Com chamada na capa, o Washington Post traz hoje reportagem de seu correspondente no Brasil, Terence McCoy, contando o que vive o jornalista Gleen Greenwald, sofrendo as ameaças “semioficiais” com que Sérgio Moro insufla os bolsonaristas.
Enquanto eles acham que podem calá-lo com meia dúzia de rojões e uma caixa de som em Paraty, o caso vergonhoso para o Brasil se espalha pelo mundo.
E Greenwald é claro: mesmo que o prendam, publicará todo o material das promiscuidades de Curitiba.
Glenn Greenwald já enfrentou dificuldades
para ser reporter antes. Mas não assim.
Terence McCoy, no The Washington Post
RIO DE JANEIRO – Glenn Greenwald ficou nervoso. Ele tinha outra grande história em andamento, e a atmosfera em torno de seu escritório em casa era frenética: cachorros latindo, 27 câmeras de segurança filmando, grandes homens armados de guarda.
Durante semanas, de uma casa transformada em um bunker, Greenwald publicou alegações lançando dúvidas sobre a imparcialidade da investigação de corrupção que levou à prisão do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e contribuiu para a ascensão do presidente Jair Bolsonaro.
Em dois dias, ele publicaria outra história alegando que o juiz que supervisionou o caso de Lula, Sérgio Moro, herói nacional no Brasil por seu papel na corrupção, havia conspirado com promotores para condená-lo.
“Este material vai sair”, disse ele. “Mesmo que eles me ponham na prisão.”
A perspectiva parecia real o suficiente. Greenwald, o jornalista norte-americano polarizador que ganhou proeminência relatando os programas de vigilância do governo dos EUA expostos por Edward Snowden, havia prometido meses de histórias – um constante vazamento de vazamentos que poderia pôr em perigo a agenda de Bolsonaro. Alguns membros do Congresso pediram sua deportação. Outros o acusaram de cometer um crime. Ameaças de morte estavam rolando.
Mais recentemente, a Polícia Federal, comandada por Moro, hoje ministro da Justiça de Bolsonaro, começou a investigar as finanças de Greenwald em uma investigação que os defensores da imprensa vêem como uma tentativa de silenciá-lo.
As ameaças públicas contra Greenwald representam um teste inicial para o Brasil sob Bolsonaro, o ex-oficial militar de direita que ganhou a presidência no ano passado com apelos ao nacionalismo, homofobia e nostalgia pela ditadura militar de duas décadas do país.
Este governo tolerará denúncias prejudiciais de um jornalista gay? Ou será que vai silenciá-lo, confirmando os temores do potencial de autoritarismo de Bolsonaro?
“Há todas essas perguntas ocultas que encontraram um veículo para expressão nesta história”, disse Greenwald. “É mais do que apenas Sérgio Moro. É sobre o tipo de governo que vamos ter.”
Greenwald mudou-se para o Rio em 2005, depois de conhecer o homem que se tornaria seu marido durante as férias aqui. Na década seguinte, ao abordar questões americanas de longe, ele construiu uma vida brasileira. Seu marido, David Miranda, é um membro socialista do Congresso. Eles adotaram duas crianças brasileiras e abriram um abrigo para cães. Eles agora vivem em uma casa cavernosa, construída em torno de uma pedra gigante, em uma rua arborizada em um condomínio fechado perto de uma montanha.
Suas reportagens e opiniões polêmicas há muito tempo atraem fãs nos Estados Unidos – e também críticos, alguns dos quais ele atacou ferozmente online: “You idiot” é o epíteto favorito no Twitter.
A partir de 2016, no entanto, que ele se tornou uma figura polarizadora também no Brasil. O impeachment da presidente Dilma Rousseff, sucessora ungida de Lula, estava cortando o país em linhas partidárias. Greenwald começou a escrever colunas em português que criticavam os procedimentos. Eles encontraram uma audiência enorme, convencendo-o de que havia espaço aqui para um site de notícias investigativas.
O Intercept Brasil, lançado em agosto de 2016 como um desdobramento da organização de notícias on-line Greenwald co-fundada dois anos antes, juntou-se a uma indústria de mídia que logo seria prejudicada por uma campanha política polarizada, a prisão de Lula e a ascensão de Bolsonaro. O candidato de direita fez ataques à grande mídia um pilar de sua campanha.
“Bolsonaro usa Trump como modelo”, disse Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas, em Austin. “Parte do trumpismo está atacando a imprensa e tendo a imprensa como inimiga. Bolsonaro tentou jogar pelo mesmo manual.
Os partidários de Bolsonaro perseguiram e ameaçaram os verificadores de fatos, dizem os defensores da imprensa . A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo contou quase 62 casos de agressão física contra jornalistas em 2018 em um contexto político.
“O fato de que tivemos que criar um levantamento sistemático de instâncias – uma necessidade que não havia sido percebida até então – mostra que a última campanha foi atípica”, disse a gerente executiva da organização, Marina Iemini Atoji.
Quando Bolsonaro ganhou a eleição, o Repórteres Sem Fronteiras, em Paris, chamou-o de “Uma séria ameaça à liberdade de imprensa e à democracia no Brasil”.
