Lula tem um papel a cumprir e não é o de ‘franco-atirador’ na web

O Brasil é um país curioso.

Durante mais de um ano e meio enfiaram Lula num cubículo na sede da Polícia Federal de Curitiba, sem poder sequer dar entrevistas, a maior parte do tempo, por decisão do STF, só aparecendo na mídia para acumular outros e mais outros processos judiciais.

Solto, afinal, veio a pandemia e, como todas as pessoas – sobretudo as idosas – teve de voltar para a situação de semiprisão que a pandemia colocou-nos a todos. Não pôde, por isso, fazer aquilo que é seu carisma: as caravanas pelo Brasil profundo, conversando com as pessoas e reacendendo suas ligações telúricas com o Brasil.

Uma ou outra entrevista, sim, mas em geral a jornais estrangeiros, veículos de mídia alternativa e a emissoras de rádio de estados menores ou cidades de porte médio do interior. Da grande mídia, nada ou quase nada.

De algumas semanas para cá, porém, as forças políticas “muy amigas” insistem que Lula vá às redes sociais para falar sobre tudo: pandemia, impeachment, manifestações, CPI, etc, etc, etc..

Não que ele não tenha falado, e várias vezes, sobre estes temas.

Mas parecem querer dele a profusão de manifestações de um “influencer” digital.

Entre os que lhe cobram, há boa parte que o faz de boa-fé, mas há muitos que, falantes na agitação, silenciaram nas horas em que se precisou agir ou fizeram coro a quem, pela politização do Judiciário, abriram espaço para que se instalasse a monstruosidade que temos hoje no Planalto.

E, ainda, aos que até há pouco tempo o acusavam de “aparelhar” a oposição e que, ainda hoje, apoiam a “tese” de que serve “qualquer um” que – tendo ou não qualquer capacidade política de governar um gigante como o Brasil, para ser a tal “3ª via”.

Ainda assim, porém, não haveria impeditivo para que Lula falasse pelos cotovelos não tivesse ele a missão de reconstruir este país e, para isso, não apenas reunir em torno de si o maior leque de forças políticas possível quanto não dar, aos que ficam no irredutível horror a ele e à perspectiva de termos de volta um governo alinhado ao povo mais pobre e à soberania brasileira, lenha para alimentarem as suas fogueiras de ódio.

Lula, aquele que teria, mais que ninguém, o direito de dar vazão a rancores e revanches, por tudo o que passou, é quem mais tem de dar sinais de que não investirá, furioso, contra os adversários.

Mas não o tem, porque não pode deixar de cumprir o seu papel de ponto de reencontro do Brasil com a democracia e o convívio civilizado.

O papel de boquirroto, que fique para outros e temos muitos que tem o physique du rôle para isso. Mas para o lugar de estadista, capaz de reconstruir o Brasil interna e externamente, temos apenas um. Que, por ser tão forte arma, tem de ser preservado e protegido, não por covardia, mas por seu peso decisivo na batalha.

Por isso, as provocações devem passar ao largo e quem quiser ficar na bolha do radicalismo cibernético e nas “tretas” e “lacrações”, que fique.

Lula tem mais o que fazer: fazer o Brasil voltar a ser uma nação alegre, respeitada, que encara suas dificuldades e injustiças sem demagogias, sabendo que a liberdade social, por estas terras, é um processo que não pode nunca mais parar e que, por isso, não deve se esgoelar em corridas de tiro curto.

 

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