Louçanias de linguagem: do governo FHC não se delata propina. Cita-se

duasmedidas

Não há como escapar.

Ou a delação de Nestor Cerveró é um maço de papel imprestável, onde ele fala de casos de corrupção a torto e a direito mas sem apresentar qualquer indício que possa levar à responsabilização dos corruptos ou os “vazamentos” de sua confissão foram expurgados dos detalhes que o permitissem.

Partindo do princípio de que os repórteres do Estadão e da Organizações Globo, que divulgaram, coincidentemente ambos hoje, o teor da delação, a primeira hipótese deixa muito mal aos senhores promotores – que a negociaram – e ao juiz Moro, que a homologou.

Porque como é que se vai reduzir pena de quem roubou e se dispõe a delatar com – ao menos em parte – com informações vagas, genéricas e sem elementos fáticos para sustentar aquilo que diz?

Pois enquanto estamos a esperar que suas excelências dêem a conhecer não pedacinhos, mas o cartapácio de acusações do ex-diretor-ladrão, ficamos, para dar serventia ao pesado Houaiss  que me habita a estante, na louçania de linguagem com que os dois jornais se esmeraram em descrever a acusação de que “a venda  da Perez Companc (à Petrobras) envolveu pagamento de propina no valor de US$ 100 milhões ao governo de Fernando Henrique Cardoso”.

O verbo é o mesmo, “cita” que, segundo o dicionário é ” citar é “transcrever, referir ou mencionar como autoridade ou exemplo ou em apoio do que se afirma” ou, neste caso,  “mencionar; fazer referência a”.

Bem diferente, claro, de “relata”, aponta”, “revela” ou, como seria de esperar numa delação, “delata”.

Como foram os títulos usados quando as menções de Cerveró foram a Jaques Wagner, tão pouco detalhadas – ou menos, porque nem o nome da empreiteira que teria doado recursos ao candidato diz – quanto no caso dos US$ 100 milhões (ou R$ 1 bi, com a correção de 2002 para cá).

A Fernando Henrique, cita-se.

O português é mesmo a bilaquiana  “última flor do Lácio, inculta e bela/ És, a um tempo, esplendor e sepultura”!

PS. Às seis e vinte da tarde, a Folha, que nada havia publicado, publica a delação. Um doce para quem acertar o verbo do título . É isso mesmo: Ex-diretor da Petrobras, delator cita propina de US$ 100 mi a governo FHC . Cita, de novo? Eu não sei se devo apelar para o camarada Enver Hohxa  ou o líder  Kim Jong-un para celebrar o pluralismo da imprensa brasileira.

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16 respostas

  1. Pois é Fernando, para quem não entendeu. Significa que no caso do Wagner usaram o termo “delação” é, portanto presumível, que estava dentro de um acordo de delação que servirá para ao menos um inquérito, porém uma “mera” citação, no caso de FHC, não leva a presunção de que estava dentro de um acordo de delação e que, portanto, pode ser apenas um “penduricalho” que talvez jamais seja investigado (o que não seria nenhuma novidade em se tratando de “maus feitos” do tucanato).

    Excelente observação meu caro.

    1. E o príncipe disse que não há sequer elementos que permitam “uma verificação”. Ou seja, não há que se investigar. Delete-se a delação do delator, portanto.

  2. … É por essa$$$ &$ outra$$$ que esses VAGABUNDOS [mega]CORRUPTOS do conluio criminoso PSDBosta/DEMo/PIG não permitiram que a última CPI da Petrobras recuasse ao período prévio à 2003!

    Ah BANDIDOS réus confessos!

    $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$

    AÇÃO DE FHC NA ARGENTINA FOI TIDA COMO NEGOCIATA

    A compra do grupo Pérez Companc pela Petrobras no apagar das luzes do governo FHC, numa operação que teria rendido propinas de US$ 100 milhões para o PSDB, segundo o delator Nestor Cerveró, foi duramente criticada à época; analistas de mercado questionavam o valor pago e o fato de a Petrobras investir na Argentina às vésperas de uma desvalorização cambial no País; o então presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Fernando Leite Siqueira, chegou a dizer que a Petrobras, comandada na época por Francisco Gros (à esq.), estava pagando US$ 300 milhões a mais; ficaram satisfeitos o bilionário argentino Gregório Perez Companc e David Zyulbestajn (à dir.), ex-genro de FHC que comandava a Agência Nacional do Petróleo; “Foi uma bela jogada da Petrobras”, disse Zylberstajn; no entanto, as ações da estatal desabaram com a operação

    11 DE JANEIRO DE 2016 ÀS 08:34

    (…)

    FONTE [LÍMPIDA!]: http://www.brasil247.com/pt/247/economia/212776/A%C3%A7%C3%A3o-de-FHC-na-Argentina-foi-tida-como-negociata.htm

  3. Atualizado, governo FHC recebeu R$ 1 bilhão de propina da Petrobras, diz Nestor Cerveró

    SEG, 11/01/2016 – 11:45

    O vazamento só ocorre após busca em gabinete do senador petista Delcídio Amaral, onde documentos citando o ex-presidente tucano foram apreendidos. Cerveró ainda cita o envolvimento do ex-presidente argentino Carlos Menem

    (…)

    FONTE [LÍMPIDA!]: http://jornalggn.com.br/noticia/atualizado-governo-fhc-recebeu-r-1-bilhao-de-propina-da-petrobras-diz-cervero

    1. MESSIAS, talvez a prisão do Delcidio tenha sido uma artimanha da direita para eliminar documentos que comprometessem a gestão FHC quando este (Delcidio) roubava na Petrobrás para o governo do privata. A pergunta que não quer calar – essa negociata argentina na época teve o envolvimento do Delcídio?

  4. e a última flor do fáscio – Veja – vai dar capa?

    e com photoshop dando ar sombrio a esses personagens supostamente envolvidos?

  5. Prezados,

    estamos fartos, todos (até os quase coxinhas),
    e este é o problema:
    a guerra está declarada desde 2003 e o que vemos e sentimos é só recuo, recuo,
    daqui a pouco o ouro (negro) já já vai ser entregue pro bandido,
    a continuar assim veremos o Patropi tal e qual a Argentina de Macri,
    decretando o que bem entender, excretando juízes
    e enterrando os sonhos.
    Que utopia possível com a merda dessa passividade do governo?
    Repetindo: a guerra ( do PIG) está declarada há 12 anos,
    ficaremos com omeletes na Globo e artigos na Folha?
    Afagos no Jô?
    Aguardando a tal “batalha da comunicação?”
    Porque nestes espaços progressistas, apenas repetimos o mesmo — a mesma utopia –,
    tudo bem, e ainda bem,
    mas estamos todos fartos
    entra ano e sai ano e é massacre midiático até…
    o fim.
    Ou o recomeço,
    para a direitada.

  6. Eu já sabia que existia estes bandidos do psdb , só a maldita midia e juízes mal informado não sabia

  7. Brito,
    Você está coberto de razão. Mas, é gentil com o “jornalismo de hoje: ele é escrito em “novilíngua”.
    Como toda ditadura, a da mídia também usa deste artifício para torcer o que diz e enganar seus leitores, que, com o tempo, vão comendo gato por lebre, sem entender porque sofrem tanto.
    E, como no Brasil, governo é o governo federal, a culpa é de quem? Olha a novilíngua aí, gente!

  8. Essa Lava Jato é a vergonha nacional. Parece inverossímil tamanha tendenciosidade. Se esse é o fulcro do Brasil, então estamos todos fritos por dez gerações.O individuo salvou o ano, ou enterrou o século ?

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