brancas e anacrônicas, sempre dispostas a massacrar o Brasil real, como em Canudos.
Apenas para lembrar os últimos lances daquele drama, pela pena estonteante de Euclydes:
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”.
Não é à toa que até hoje “Os Sertões”, a mais impressionante obra da literatura brasileira, carrega um estigma de livro maldito, a despeito do sucesso fulminante alcançado logo em seu lançamento e de sua teimosa persistência no cânone literário nacional, mesmo desmerecido pelos áulicos politicamente corretos que tentam reduzi-lo a algumas teorias dominantes na época em que foi escrito e adotadas por seu autor, como certos conceitos sobre eugenia e determinismo geográfico.
Em 2009, ano do centenário de morte de Euclydes, tomei, por curiosidade, a iniciativa de fazer um levantamento sobre os livros indicados para os vestibulares de cerca de 50 universidades brasileiras e, pasmem, “Os Sertões” não figurava em nenhum deles.
Mas, como descobriu Euclydes, “o sertanejo é antes de tudo um forte”. Resiste até hoje ao regime canicular da caatinga; resiste ao insulamento no cerrado, na Amazônia e no Pantanal. Resistiu a Canudos. Resistiu à Rua do Ouvidor. Resistiu a 54. Resistiu em 61. Resistiu a 64.
E há de continuar resistindo à Avenida Paulista.”
19 respostas
Incrivelmente sublime! Hoje, ontem e amanhã para nosso infortúnio, sua análise Brito, embasada no “anacrônico” Os Sertões retrata como o brasileiro médio, ao mesmo tempo que é tão forte, continua ser tão injusto ao “se ver no espelho”.
Como transformar o limão em limonada:
https://vimeo.com/122448406
Dia 12/04 vai haver nova manifestação como esse do dia 15. Seria interessante, com camisetas verdes e amarelas, levar enormes faixas e cartazes pintados, também, de verde e amarelo, com dizeres garrafais: “Contra Corrupção: Reforma Política Já!”, “Devolve, Gilmar!”, “Janot, Cadê Os Outros Partidos Na Sua Lista?”, “Corruptos do Metrô, devolvam nosso dinheiro.”. “Cadê a Água?”. “Globo Sonega.”. E quando ali pergutarem se somos petralhas, agente responde: Somos apartidários. kkkk…
Apartidários, boa kkk!
Realmente, tinha que haver 1 milhão (de verdade) no Brasil em apoio ao governo, num fim de semana, pra parar com esses argumentos de “trabalhador manifesta em fim de semana”, de verde amarelo pra não dar brecha aos paranóicos do “comunismo”, e sem fazer alusão a nenhum partido e com cartazes objetivos desse tipo que você citou. Aí eu queria ver a Globo mostrar de 10 em 10 minutos o “movimento apartidário”.
Fernando, mudando de assunto completamente, por que a PF e Receita não batem na porta do MBL pra pedir comprovantes de renda?
Outra coisa, por que Dilma ainda não cancelou a reunião com Obama se até o mundo mineral sabe que tem dedo americano nisso tudo?
Eu mandei fazer um adesivo daquela imagem “Sorria, voce está sendo manipulado” com o logo da Globo ao meio. Vou colocar no carro! Sugiro que cada um faça o seu, sai por R$20,00.
boa idéia!
O PIG e os opositores estão cometendo um dos crimes mais covarde dos últimos tempos no Brasil. Um completo ato de irresponsabilidade. Estão incitando e fazendo apologia ao crime, à liberdade de expressão, incentivando todo tipo de abuso e preconceito. Estão inflamando a população. Estão querendo acabar com o país. No mínimo, tem que perder a concessão e os opositores que estão por detrás disso tem que ser responsabilidades. Temos uma constituição e somos um país com lei. Quem pensa diferente dessa “revolução Branca” é agredido e banalizado, logo, será torturado. Olha, que esse fogo se lastra e chega até vocês do PIG.
do blog do Marcio Valley
Passadas as marchas pró e contra o governo, é hora de nós, brasileiros e brasileiras, nos juntarmos para, sem coloração partidária, sem ressentimentos e sem rivalidades mesquinhas, promovermos ações políticas coletivas que estejam acima de qualquer suspeita de ambos os lados.
Tanto nas passeatas do dia 13, como nas do dia 15, era imenso o número de pessoas portando cartazes e faixas contra a corrupção. Trata-se, pois, de uma agenda política de todos os brasileiros. Que tal representantes de ambos os lados da disputa política, como, por exemplo, Lobão e Stédile ou FHC e Lula, demonstrarem que não se limitam à retórica emocional dos palanques? Que estão dispostos a abraçar uma causa objetiva e concreta que possui amplas possibilidades de produzir algum efeito positivo em nossa política?
A partir dessa repugnância à corrupção demonstrada por todos e dadas as informações que são reveladas a partir da Operação Lava-Jato, a primeira dessas ações concretas que merece ser abraçada parece ser o financiamento privado das campanhas políticas. E nem há necessidade de produção de projeto de emenda constitucional ou de lei de iniciativa pública. Já há uma interpretação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal prontinha para entrar em vigor. Basta apenas exigir que Gilmar Mendes cumpra o seu dever constitucional, como integrante do Poder Judiciário, de impedir ou mitigar os conflitos sociais. Juiz não existe para produzir questões, mas para resolvê-las.
Vc tem o q na cuca? Como fazer um chamamento, do seu jeito, juntando Lobão e Stedeli? O Lula já foi, humildemente, ao velório da pobre esposa do boca de caçapa… Q foi q levou com isso? Agora mesmo, estão vendendo ou distribuindo uma camiseta com u’a mão, negra, de óleo, gravada. Só q a mão tem menos um dedo… Q falta de humanidade é essa? Individualismo, ao molho; diria. Vc, no fundo, não quer nada. Um gostoso; diria.
