Falar muito e não dizer nada é “inteligência” ou cinismo, Tábata?

A senhorita Tábata Amaral escreve, na Folha, sobre o que ela chama de “ousadia de ir além das amarras ideológicas“.

Fui ler, atraído pela propalada inteligência-prodígio da deputada, na esperança de que, mesmo pensando diferente, poderia ser um prazer esgrimir com argumentos e razões concretas sobre o porquê de me opor às propostas concretas contidas da reforma da Previdência.

Decepcionei-me, porque o que encontrei foi um imenso “rolando lero”, que não apenas não explica o que ela viu de bom no projeto como, nem sequer, trata de nenhuma questão concreta.

A palavra “previdência” só aparece uma vez no texto. Mais, porém, do que as palavras salário, trabalho, renda, trabalhador, idoso, deficientes, inválidos, viúva, órfão, pobres, necessitados – todas de se esperar, pois se trata de seu voto sobre o regime previdenciário – que sequer uma única e mísera vez aparecem no longo artigo da moça.

Não creio que seja “ideológico” aquilo que representa o sustento de dezenas de dezenas de milhões de pessoas humildes, pois é disso que tratamos ao falar em aposentadorias e pensões, duas outras palavras que sequer dão o ar de sua graça na manifestação de Tábata.

Só muito generosidade com as palavras “bem apessoadas” que ela arruma ao longo de tantas linhas dar-lhe-iam algo diferente de zero em redação, pelo simples fato de que não abordou ou desenvolveu o tema do que venha a ser, na questão previdenciária, “ir além das amarras ideológicas”.

Recordo que, na fala que a tornou “famosa” nas redes sociais, ao questionar a embromação do ex-ministro da Educação Ricardo Vélez, a senhorita o “emparedou” exigindo posições concretas: “Cadê os projetos? Cadê as metas? Quem são os responsáveis? Isso daqui não é planejamento estratégico, isso e uma lista de desejos. Eu quero saber onde que eu encontro esses projetos? Quando cada um começa a ser implementado? Quando serão entregues? Quais são os resultados esperados?”

Dá a todos, portanto, o direito de exigir que a deputada também seja objetiva ao tratar de questões públicas.

Compreendo que Tábata queira evitar expor-se como fez no artigo com que, na internet, tentou explicar o seu voto, com “pérolas” como a de dizer que “o trabalhador só precisará trabalhar 40 anos se desejar se aposentar com a integralidade de seus rendimentos, o que não ocorre nem atualmente” o que, além de cruel, é falso, pois o cálculo da aposentadoria a partir de toda a vida laboral vai reduzir expressivamente, o valor dos proventos em relação aos do final da vida ativa.

Mas, como a deputada não dá a menor bola para o programa, as tradições, a história do partido que escolheu para se candidatar (e para eleger-se, pois não atingiu, sozinha, o quociente eleitoral de 301 mil votos da eleição para deputado federal em SP) e prefere, no artigo em que se explica – e não é este da Folha – dizer que seu voto foi definido em outro coletivo, o do tal “Movimento Acredito”, cabe perguntar-lhe o que fariam com ela, por lá.

Está lá, no site da organização para qual grandes empresários, certamente imbuídos de puro e desinteressado espírito cívico que “as candidaturas do Acredito (seria um partido político, para ter candidatos oficiais?) irão se comprometer publicamente com uma carta de posicionamentos e práticas que elas pretendem conduzir, caso eleitas. Se, durante o mandato, as ações da/ocandidata/oeleita/o destoarem do que foi combinado com o Movimento Acredito, esta pessoa perderá todo o apoio e os vínculos com o Movimento”. Traduzindo: será expulso dele.

Não é o mesmo ato que condena em seu artigo, afirmando que isso visa “reforçar o poder da liderança partidária punindo dissidentes pela máxima de que os partidos não podem passar sinais de fraqueza”?

A senhorita acha que, num caso é legítimo e em outro é “amarra ideológica” ficar obrigado àquilo com que se comprometeu?

Não sou do PDT e não me cabe opinar se deve ou não haver punição. Mas como Tábata não está falando para seu partido, mas para todos, a todos dá o direito de opinar.

Desculpe, deputada. Não existe nada de mais necessário na política brasileira que caráter e respeito aos compromissos assumidos. Nem existe nada de mais essencial, quando se vota ou quando se escreve, que tratar objetivamente das questões reais.

O resto são “amarras ideológicas”, mesmo que pareçam tão bonitinhas feito laços de fita.

