Magnolli: o pânico dos militares com Bolsonaro

Demétrio Magnoli, colunista da Folha, está a um milhão de anos-luz de ser considerado um esquerdista ou petralha – distância, claro, que não é obstáculo para bolsominions fanáticos –  que esteja “torcendo” contra o capitão Bolsonaro.

Merece, portanto, redobrada atenção o que escreve hoje, sobre o lado “não tuitável” do atual governo: as suas relações com o círculo militar em que, cada vez mais, está contido.

Destaco alguns trechos:

A demissão de [Gustavo] Bebianno pode ser narrada em dois registros alternativos. Na linguagem do recreio do pré-primário: um chamou o outro de mentiroso, feio e bobo. No idioma compartilhado entre milicianos e facções do crime: um qualificou o outro como traíra, X-9. De um modo ou de outro, o evento veicula uma lição de ciência política: o governo Bolsonaro, na sua versão original, é um experimento patológico destinado a perecer sob o efeito das toxinas empregadas na sua concepção. Os militares finalmente entenderam isso.(…)

Militares que, diz ele, passaram do desprezo com que encaravam o capitão baderneiro para o pragmatismo de seu aproveitamento como aríete para delirios de volta ao poder:

os chefes fardados entusiasmaram-se com uma candidatura que prometia recuperar a estabilidade econômica, exterminar a corrupção e destruir as cidadelas do crime organizado. A velha desconfiança dos políticos profissionais, os ressentimentos nutridos pelas comendas oficiais concedidas a Marighella e Lamarca, o sonho desvairado de restauração da imagem da ditadura militar contribuíram para o imprudente abraço dos militares ao candidato da direita populista.
Do desprezo ao entusiasmo —e deste ao pânico. O clã familiar dos Bolsonaro, permeado por loucas ambições, inclina-se à guerra palaciana permanente. As cliques do baixo clero parlamentar que rodeiam Lorenzoni e Bebianno prometem engolfar o governo em perenes disputas mesquinhas. Os dois ministros nomeados por Olavo de Carvalho, o Bruxo da Virginia, personagens atormentados por moinhos de vento puramente imaginários, fabricam crises fúteis em série. Segundo o diagnóstico dos chefes militares, o governo afunda sozinho na areia movediça sobre a qual apoiou seu edifício improvisado.

Magnoli critica a classificação do Governo como “fascista” – embora não a de autoritário – e chama atenção para sua inorganicidade, aliás, o reverso do que se pode dizer dos militares:

“Fascismo”? Bolsonaro não mobiliza camisas-negras ou falanges, exceto a militância virtual comandada pelo filho Carluxo que vitupera nos subterrâneos da internet. Um paralelo viável não é com Mussolini, mas com Rodrigo Duterte, o populista primitivo das Filipinas que contaminou suas forças policiais com as práticas do vigilantismo. No Brasil, um governo desse tipo está condenado à implosão. Daí, o alerta de pânico ativado pelos generais do Planalto.

Pânico, aí digo eu, que só a muito custo se contém diante da imprudência que nos colocou numa situação delicadíssima, na qual os militares estão diretamente – e a contragosto – envolvidos: a crise na Venezuela.

Tudo isso em conta, não há como deixar de achar lausível a conclusão de Magnoli:

Que ninguém se iluda: está em curso a “intervenção militar” pela qual clamavam os patetas civis extremistas na hora do impeachment.

Fernando Brito:

View Comments (53)

  • Eu acho que o problema maior da milicada são os compromissos de Bolsonaro com os EUA, que estão por trás do golpe e de tudo que veio depois. Nossos milicos querem poder, não se envolver em conflitos. Mas a questão pode ser definida pelo ditado: ajoelhou tem que rezar.

  • Essa guerra vai nos custar caro, e não será nenhum Paulo Guedes que irá resolver esse déficit.

  • Essa guerra vai nos custar caro, e não será nenhum Paulo Guedes que irá resolver esse déficit.

    • Até agora, 16:37, Guaidó e seus manifestantes colombiano/venezuelanos não conseguiram ainda fazer passar pela fronteira sequer um pacote de maizena. Eles passam de mão em mão as caixas com selos dos EEUU, e quando elas chegam ao lado venezuelano são empurradas de volta para a Colômbia por manifestantes venezuelanos, quando não são incendiadas. Parece que os venezuelanos estão rejeitando a tal ajuda como se fosse alguma coisa diabólica. A multidão de membros das Forças Armadas da Venezuela que se esperava que passassem para o lado dos guaidoenses indo para o lado da Colômbia, até agora se resume a treze jovens rapazes não do Exército, mas da Guarda Nacional bolivariana. Todos eles não exprimem sequer um mínimo de emoção ao fazer a suposta deserção, o que é muito estranho.

  • E quando esse articulista de meia tigela vai escrever sobre o papel da imprensa, especialmente o jornal que lhe dá guarida apesar de seus evidentes preconceitos, no golpe e na ascensão da escumalha ao poder?

    • Ele nunca fará isso. Teria de assumir-se golpista, e isso não fará.

