A imagem do comercial de TV do “Posto Ipiranga” de que se apropriou Jair Bolsonaro para definir o papel de Paulo Guedes na área econômica e, na última semana, também Sérgio Moro, na Justiça e Segurança não é a de um posto de abastecimento de combustível, mas o de uma loja de conveniência, aquela onde você encontra o que procura, na hora que tem necessidade.
Ninguém, porém, faz ‘compras do mês’ em lojas de conveniência e também não é em estabelecimentos deste tipo, certamente, que um governo se abastece para definir e executar políticas.
As manifestações de ambos, hoje, são um retrato patético da incapacidade que têm e terão de fazer frente aos desafios de formular programas minimamente viáveis em seus setores.
Guedes, depois de ter de “se virar” para dizer que “não é bem assim” a menção feita por Bolsonaro de que poderia haver uma renegociação da dívida pública – o que é uma heresia para o mercado financeiro – conseguiu a proeza de sugerir “uma prensa” nos parlamentares em final de mandato para aprovar um arremedo de reforma previdenciária:
“O ótimo é inimigo do bom, se eu puder aprovar o bom agora, aprova. É a reforma ideal? Claro que não”, disse. “O presidente tem os votos populares e o Congresso a capacidade de aprovar ou não. Prensa neles. Se perguntar para o futuro ministro, ele está dizendo ‘prensa neles’, pede a reforma, é bom para todo mundo”.
Já era quase impossível que se conseguisse votar algo no mês e meio que resta da legislatura, virou agora completamente impossível. Nem mesmo entregando a Rodrigo Maia a desejada presidência da Câmara será possível obter quorum de 3/5 lá e no Senado, em dois turnos. Algum mis en scene se fará, amanhã, no encontro entre o presidente eleito e Michel Temer, mas não passará disso.
Em outra cena patética, Sérgio Moro só conseguiu apontar como plano para seu “superministério” a ideia de aprovar, até meados de 2019, o seu “pacotão da corrupção”. No resto, ficou procurando transformar em “nuances” de opinião a pauta anticivilização de Bolsonaro, tirando o corpo fora na maioria das questões sob o argumento tautológico de que é o ex-capitão o presidente.
Produziu a piada do ano, aliás, ao dizer que considera Bolsonaro “moderado e sensato” e dizer que não vêm ao caso, por serem “do passado” as apologias da tortura, de assassinatos e da ditadura feitas pelo presidente eleito. Aliás, Moro estava possuído do espírito do perdão, ao dizer que não via problemas no “caixa-2” confesso do futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni: “ele já admitiu e pediu desculpas”.
É bom Sérgio Moro já ir preparando ‘casos’ para exibir como prova de que exerce seu papel de “caçador de corruptos”, porque o de “moderador do Bolsonaro” não tem futuro.
Aliás, está ficando claro que este amontoado que o ex-capitão reuniu não tem futuro, nem ele próprio.
Infelizmente, o Brasil, durante um bom tempo, também não terá.
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se for pra ver incompetência, que seja entre os inimigos. mas nenhuma competência agrega o que falta num coração ruim.
Escritor uruguaio prevê que em dois anos os EUA estarão à esquerda do Brasil:
Escritor uruguaio prevê que em dois anos os EUA estarão à esquerda do Brasil: https://www.pagina12.com.ar/153514-la-timida-reaccion-de-la-izquierda
#LulaLivre
Essa coisa de prensa em deputados prejudicados com as meteóricas 'votações' do PSL não vai colar não, mister Guedes. Os caras vão ficar ainda mais irritados. Vocês não têm nenhum pingo de desconfiometro.
Brito é muito bom para o Brasil e para nós poder apreciar e ver o seu trabalho incansável, sua análise é importante e precisa.
Muito Obrigado!
Quanto ao Bozo, só tenho a dizer: Meu Deus!! Onde chegamos!!!
Brito, acho que não é sensato continuar subestimado a demagogia de direita. Concordo que nao dá pra esperar grandes coisas desta equipe que nao parece ter nenhum alinhamento. Mas não é preciso realizar grandes coisas para conseguir governar com um certo nível de popularidade se souber ser bem demagógico na linha do que ele já foi até agora. Trump não fez nada que preste em dois anos e continua bem cotado, pois vive destas bravatas de imigrantes, briguinha com a imprensa e falando grosso com Irã e China embora não passe muito da retórica.
Eu diria que se Bolsonaro souber trabalhar isso pode muito bem passar quatro ou até oito anos só prendendo uns políticos, fazendo operações em favelas, faando ml a venezuela e aprovando outras medidas demagógicas. Principalmente se a oposição não souber fazer um trabalho sério de construção de uma liderança nova, forte é sem teto de vidro.
Só discordo da parte final.
Com esse Judiciário, ou se luta pelo direito a um julgamento justo da maior liderança popular , Lula, ou o destino da próxima liderança de esquerda "sem teto de vidro" será a prisão.
Correto.
O Brasil com alzheimer. doente terminal.
Acho que vamos ter que analisar de perto a questão salarial do Moro. Pelo que andei analisando os juízes federais podem ganhar até 50.000,000 líquido. O salário de um ministro da república é cerca de 31.000,00 e eles têm direito a auxílio moradia de cerca de 6.000,00, o que resulta por alto em 37.000,00 bruto. Ora, a diferença entre 50.000,00 líquido e 37.000, 00 bruto deve dar mais ou menos a metade. Pergunta que não quer calar: Moro vai ocupar um ministério para ganhar a metade do que ganha? Se ele não rasga dinheiro quem é que vai pagar a outra metade do salário líquido que ganha como juiz federal? Para quem combate a corrupção a ferro e fogo o pagamento dessa fatura tem que ser muito bem explicado.
As diferenças são elefanticamente sutis.
Com Lula: Furlan, Gilberto Gil, Celso Amorim, etc...
Com o Coiso: Guedes, Onyx, Moro, Malta...além dele e do vice...
"Aí eu choro! Uauau!" Galeão Cumbica.
Alguma coisa muito estranha aconteceu nesta eleição.
Com certeza.
Ainda sobre Moro, li uma notícia de 2017, no jornal GGN: 'Professor diz que formação de Moro deve ser investigada'. Pois bem. Além da formação dele eu estou encasquetada com a diferença salarial entre o cargo que ele ocupa e o que vai ocupar.
Na entrevista de Moro, quando falou de Lula mentia descaradamente, pois piscava alucinadamente, muito diferente de outras respostas. Se entregou. Que ele não tinha provas já era sabido, mas que escorregava nos sinais exteriores mostra que sem o cargo de juiz será vulnerável. Ele terá que ir para o STF rápido pois não aguentará a pressão.