Foi nesse contexto, diz Greenwald, que uma pessoa – ele se recusou a dizer quem – entrou em contato para oferecer informações que enviariam tremores através da ordem política.
Uma figura central no arquivo de materiais que obteve foi Moro, uma das pessoas mais populares do Brasil, visto por muitos como um defensor da probidade pública.
A primeira história do Intercept, publicada no início de junho, desafiou essa narrativa. Alegou que Moro havia trabalhado de forma inadequada com promotores federais para prender Lula, o líder nas eleições presidenciais, limpando o caminho de Bolsonaro para a presidência. Moro negou ter cometido erros.
O relatório gerou respostas que refletiram as divisões do país. Embora a maioria tenha desaprovado suas alegadas comunicações com os promotores durante a investigação “Lava Jato”, as pesquisas mostraram que a maioria continua a apoiá-lo. E Greenwald, que nunca escondeu seu desdém por Bolsonaro, viu-se diante de uma acusação que ouviu antes : que ele é menos um jornalista do que um ativista.
“Ele está muito claramente posicionado no Brasil”, disse Oliver Stuenkel, professor assistente de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. “Muitas pessoas dizem que ele tem uma agenda e ele não é objetivo”.
Logo a história se tornou tanto sobre Greenwald – sua sexualidade, seu casamento com um homem brasileiro, sua condição de estrangeiro – quanto sobre as alegações que o Intercept publicava.
Carlos Bolsonaro, o filho do presidente, divulgou teorias de conspiração e insinuou chamar de “menina” o marido de Greenwald . Uma petição online para a deportação do jornalista acumulou quase 100.000 assinaturas. Mensagens homofóbicas atravessaram as mídias sociais. Moro disse que o Intercept foi “aliado” de “hackers criminosos”.
Na semana passada, o site Antagonista, que tem uma reputação no Brasil como anti-Lula, informou que a polícia federal estava investigando as finanças de Greenwald. As autoridades recusaram-se a confirmar ou negar uma investigação.
“Nossa constituição é muito dura na defesa da liberdade de expressão e imprensa”, disse Leandro Demori, editor executivo da Intercept Brasil. “Mas as nossas instituições são fortes o suficiente para proteger a constituição? Acho que não. Eu realmente não sei. Estamos com medo.
Greenwald está inclinado a concordar. Ele sofreu ameaças e denúncias após as revelações de Snowden. Mas isso parece diferente, ele disse. É mais pessoal.
“Com Snowden, eu era apenas o repórter”, disse Greenwald. “Neste caso, não há fonte identificável, então eles me identificaram pessoalmente, como se eu fosse a pessoa que pegou o material.
“Eu sou um bom alvo. Sou estrangeiro. Eu sou gay. Sou casado com um político socialista.”
Ele olhou para fora por um momento, onde tudo era sol e folhagem. Ele diz que o Brasil ainda é “paraíso”. Mas além das árvores havia muros de concreto, agora recém-fortificados com espirais de arame farpado eletrificado. Atualmente, ele raramente se aventura além de sua barreira, ele disse, por medo de assassinato.
Ainda assim, ele não tem planos de sair.
“Eu não vejo o Brasil como um lugar estrangeiro”, disse ele. “É a minha casa.”
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A perseguição a Gleen - ao menos no exterior - só irá ampliar o alcance e o impacto das publicações sobre a Lavajato. Soa como confissão de culpa. É coisa de quem tem algo a esconder. Belíssimo tiro no pé.
Espero que seja um tiro no pé. Não podemos nos esquecer que o fascismo tropical de hoje é amparado pelo fascismo da direita nos EUA, insuflado por Trump e companhia. E o pior: eles tem o mercado financeiro, atual dono do dinheiro, ao seu lado. Não sei não, mas Paraty começa a me lembrar o putsch da cervejaria em Munique. Minha única esperança é que os fascistas brasileiros são tão cagões quanto estúpidos e talvez não tenham peito para partir para o confronto direto.
Não existe fascismo propriamente dito no Brasil. O que existe são falsistas: punguistas, pilantras, milicianos, canalhinhas, canalhões, alienados, analfabetos políticos, idiotas funcionais, otários, malandros etc etc. Aqui perigosas mesmo são as instituições e o establishment.
Correto!
Independente do que alguns digam "estar a serviço de outros interesses ,etc,etc" não há dúvidas que o cara tem uma CORAGEM FANTÁSTICA.
Se expôr no meio desta matilha de vermes fascistas ,dizendo o que eles não querem ouvir ,sem contar com NENHUM apoio de peso e que esté disposto a se sacrificar para permitir que as informações ,continuem a serem divulgadas ,é para poucos.
Me animo a dizer se parte da massa hoje ciente da realidade tivesse só a metade da coragem deste cara,ELES JÁ ESTARÍAM SANGRANDO.
Enquanto isso ,nós continuamos a sangrar gota por gota esticando nossa agonía,e eles? felizes e fazendo o seu trabalho e cumprindo seus desejos .
A CULPA NÃO É DELES É NOSSA E ESTE CARA ,O GLENN, ESTÁ NOS MOSTRANDO ISSO.
