Ideal é que não ocorressem mas, com ou sem Lava-Jato, teria de haver corte no plano de investimentos da Petrobras.
Com o dinheiro mais caro no mundo – e vai ficar mais – e o agravamento da redução de seu rating pelas tais agências de classificação de risco,o crédito necessário à manutenção do ritmo seria pesadíssimo.
Mas há outras razões a ponderar, tanto para não considerar tão grande o corte como, em sentido contrário, ver que ele carrega em si notícias ruins e uma notícia tranquilizadora.
A razão de relativizar o tamanho do corte é simples e pode ser alcançada por qualquer pessoa, sem grande esforço: uma companhia que tem petróleo e seus derivados como produto ( e lógico, receita) tem de investir em função do preço que espera receber, tal como seria com bananas ou laranjas.
Embora não represente um cálculo exato, há nisso uma proporção que nos ajuda a raciocinar.
Ano passado, quando se lançou o plano de investimentos, mesmo considerando com valor os 15 milhões em projetos não confirmados – que elevou de 206 para pouco mais de 220 bilhões de dólares o valor total, o preço do petróleo Brent era de 110 dólares por barril.
Logo, os investimentos “valiam” o mesmo que 2 bilhões de barris em cinco anos, o equivalente investir, a cada dia, 1,09 milhão de barris de petróleo.
Agora, com barril do Brent a 62 dólares, os US$ 130 bilhões previstos para investimento até 2020 equivalem a 2,1 bilhões de barris. Ou que a empresa investirá, a cada dia, 1,14 milhão de barris do óleo que produzir.
Claro que este não é o exato retrato, porque não foram considerado, nos dois cálculos, o incremento de produção, o que favoreceria mais o plano anterior do que o atual. Nem o fato de que se espera uma alta nos preços do óleo, enquanto, no ano passado, ao contrário, estimava-se uma pequena queda de valor, que aconteceu antes e em maior escala que qualquer previsão. E, ainda, porque a receita não reproduz, com exatidão, o volume de produção.
Mas ajuda a raciocinar.
E há algo muito grave, que dá ideia do impacto criado pela paralisação do setor produtivo criada pela caça às bruxas da Operação Lava Jato.
Esperava-se um corte nas metas de produção de curto prazo, em razão do rebaixamento dos preços do petróleo, que implicariam ganhos menores com sua exportação em bruto, que se justificaria, por sua vez, como fonte de financiamento da ampliação de nosso parque de refino e da indústria petroquímica em geral.
Mas não na escala que ocorreu.
Pretendia-se dobrar a produção de petróleo no Brasil até 2020 (de 2,1 mil barris/dia para 4,2 mil).
Agora, era certo que este número iria cair, mas menos do que se prevê-se agora: um aumento de 40%, para 2,8 mil barris diários.
E parte expressiva desta queda deve-se à dificuldade dos fornecedores da Petrobras de entregar a tempo instalações e equipamentos.
Grosso modo, é possível dizer que a Lava Jato atrasou em mais de dois anos a exploração de petróleo no Brasil. Um prejuízo centenas ou milhares de vezes maior do que tudo o que, porventura, os ladrões da empresa possam ter desviado.
Não por falta de petróleo, e nem tanto por falta de recursos para investir, mas pela dificuldade de completar a tempo os projetos em curso e a prudente postergação de outros. Todas as áreas que deveriam entrar em produção, entrarão, mas com volume menor do que o previsto.
Esta é a boa notícia: embora se vá adiar a operação ou mesmo vender áreas menos promissoras ou de menor rendimento da extração, a essência do potencial petrolífero brasileiro, o pré-sal, está preservada.
Do investimento da Petrobras, 83% ( US$ 108 milhões) ficarão da área de Exploração e Produção, aquela que o inesquecível Severino Cavalcanti chamava “diretoria que fura poço”. Destes, US$ 64,4 bilhões, 60%, em novos sistemas de produção no Brasil, dos quais 91% no pré-sal.
Segundo o comunicado da empresa à Comissão de Valores Mobiliários, o foco será cumprir os programas exploratórios mínimos. Ou seja, não devolver áreas.
A redução dos investimentos da Petrobras seria um argumento muito forte para os defensores de que a brasileira não tem fôlego para investir na exploração de nosso petróleo. Balela. Exijam que se divulgue o que as petroleiras estrangeiras investiram no Brasil, exceto para comprar blocos ou para pagar a parte que possuem em blocos explorados pela Petrobras – e não vão divulgar – e veremos que não dá para “tapar o buraco da cárie”.
Neste momento de baixa do petróleo, então, até obriga-las a cumprir os compromissos já assumidos será uma luta.
I negócio, agora e quase sempre, é comprar, fazer o fato consumado e garantir que o petróleo será deles.
3 respostas
ATENÇÃO:
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Amanhã, terça-feira, 30 de setembro, o Senado abre uma Comissão Geral para discutir o Projeto de Lei 131/2015 – o PL Serra-Chevron.
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O PL Serra-Chevron é de autoria do senador José Serra (PSDB/SP) e foi feito sob encomenda para beneficiar a Chevron e outras petroleiras estadunidenses, conforme prometido pelo tucano no ano de 2009, segundo Wikileaks.
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Espertalhões são o tipo de gente que mais se multiplicou nesta quadra em que o país cresceu e incluiu. E os espertalhões já estão falando pelas TVs que a Petrobras tem que vender suas refinarias. Compradores certamente já têm. A Petrobras, se não tiver estratégia mais progressista e menos negocista, logo estará reduzidda à metade de sua abrangência. E um setor estratégico que estava controlado pelo Estado, logo estará em mãos internacionais.
URGENTE:
Alguém poderia responder ou perguntar a quantos poderia, se, esses “nobres” senadores não estão incorrendo em INCOMPATIBILIDADE POLÍTICA – que acarreta perda de mandato – quando, com esse projeto, podem estar acumulando função de legislador – legislador (cargo eletivo) da República Federativa do Brasil e ao mesmo tempo legislador (cargo eletivo) de outro Estado? (art. 55, I, CF/1988)