Dificilmente haverá alguém tão capaz de avaliar as pressões por um golpe eleitoral no Brasil que o presidente do órgão a quem compete conduzir as eleições e que está, há meses, sendo pressionado e ameaçado por chefes militares e autoridades públicas que insistem em afirmar que seria fraude qualquer resultado que não fosse a reeleição de Jair Bolsonaro.
Por isso, deveriam levar muito a sério o que disse hoje, numa palestra em Washington, o ministro Luiz Edson Fachin, presidente do TSE, ao afirmar que “poderemos ter um episódio mais agravado do que houve no Capitólio”, a invasão por fanáticos trumpistas, em 6 de janeiro de 2021, do Congresso dos Estados Unidos, para impedir que se proclamasse a vitória de Joe Biden, que terminou com cinco mortes e dezenas de feridos.
Fachin disse que o Judiciário não vai se vergar diante de ameaças, mas que, para isso, depende do apoio da sociedade, do parlamento, da imprensa e da comunidade internacional, e que as Forças Armadas, que “quando chamadas chamadas a esta arena pública são [seja] para defender as instituições, para gerar segurança institucional e não o contrário”.
E, de fato, tem sido pequena e tolerante a reação da sociedade, das instituições e até do mundo em relação à possibilidade de um golpe contra as eleições brasileiras. E isso é indispensável para que os grupos – numerosos e empoderados – militares se deixem levar por comandos irresponsáveis, que só recuarão se houver reação de quem se apegue aos seus deveres legais.
É tão visível isso que essa declaração sobre os perigos de um “Capitólio agravado” deveria estar nas manchetes, mas até agora só discretamente repercutiu.