Todo mundo tem interesses de alguma espécie. Donos de veículos de comunicação sempre tem os seus interesses, sejam eles quem forem. O fato é que Glenn é acima de tudo um JORNALISTA e, portanto, divulga suas matérias com base nas informações obtidas. Foi assim que obteve o Pulitzer. Estamos tão desacostumados de ver jornalismo sendo feito que enxergamos chifre em cabeça de cavalo, procurando "Interesses ocultos" em todo canto.
Não sou dos que defendem os "outros interesses" ,quero ir além disso,ele está enfrentando uma massa violenta ,burra e criminosa .É necessário coragem para isso, e é justamente esse fato que devería servir de incentivo para NÓS massa passiva ,para levantar a bunda da cadeira e ir atrás do que É NOSSO!
Concordo plenamente. Gleen é muito corajoso. Fico com vergonha, queria poder fazer alguma coisa, mas não sei o quê.
Glenn precisa de proteção do Estado! Mas quem dirige o Estado hoje? Não posso acreditar que tudo isso esteja ocorrendo neste país que já o sonhamos livre, pacífico e menos desigual.
“a reforma da previdência é perversa e desumana”
se é perversa e é desumana, então
NÃO É REFORMA, É DESTRUIÇÃO!
adotar a narrativa do tiranete foi para a soma de erros que nos levou à derrota.
derrota humilhante, mais uma, por falta de noção de por quê lutamos.
a Luta de Classes se tornou um massacre da Classe Trabalhadora.
sem luta real, pois, diante da tomada de assalto das instituições, não há mais REPÚBLICA, portanto, a luta é de retomada, e essa retomada não se dará por discursos lacradores ou passeatas.
deixamos a miséria de legado para nossos filhos.
ou lutamos.
Beto Mafra
11/07/2019
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ESSA DITADURA É MAIS BURRA E INSANA QUE A ANTERIOR;PERSEGUE CIDADÃO NORTE AMERICANO.
O que vemos hoje é uma extrema direita altamente organizada e financiada por mega empresários que manipulam com sucesso uma classe média alienada e parcela significativa da população mais marginalizada. Em contrapartida, vemos uma esquerda perdida, sem aquela capacidade passada de organizar passeatas, manifestações e grandes paralisações, como greves e movimentos agrários. Isso explica que frente a essa manifestação da direita em Parati não tenha uma de esquerda para dar suporte ou apoio ao evento.
Perdida? Ou vendida?
Perfeito, perfeito e perfeito. Porra não tinha uma faixa se quer das centrais sindicais na esplanada contra a reforma, isso é só um caso. Outra coisa, a tecnologia está aí o pobre e para rico, e não existe nenhum movimento digital informando o povo.
Acrescento que ajudada por hackers. Basta ver como hashtags são erguidas em questão de minutos, evidenciando o uso de robôs. Veja o caso recente do Pavão Misterioso, que maior parte do "apoio" veio do Irã(!).
Se essa ajuda vem da turma do Bannon ou setores corrompidos dentro das áreas de inteligência das FFAA ou áreas de perícia em informática da PF, eis a questão.
Acrescento que ajudada por hackers. Basta ver como hashtags são erguidas em questão de minutos, evidenciando o uso de robôs. Veja o caso recente do Pavão Misterioso, que maior parte do "apoio" veio do Irã(!).
Se essa ajuda vem da turma do Bannon ou setores corrompidos dentro das áreas de inteligência das FFAA ou áreas de perícia em informática da PF, eis a questão.
Acrescento que ajudada por hackers. Basta ver como hashtags são erguidas em questão de minutos, evidenciando o uso de robôs. Veja o caso recente do Pavão Misterioso, que maior parte do "apoio" veio do Irã(!).
Se essa ajuda vem da turma do Bannon ou setores corrompidos dentro das áreas de inteligência das FFAA ou áreas de perícia em informática da PF, eis a questão.
Só tem um detalhe: Somente a classe média e a alta não terão futuro, pois, quem é o maior consumidor deste País são os mais pobres. Você devem ter visto um industrial reclamando que estava sobrando estoque em sua fábrica.
Quanto menos consumo maior a Pirosca,
Eles já atiraram e continuarão dando tiros no pé, e eles não estão nem um pouco preocupados com isso.
O PT, os movimentos sociais são vistos como inimigos a serem ignorados ou abatidos.
Há um conjunto de forças de direita, que se consideram imbatíveis.
E eles são como tanque de guerra. E tem muito a ser entregue para os banqueiros, EUA e por ai afora.
Infelizmente Glenn é mais um.
379 votos não é brincadeira. Foi um massacre.
O povo brasileiro está sendo massacrado diariamente.
O governo Bolso está indo de vento em popa.
Glenn tem que estar blindado em todos sentidos
Está cometendo o mesmo erro que o Lula. Não se deve subestimar a ignorância da maioria da população desse país. Lá fora, ficaria mais seguro e poderia fustigar do mesmo jeito esse pessoal, além disso, marcaria na testa do Bolsonaro e demais a perseguição política típica de ditaduras.