Lula, na primeira entrevista na condição de inocente – independente da suspeição de Moro já não há condenações contra ele – mostrou que, se não vai deixar de cultuar acordos e entendimentos, heranças de seu passado sindicalista, está longe de se oferecer, para 2022, como um candidato “Lulinha Paz e Amor”.
Não era preciso que”se lançasse” candidato: ele é, tenha o desejo de sê-lo ou não.
O que era preciso mostrar, o da posição de polo inquestionável da esquerda e que essa é sua posição natural e aquela na qual ele se torna o estuário da insatisfação com o atual presidente.
Não fará a figura do “paizão” compreensivo com os “arrependidos”, nem que vá dourar, com seu peso no povão, a pílula de um fiscalismo e de mais desmonte do Estado, ao contrário.
Não foi concessivo com as privatizações – chegou a avisar para”ter medo” quem se aventurar a comprar patrimônio da Petrobras- com o mercado financeiro especulativo. Mas acenou com conversas com o empresariado, até pré-eleitorais.
Mostrou-se sem rancores dos sofrimento pelos quais passou – as “chibatadas”- mas não em relação aos feitores – Sergio Moro e Deltan Dallagnol.
Mas, sobretudo, mostrou-se preocupado com os problemas dramáticos do cotidiano popular:a pandemia, a vacinação, a elevação dos preços, o desemprego e a fome. Acenou com a experiência de quem fez para mostrar que pode fazer.
Sem deixar de lado a projeção do Brasil no exterior, um dos pontos altos de sua gestão. Citar dirigentes estrangeiros solidários ao seu martírio foi uma forma de ilustrar sua capacidade de retirar o país do isolamento em que se encontra.
Enfim, exibiu um esboço da atuação de governo que teria.
E, para ser governo, é preciso ser candidato. Mas isso é que os franceses chamam de ça va sans dire, aquilo que não precisa ser dito.