Fernando Brito:

View Comments (40)

  • Gostei muito, Brito. Como alguém esquece sua história e se condidata a ser aceita na casa-grande? Será que é por "amarras ideológicas"?

    • Muito bom, Brito. Igualmente indignado com a postura cretina dessa moça (vamos tratar por moça... por enquanto), penso que ela é dessas pessoas que se impressionam com pose, prepotência e dinheiro acumulado, como é o caso desse velhote calhorda, e nada lhe diz o sofrimento, a miséria, o abandono desses milhões de pessoas, já fragilizadas, que virão, com o passar dos dias. Não se trata de inexperiência, mas, provavelmente, essa coisa horrorosa incrustada na alma deste país, que é o temor reverencial diante de quem tem dinheiro e poder e um outro tanto de caráter torto. Infelizmente, eles pressionam esses idiotas úteis, os assustam com o poder de fechar-lhes portas e, por outro lado, lhes atiram, como se atira aos cães, algumas supostas benesses. Essa pequena idiota útil não é nada melhor do que os canalhas do centrão, que venderam o voto, em troca de alguns milhões, que serão lavados, logo ali, e integrados ao patrimônio pessoal. A diferença entre eles e ela é que ela foi comprada um pouco antes.

  • Perda de tempo com essa mocinha bancada pelo bilionário Lemann. É de direita infiltrada. A esquerda está mesmo perdida ao ficar fazendo o jogo dela que é o de confundir e não explicar, como bem dizia o Velho Guerreiro.

    • O PSL já convidou a moça para fazer parte da bancada....E o DEM também. Acho que ela deve mudar de partido. Questão de coerencia....

      • Ela não mudará de partido por vontade própria.
        O Lehman a paga exatamente para isto: ser uma infiltrada no lado progressista para fazer espionagem e levar as informações para o seu dono.

    • Pois é. Minha única surpresa nessa história é saber que teve gente que ficou surpresa em saber que ela votou defendendo o interesse dos seus patrocinadores.

    • Como resposta a uma pergunta enviesada:
      A extrema direita faz tudo pelos seus chefes ... basta um estalar de dedo e a mesma estaria convicta de que gosta de chupar o véío (mijado inclusive) ...

  • Acho que ela e seu patrocinador superestimaram a inteligência e o carisma dela. E subestimaram a inteligência e a opinião fundamentada dos eleitores contrários a essa reforma.
    Acharam que ela era tão inteligente, carismática e poderosa, que seu apoio a essa deforma da previdência faria muita gente balançar em suas convicções.
    Para mim, não passa de uma idiotinha pretensiosa.

  • Querida Chapeuzinho Vermelho, você terá que optar entre a VOVÓ e o LOBO MAU !!!
    TáOkey ???

  • Não existe merenda de graça, diz o velho ditado.

    Essa moça sabe muito bem disso, tem que "beijar" mão de quem colocou dinheiro em sua campanha!

  • Acho que Ciro resolveu “dobrar a aposta”, com a Tabata.

    Mesmo tendo claros sinais, antes da votação da Reforma, de que ela titubeava nos interesses do campo progressista (ver entrevista dela ao Estadão, em abril desse ano), Ciro continuou dando aval, pq ela era badalada na mídia como exemplo de renovação e, ainda por cima, atraía simpatia do empresariado.

    Esperando, aí sim (creio eu), que em momentos cruciais, ela fecharia os temas com o partido, por pressão interna.
    Doce engano.

    E pode se preparar: se ela continuar no PDT, por medo da direção em perder parte do seu fundo partidário, a trairagem vai continuar.

    Afinal, como bem colocado pelo Brito, ela afirma “se livrar das amarras ideológicas” do PDT, mas não se livra, de jeito nenhum, das amarras do movimento dos ricaços.

  • Se ela tiver um mínimo de ética, deve pedir para sair do partido.
    O PDT deve tratá-la com reciprocidade, em termos de consideração e respeito (zero).

  • Bonitinha, mas ordinária. Escolheu um partido, elegeu-se pelas propostas que esse partido DEFENDE, entra através do quociente eleitoral, e depois TRAI o programa do partido e alega, demagoga, "amarras"...Então a CF é "amarras". O respeito aos seus eleitores é "amarras". Isso tem nome, deputada, CANALHICE, FALTA DE CARÁTER, OPORTUNISMO. E Tancredo Neves tinha um nome para vcs: Canalhas, Canalhas, Canalhas!

  • Adoradores do deus Dinheiro, esta praga que assola a humanidade.

Related Post