Janio: “pararam um país parado”

Janio de Freitas, hoje, detalha a evidência que, ontem, já era possível perceber: o governo nacional entrou em profundo colapso de autoridade e, pior, colapso de perspectivas.

Como o processo eleitoral foi amputado de Lula, todos os diminutos neoprotagonistas de uma eleição sem tendências brigam pelos fiapos de poder que bailam ao vento, diante de um governismo sem chefe e um oposicionismo sem feição.

Janio, com maestria, já resume tido na primeira frase: “Os caminhoneiros param um país parado”.

O que não significa que não irá se mexer. Mais para baixo, ainda.

Greve de caminhoneiros e seus
efeitos são problemas de governo

Janio de Freitas, na Folha

Os caminhoneiros param um país parado. Sua greve atinge o que ainda respira, aos estertores, no dia a dia do país. A lenga-lenga da retomada de crescimento, propagada por uma articulação entre temerosos das eleições e economistas do bolsão neoliberal, já ruíra sob o jorro dos números mais ou menos reais. Como o do desemprego crescente e o da produção industrial em coma.

Greve de caminhoneiros e seus efeitos são problemas de governo. Este, por sua vez, dotado de todos os meios para encaminhar soluções. Eis o que de fato aconteceu: não o governo, mas os presidentes da Câmara e do Senado tomaram a iniciativa de pensar em resoluções que, se capazes de dissolver a greve, ambos fariam aprovar nas respectivas Casas. Presidência, ministérios, Petrobras, trocavam mensagens, marcavam reuniões para o dia seguinte, contrapunham-se em hipóteses e rejeições.

O governo que não chegou a governar proclamou sua inexistência. Temer, o perplexo, fez renúncia branca, com a admitida passagem da responsabilidade do Executivo para o Legislativo. Não foi melhor nem pior para o país, porque, embora melhor que a omissão, foi mais um avanço na bagunça institucional. Como os anteriores, prenúncio de outros.

Mas o passo de Rodrigo Maia e Eunício Oliveira pede cautela na apreciação. Mesmo como resposta devida, e não dada pelo governo, à situação de emergência, é duvidoso que não o inspirasse (também) outra motivação: o proveito eleitoral.

Um, imaginado candidato à Presidência; o outro, já concorrendo ao governo do Ceará. As TVs deram-lhes o ganho, entre grevistas e em mais partes do eleitorado, por sua atitude. São desnecessárias sondagens para saber-se o que Temer recebeu.

Nada muito diferente do que, se lembrado, coube a Henrique Meirelles, agora candidato oficioso do desistente Temer e, até prova contrária, futuro candidato do MDB. O que dá certa força a tal possibilidade é a disposição de Meirelles de pagar sua campanha, deixando a parte que a ela caberia, no Fundo Eleitoral e no MDB, aos candidatos em geral do partido. A cenoura pendente diante do burrico. Mas não só.

A doação da dinheirama ameaça Meirelles de ser mais candidato à cristianização do que à Presidência. Cristianizado, no jargão político, é o candidato que, como Cristiano Machado, se vê sucumbido pela adesão dos correligionários, com a bênção do partido, a outro candidato.

No caso original, o apoio eficaz e indeclarado foi dos políticos do então PSD, de Cristiano, ao favorito e vencedor Getúlio. Engordar os bolsos da campanha e os próprios com a parte alheia não exige acompanhar o doador para o fundo. E, se ele for bem, é só desarmar a traição e viver o pequeno constrangimento de passar por leal.

Fernando Brito:

View Comments (31)

  • Preciso retrato: "diminutos neoprotagonistas de uma eleição sem tendências brigam pelos fiapos de poder que bailam ao vento, diante de um governismo sem chefe e um oposicionismo sem feição"

  • Algo me diz que essa greve de caminhoneiros é o estopim para o descontrole total do país.
    Esse comportamento neoliberal antinacionalista do governo funcionava nos tempos de FHC porque o povo não tinha parâmetros para comparação. Desemprego alto, salários baixos, recessão, crises, desigualdade social, miséria, pareciam ser coisas insuperáveis. Agora o povo sabe que não é. E os coxinhas já se ferraram tanto quanto os mais pobres. Em algum momento, vão dar um basta. Talvez seja esse o momento.
    Talvez o governo tente apelar para o exército, mas não vai funcionar, porque o povo estará unido. O futuro a Deus pertence.

