O governo Jair Bolsonaro, que não mandou investigar a denúncia de irregularidades na compra da vacina Covaxin, acaba de anunciar que vai investigar, com toda a dureza, aqueles que fizeram aquela denúncia.
O deputado Luís Miranda e seu irmão, o funcionário Luís Ricardo Miranda, mereceram do presidente a deferência de uma visita em final de semana, na residência oficial. É sinal que lhe mereciam confiança e, diante da suspeita de um negócio irregular (e num tempo como este, negócio com vacinas), era sua obrigação mandar abrir de imediato uma apuração sobre o fato que chegava a seu conhecimento.
Não o fez e, agora, reage com brutal violência à divulgação de um fato que aconteceu, sem provocar reações, a não ser quando vem a público.
E a razão é simples: não há problema algum com negócios desde que não assumam publicamente a aparência de corrupção.
É preciso, claro, tempo e dados para analisar as alegações dos dois lados mas, desde já, é possível usar a máxima do cui prodest de Sêneca: em que aproveitaria a um servidor comissionado do Ministério da Saúde e a um deputado bolsonarista irem levantar suspeitas sobre militares de confiança de Jair Bolsonaro? Em quer lhes daria benefícios, depois, darem conhecer de público que tinham levado isso ao conhecimento presidencial e não souberam de nenhuma iniciativa de apuração?
Os dois Miranda, deputado e servidor, por acaso poderiam ter algum benefício com isso?
Estão, é claro e para usar a expressão da moda, “lascados” e não podiam esperar outra coisa.
A não ser que estejam escalados para um haraquiri para sacrificarem suas vidas para produzir uma falsa acusação e responderem por ela para produzir um “atestado de honestidade” ao presidente, o fato é que derrubaram a última muralha de aprovação de seu “Mito”, a da invulnerabilidade à corrupção.
Num caso evidente de coação à testemunha, a intimidação dos denunciantes foi evidente e brutal.
Tão brutal que talvez não deixe os intimidados senão a de seguir na denúncia e pedir proteção por isso.