Eu estou carregado de ódios? Sou idoso; diria. Estou escolado em conversa mole.
Veja; O Euclydes da Cunha, q eu saiba, vive sendo lembrado, quase q sempre, atendendo ao intuito de desqualifica-lo. Simplesmente, pq ele assumiu o caráter do oprimido. Esteve sempre só. Sua solidão foi coroada por seu passamento, covarde.
O Fernando, excelente, quero dizer, Brito me vem, agora, de forma exemplar, nos lembrar do grde brasileiro, Euclydes da Cunha… e seu exemplo de vida.
O sertanejo antes de tudo é um forte; e há de resistir à pauliceia desvairada.
Cara, Adilson vamos parar com essa sua conversa mole, pra boi dormir… A mídia, mafiosa, maldita, orientou, dia e noite, uma plateia egoísta. Levou a vantagem, ainda, de um punhado de organizações, nacionais e estrangeiras, funcionando na assistência; tudo, com o único objetivo de acabar com o Partido dos Trabalhadores em seu comprometimento com o povo. A Pres Dilma entra na jogada, apenas, por ser a figura central do Processo Político, vitorioso.
Impossível se tolerar essa mulher, vencedora, a impor Políticas Progressistas ao País; influenciando, até, toda a América Latina, sempre e sempre subalterna… Intolerável, essa mulher comparecer à ONU, por exemplo, enfrentando o Império, todo poderoso. Inimaginável. Como aceitar q um partido e uma política, apenas, tentem subverter a ordem, mundial? E, agora, ainda, se agrupam à países, significativamente importantes e fundam um banco de desenvolvimento, pra competir com o FMI, com o Banco Mundial, ferramentas únicas das finanças mundiais, influenciadas pelo Império. Como aceitar? E tem mais, mto mais… ficaria, aqui, um tempão, lembrando. Vamos, pois, desqualificar essas figuras “odiosas”. Pq são dignas de ódio…
Ora, as personagens não têm nada de odiosas. Se nos dedicarmos aos seus feitos, são os únicos interessados e comprometidos com a plateia, inteira. Ou nesses últimos doze anos, os bcos não ganharam mta grana? E aquela gente, bem apessoada, lá na Av Paulista e mesmo em Copacabana, não foi favorecida, como nunca? A única coisa, mesmo, a reclamar, é q a antiga nobreza vai ter de se acostumar a conviver com a plateia suburbana e da periferia… Mas, parece q este é o grde óbice. Dai a facilidade encontrada pra se adequar os interesses externos, às grdes dificuldades da elite, conservadora, nacional. Dai, a necessidade de enquadrarmos os atores e autores dessa crise, fabricada, em atividade terrorista, criminosa. Não dá pra tolerar ação criminosa; e pronto. Tal e qual os corruptos da Lava Jato, a Justiça precisa funcionar… Não é a Presidenta q tem de fazer justiça. Aliás, ela não tem a força, pra tanto. Ela faz parte do Poder Executivo, não do Judiciário ou Legislativo.
Buenas!
Não se iludam, o Império sanguinolento quer o nosso Pré-Sal, e está botando dinheiro nisso. A propósito, quando o governo vai cadastrar os agitadores golpistas filiados a ongs estrangeiras como “agentes estrangeiros”? Os EUA já fazem isso há tempos, com todos os associados a ongs que recebem dinheiro estrangeiro. Recentemente, a Rússia passou também a classificar como agentes estrangeiros os filiados a ongs que recebem dinheiro estrangeiro. O que a Dilma, vacilante, está esperando?
Presidente Dilma, assim que a situação permitir abra a carteira e adquira o Triumph S-400, f.d.p. nenhum de fora terá coragem de se intrometer aqui.Obama não interviu na Rússia porque sabia que o pau ia cantar.
Poder-se-ia mudar o nome da Avenida Paulista para Avenida Golpista.
caro fernando
não apenas das universidades brasileiras, “os sertões” está banido: nunca se perguntou nada da obra nos concursos da magistratura ou ministério público, o que explica, em grande medida, a indigência cultural e o despreparo de juízes e promotores.
de fato, “os sertões” não é para qualquer pangaré de curso preparatório para concursos.
e quem é essa “entidade” que determina o perfil dos aprovados nas universidades e nos concursos públicos, inclusive dos m.p’s e da magistratura?
É uma tremenda burrice reduzir a manifestação do dia 15 a “ato de direita”. Come bem disse a presidenta, manifestações são legítimas na democracia para todas as camadas da sociedade. O que vimos foi a classe média majoritariamente nas ruas, os aloprados golpistas eram absoluta minoria e receberam vaias dos próprios manifestantes. O Datafolha de hoje dá a dimensão do problema para o governo cuja aprovação rolou ladeira abaixo e atinge todos os segmentos.
Parabéns, excelente texto.
Nunca vão nos vergar, somos madeira de lei, madeira que o cupim não rói.
Quero um adesivo desses acima sugerido. Chega de ser manipulado pelo plim, plim cheiroso.
Todo brasileiro deveria entender sobre Canudos…o que se praticou lá !
Para mim Antonio Conselheiro,tinha uma paixao,por seu povo “sertanejo”e eu reverencio a sua alma esotérica.
“Adeus povo,adeus aves,adeus arvores
aceitai a minha despedida,que bem demonstra as gratas recordações que levo de vos e que jamais se apagarão da memória desse peregrino”.
parte da despedida Antonio Conselheiro …..santo !