    • É de dar medo mesmo. Quando os militares "restaurarem a ordem" a classe média exultará. Os militares são a guarda da sociedade de classes. Atendem aos interesses dos que estão no alto da pirâmide social, embora a origem social dos militares esteja da classe média para a base da pirâmide. Seremos reconduzidos à condição de colônia americana. Se o alto comando tivesse viés nacionalista, como na Venezuela que os manifestoches tanto abominam, a situação seria outra. O que vemos aqui são generais mudos quanto ao roubo das riquezas e o fim da soberania, e que arreganham os dentes contra as lideranças populares e legítimas (Lula). Doutrinados pela cartilha de Washington. A ausência de capacidade crítica e a ignorância de história das classes dirigentes é desalentadora. Imagine quando implantarem a "escola sem partido". Amiúde penso que não há saída.

  • E nessas circunstâncias cada vez mais a sombra das fardas nos apavoram.

  • Meirelles, candidato de Wall Street, será financiado pela banca international, da qual é zeloso servidor. Financiamento público de campanha!

  • Temer sentou-se para esperar os militares?Ou desistiu de vez?E o dinheiro do Fundo Soberano agora para gastar a rodo vai para onde?Se não vai para a sua campanha, vai para que contas?E eu cada vez mais odeio os que diziam que o governo de Dilma era fraco, desorganizado e incompetente.E corrupto. Não há páreo para esse de agora. E nessas circunstâncias cada vez mais a sombra das fardas nos apavoram.

  • Nessa história tem caroço . A frota de caminhões é estimada em quase dois milhões , apenas estimativamente 20% são motoristas autônomos ( donos dos próprios caminhões ), que alugam para empresa de transporte .Na sua minoria por mais estejam sendo penalizados com as altas do combustível , não colocaria o seu pequeno patrimônio em risco . Esta greve é dos donos de empresas de transportes . Essa turma não é flor que se cheire , vide o ocorrido e quem eram eles e o que defendiam , naquela manifestação durante o governo Dilma . Pelo que se sabe não ocorreu nenhum alerta ou indício de negociação por parte da ANTT ANTES DA DECRETAÇÃO DA GREVE .. O governo e os sistemas de segurança nacionais conhecem a nossa dependência do sistema de transporte para abastecimento e funcionamento do país . Custa a crê que foram surpreendidos . Este jogo , não é teoria da conspiração , me parece mais uma peça do tabuleiro do golpe contra as eleições .

    • O golpe para as próximas eleições já foi dado pela prisão infame do LULA.
      Repare, eles não tem ninguém para o comando do país. Ninguém. Zero. Desastre.
      Mas não haverá como evitar a (i)responsabilidade que assumiram com o golpe.
      Ou anulam o golpe e liberam o LULA ou serão destruídos; pena que destruindo o país antes.

    • Está com cheiro do golpe no Chile de Pinochet contra Allende que começou com greve de caminhoneiros.

  • Os paneleiros, manifestoches e demais idiotas fantasiados de neymar jr ajudaram a ressuscitar Pedro "Apagão" Parente. Pra estes idiotas, os combustíveis deveriam custar o triplo do que custam para gente normal.

  • Acho bom o judiciário, stf e moro que assumiu há muito tempo o comando político (só existe comando político) do país acharem logo a solução para esta greve e suas graves consequências.
    Tiraram um governo e uma presidenta honesta e iam "consertar o país" com os aplausos da globo (na verdade dominados pela globo).
    Cabe a eles, e a não mais ninguém, resolver o problema.
    Mãos a obra senhores!
    Contem com a globo. Se forem exitosos a globo distribuirá medalhas e só vai cobrar mais verbas de propaganda, caso contrário, quando o lucro dela estiver em risco, ela vai entregá-los como culpados do desastre (o que acho que já é).
    E olhe, vem outros piores pela frente. Boa sorte!
    Estamos cobrando.

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