    • Não espere isso dele. Magnolli ,dia sim e o outro também, atacava duramente o PT na intenção de ajudar seus parças do P$DB.

    • Nunca, nem ele nem toda a caterva mediática nunca vão admitir seu papel na primeira fila e na janelinha do ônibus chamado do Golpe de Estado. Como diz Mino Carta, .... são piores que seus patrões.

    • O objetivo do golpe lavajateiro era colocar Alckmin no poder mais falta combinar com os bolsominions.

    • Nosssssa....que confusão heim??? Não sei se você elogiou, se criticou. Objetividade não é com você heim???

  • E daí!? Se tem guerra terão que trabalhar, mostrar serviço!? Adeus boa vida de quartel, de mandar recruta e subalterno ralar, de puxar e coçar saco.

    • Deus nos livre!
      Imagina o povo brasileiro ter que pagar as pensões do falecido , para mulher e filhas " Ad eternum ".rs

  • Que essa previsão não se concretize, mas que existem indícios forte, isso sim.

  • Não são fascistas? No conteúdo histórico diria que não, mas por malas razões. O fascismo seria um fenômeno típico do século XX forjado nas condições europeias (ainda que tenha se manifestado também na América ou na Ásia), Nosso país foi incapaz política e socialmente de ultrapassar o século XIX. Seriam então fascistas na forma ou nas manifestações mais epidérmica (intolerância, violência, covardia, etc etc? Certamente. Poderíamos então chamá-los de forma irônica só de FALSISTAS, como batedores de carteira, estafadores que enxergaram uma boa oportunidade e um enorme butim? E que nome poderíamos dar para aqueles que permitiram deliberadamente a ação de uma gangue contratada para bater a carteira e estafar todo um país? Acho que começa a nos faltar palavras para descrever essa realidade. Na falta delas prefiro ficar com as velhas palavras, oligarquia, tirania, vilania, arrivismo, bovarismo, colonialismo, imperialismo, pilhagem, destruição....

    • Na definição de Trostky, o governo Bolsonaro é sim fascista, o seja, o ataque ao mundo do trabalho, quer tirando direitos e conquistas quer destruindo seus instrumentos de luta (ministério do trabalho, sindicatos, etc)

      • Muitos governos atacam o mundo do trabaho, de neoliberais a sociais democratas da terceira via, de ditaduras latino americanas a autocracias africanas, mas o fascismo propriamente dito é um fenômeno tipicamente europeu da primeira metade do século passado. Insisto, nosso caso é mais grave. É como dizia Faoro o caso de uma civilização tolhida em seu desenvolvimento, incapaz de vida comunitária, coletiva, em tudo pre moderna, anterior a todas as transformações cidadãs, democráticas e solidárias.

      • Muitos governos atacam o mundo do trabaho, de neoliberais a sociais democratas da terceira via, de ditaduras latino americanas a autocracias africanas, mas o fascismo propriamente dito é um fenômeno tipicamente europeu da primeira metade do século passado. Insisto, nosso caso é mais grave. É como dizia Faoro o caso de uma civilização tolhida em seu desenvolvimento, incapaz de vida comunitária, coletiva, em tudo pre moderna, anterior a todas as transformações cidadãs, democráticas e solidárias.

        • Existem duas vertentes: uma acha que o fascismo é um fenômeno que aconteceu no passado e não se repetirá. Particularmente discordo mas isto não muda o fato que vivemos um dos momentos mais difíceis de nossa história. E eu particularmente não vejo saída a curto prazo, inclusive e sobretudo porque não temos um partido capaz de mobilizar e liderar as grandes massas. Esse foi o grande erro do PT no seu governo, ao contrário do Chaves, que fez um trabalho magnífico inclusive junto às forças armadas. Apesar da fama do Lula, em parte pelo tamanho e importância do Brasil, cada vez mais me convenço de que o venezuelano foi o grande nome da América Latina nos últimos 100 anos. Um abraço.

          • Também considero como central a necessidade de um partido político, mesmo porque ainda não inventamos outro instrumento de ação e intervenção política. Nós todos não soubemos reconhecer essa importância, nossos adversários no entanto não tinham dúvida do objeto a ser abatido. Ainda acho que a experiência política, social e democrática do Partido dos Trabalhadores foi a mais poderosa construção da esquerda no Brasil e na América Latina. Insisto, nós ainda não reconhecemos isso, nossos adversários sabiam no que atiravam. Não é a toa que se diz que só se dá realmente valor a algo depois que se perde aquilo.

  • O Demétrio está torcendo veementemente para que tal aconteça .
    É um CANALHA !

  • ACABO DE RECEBER UM VÍDEO DO HELICÓPTERO QUE LEVOU O TRAIDOR GUAIDÓ A COLÔMBIA. O PREFIXO É
    REG-FAC-006 DA FORÇA AÉREA COLOMBIANA,ISSO É UMA DECLARAÇÃO DE GUERRA.

  • Ano que vem quero ver os comentários, de certas pessoas que torcem contra o Brasil, vcs ja se deram conta do preço dos combustíveis e do dólar, já começamos bem, e o governo só tem dois meses, o vcs pensam que só tem burro aqui?.

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