A Folha dá manchete, em seu site, como se fosse novidade, que “Aras e Lira permanecem em silêncio 48 horas após fala golpista de Bolsonaro” , estranhando que o Procurador Geral da República (responsável por pedir investigações sobre o presidente), e o chefe da Câmara dos Deputados, a quem compete abrir processo por crime de responsabilidade sobre ele, estejam mudos e paralisados.
Lira, Aras e o próprio Bolsonaro são frutos do silêncio – e muito maior que um de 48 horas – omisso e, ainda mais, da histeria cúmplice com que há anos a grande imprensa e boa parte das elites passou a tratar a diversidade ideológica e servir-se do submundo político, dos Aécios e Cunhas para estimular a derrubada do governo então petista.
Fingiram não ver os traços autoritários e selvagens de Bolsonaro em 2018, apoiaram-no escandalosamente quando da reforma da Previdência e só na pandemia, diante do charlatanismo mórbido da inação presidencial começaram a manifestar alguma oposição.
De igual forma, deixaram passar sem oposição a cooptação de militares, religiosos, integrantes das comparações do sistema de Justiça e só depois que um outsider da mídia, o The Intercept, trouxe à luz os diálogos escandalosos da República de Curitiba é que foram se soltando das, digamos, partes baixas de Moro e seus asseclas, a quem jamais, entretanto, trataram como o que de fato foi: um carreirista, que arruinou economia e liberdades em nome de suas aspirações de poder.
Editoriais furiosos, como os que fazem agora à véspera da eleição adiantam pouco perto da deformação moral que produziram na opinião pública, despertando nela os instintos mais primitivos, para lembra a expressão do sórdido Roberto Jefferson.
Nem a imprensa, nem as classes dirigentes brasileiras souberam, sequer, responder às eleições que se aproximavam.
Os movimentos do franco favorito Lula em direção ao centro, trazendo Geraldo Alckmin para a vice, dando esta indicação como penhor de sua disposição de fazer um governo amplo, marcado pela moderação foram recebidos com desdém, absolutamente eclipsados por uma busca midiática por uma “Terceira Via” que não existia, limitada a nulidades como Eduardo Leite e Simone Tebet, além da esperança frustrada desde o início com “chabu” de Moro.
Preferiam sofismar sobre o “Lula não é culpado, mas não foi inocentado” durante meses, deixando de lado que o ex-presidente, estoicamente, permaneceu injustamente preso durante quase 600 dias sem jamais sair das regras de reagir sempre e apenas dentro da lei, ainda que esta fosse manipulada ao ponto de provocar corre-corres ridículos para que nem mesmo decisões que o favoreciam fossem cumpridas.
A mídia brasileira não pode reclamar de ser hoje mais bem tratada por nós, que sempre nos opusemos à sua parcialidade, do que pelos que ela moveu e comoveu com sua histeria, cumprindo a frase profética de Joseph Pultitzer, um dos magnatas da imprensa norte-americana: “Uma imprensa cínica, mercenária, demagógica vai formar, com o tempo, leitores tão baixos quanto ela própria.”