Helena Chagas e a elite que quer reduzir ‘danos’ de Lula lá

Análise da excelente Helena Chagas, n’Os Divergentes, batendo na nota que já foi tangida aqui: a grande mídia e o establishment, cientes de que a vitória de Lula é inevitável, trabalham para que esta só aconteça no 2° turno, tirando força política do ex-presidente e obrigando-o a fazer mais concessões a grupos políticos (e aos econômicos, naturalmente). Vale estar alerta, mesmo que o efeito disso, até agora, seja muito limitado, porque vulnera o país a uma ofensiva bolsonarista, selvagem e imprevisível, nos quase 30 dias que ele ganha de sobrevida.

Vale a leitura:

Establishment quer Lula domesticado

Helena Chagas, n’Os divergentes

Candidatos com 2% nas pesquisas não são alvo de ninguém, e daí a lógica de Simone Tebet – uma senadora articulada – ter, em tese, “ganhado” o debate Band-TVCultura. Pela mesma razão, Ciro Gomes (7%), talvez o mais experiente frequentador de debates da política brasileira nos últimos anos, também foi pouco atacado e saiu-se bem. Num quadro em que Lula lidera com 12 pontos de vantagem sobre Jair Bolsonaro (44% x 32%), segundo o IPEC, e ambos estão muito à frente dos demais, não parece haver possibilidade de qualquer mexida da chamada terceira via alterar o quadro da eleição.

A boa performance de Tebet e Ciro no debate, e sua oscilação positiva nas pesquisas, porém, provocou uma inaudita onda de entusiasmo no establishment, inclusive em setores da mídia. É como se sua modesta ascensão, que teria que se multiplicar muitas vezes em quatro semanas, tivesse o potencial de mudar alguma coisa.

Na prática, o que os setores das elites e da mídia vêem é a possibilidade de um eventual crescimento de Ciro e/ou Tebet, ainda que pequeno, tirar de vez de Lula a possibilidade de vitória no primeiro turno – hoje possível por décimos de pontos na margem de erro, que não dão qualquer segurança ao petista.

Mas por que o establishment quer segundo turno? Porque não quer um Lula poderoso demais, com a força de uma vitória acachapante na primeira rodada, mais livre, leve e solto para governar. Claro, teve e terá que fazer concessões ao centro e à direita, mas se levar a taça em 2 de outubro, com o apoio maciço da sociedade, chegará mais forte ao Planalto.

Situação diferente será a de uma vitória em segundo turno, sempre mais sofrida, em que o candidato é obrigado a ampliar as alianças – inclusive e, sobretudo, com esses setores mais conservadores. Se levar um calor para ganhar de Bolsonaro, Lula pode ter que levar seu discurso mais ao centro ainda, fazendo concessões e adotando propostas de representantes do mercado e do empresariado.

O establishment sabe que Lula vai acabar ganhando mesmo a eleição, mas prefere que seja num segundo turno, domesticado.

Muita atenção, porque, mostra a história, esta é a gente que ganha sempre, inclusive quando perde.

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