Marcelo Rubens Paiva analisa o fracasso dos coxinhas

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(Caminhada dos coxinhas chega a Brasília)

Marcelo Rubens Paiva: Por que o movimento pelo impeachment de Dilma micou

No Viomundo.

O movimento micou

Marcelo Rubens Paiva, no Estadão, sugerido por Artur Scavone

Ações de março vieram com o selo “movimento espontâneo”, apesar da eficiência política e da mistureba ideológica questionáveis. Levaram crise e indagações ao Poder. Repensou-se o País e a inoperante democracia representativa sob regras de um sistema partidário falido, que não é teimosamente reformado.

Nas varandas, a bateção de lata em cada aparição ou menção da cúpula petista, a indignação pela monstruosidade da corrupção e fraudes contábeis, provava que, coxinha ou empada, bairro nobre ou plebeu, havia (há) insatisfação de um grupo social significativo com voz. A lista de paternidade se acotovelou na vitrine do berçário.

“Fora Dilma!” levou um milhão à Paulista (segundo contagem discutível da PM, “a polícia do Alckmin”) ou 210 mil (segundo o Datafolha). Cobriu a avenida de verde e amarelo e obrigou analistas a voltarem aos manuais de ciência política, para confirmar a maturação de uma nova direita.

Grupelhos e siglas até então desconhecidas, mais o desagrado generalizado com a crise econômica que saía do coma forçado, depois da retirada do soro de uma política populista de subsídio a eletrodomésticos, carros, luz e combustível, levaram microfones, celebridades e carros de som ao maior ato político desde as Diretas-Já.

Prometeram uma megamanifestação todos os meses. A de 12 de abril foi menor. A PM, depois de criticada por superestimar a anterior, calculou em 275 mil participantes. O Datafolha continuou apostando nos mesmos 210 mil. A de 17 de maio, micou. O cantor Lobão discursou no vão-livre do Masp para apenas 40 pessoas (segundo a PM), 50 (Datafolha). Dez dias antes, reclamara para Emanuel Bonfim, da Rádio Estadão, que 80% dos seus shows foram cancelados em retaliação à sua nova posição política.

O movimento com intrusos rachou. Corpos estranhos o esvaziaram. Parte do maior beneficiário, o PSDB, retirou o apoio. Seu porta-voz inconteste, o ex-presidente Fernando Henrique, se colocou contrário ao impeachment. Foi chamado de traidor.

As mesmas redes sociais que alavancaram o movimento e serviram de púlpito a um debate burro, polarizado e cheio de ódio, difundiram suas contradições. Um dos líderes do Vem Pra Rua, que defende o fim da corrupção, foi pego num vídeo fraudando o ponto e demitido. Outro manifestante, que foi à avenida em março vestido de amarelo, protestou contra a corrupção e postou “a sociedade não aguenta mais tanta mentira, corrupção, sacanagem, falta de respeito ao povo”, pediu ajuda a amigos 50 dias depois, para retirar da sua carteira infrações de trânsito (oito pontos por desobedecer ao rodízio, dez por estacionar em local proibido e sete por desrespeitar limites de velocidade). Dizia: “Pago bem. Contatos inbox urgente! Rsrsrs”.

Em abril, descobriu-se que Gravataí Merengue, do site Implicante, que publica e compartilha notícias, artigos e vídeos contra o PT, pseudônimo de um blogueiro ativista antipetista, ganhava R$ 70 mil por mês do governo Alckmin.

O “soldado Carvalhal” espalhou em áudio que uma tal inteligência das Forças Armadas recomendava o estoque de mantimentos para a luta que rolaria entre as forças da direita e esquerda na eminente intervenção militar. O Centro de Comunicação Social do Exército teve que vir a público informar que “os áudios veiculados nas mídias sociais não têm origem no Exército Brasileiro”.

Defensores da volta do regime militar podem ser enquadrados no artigo 23 da Lei de Segurança Nacional, ironicamente o suporte ideológico da ditadura militar, em que a própria Dilma foi enquadrada ao ser presa em São Paulo, em 1970. O artigo prevê pena de um a quatro anos de detenção a quem incitar “subversão da ordem política ou social” ou “animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou as instituições civis”.

Um dos líderes dos que pedem intervenção militar, capitão da reserva da Marinha, Sérgio Luiz Zorowich, foi intimado a depor em inquérito da Polícia Federal. Revelou-se que Zorowich, que vinculava a presidente Dilma ao Estado Islâmico e PCC, para quem o impeachment é pouco, era dono de empresas que prestavam serviços à Petrobrás e faliram.

No dia 27 de maio, uns 300 manifestantes concentrados em frente ao Congresso pediam o impeachment. Esperavam 30 mil. Numa faixa se lia “Anistia Nunca Mais!”, “Tortura na Hora Certa”. Recuperou-se um lema da ditadura: “Brasil Ame-o ou Deixe-o!”. Foi o dia em que chegou a Brasília a marcha organizada pelo Movimento Brasil Livre, que caminhou desde São Paulo até a Capital Federal. Tinha mais policiais do que manifestantes.

Seus líderes protocolaram o pedido de impeachment e posaram para uma foto com o presidente do Congresso, Eduardo Cunha, citado na Lava Jato, e Jair Bolsonaro, condenado pela 6.ª Vara Cível do Fórum de Madureira a indenizar em R$ 150 mil por danos morais o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, por causa de declarações contra homossexuais.

Aécio Neves não apareceu para saudar o movimento. Foi chamado de traidor.

Por fim, no dia seguinte, 28 de maio, foi a vez da Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos se reunir com políticos da oposição para pedir a rejeição à taxação de grandes fortunas e impostos sobre heranças. A pauta nunca entrou nas reivindicações dos grupos que foram às ruas. Dois outros grupos, Acorda Brasil e Quero Me Defender, não confirmaram o apoio à não-taxação. O principal grupo da Aliança é o Vem Pra Rua, de empresários e executivos do mercado financeiro.

Uma classe social perdeu privilégios. O que se viu foi um desejo de voltar ao passado, com lemas e temores engavetados na Guerra Fria, como o esquecido “Vai pra Cuba!”, e uma política de concentração de rendas. Mas grande parte sabe que a democracia não tem volta.

O movimento micou. Parte da culpa é dos intrusos. Outra parte percebeu que, na verdade, a direita e seus aliados estão espalhados pelo Poder. Nunca saíram dele. Não faria sentido tirar os empregadores dele, impeachar a patroa.

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13 respostas

  1. Aos jumentos coxinhas selvagens…
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    DESAFIO
    by Ramiro Conceição

    Cheguei a uma crua e incerta verdade:
    nunca saberei quem sou e nem quem é
    o outro, principalmente. É, sou apenas
    aqui um coadjuvante… Tal qual todos.

    Pelos corredores de cada personalidade,
    há portas somente abotoadas. E por fora,
    por toda parte, resta o rabisco da cidade.

    Portanto, parece muito provável
    que nunca saberemos da razão
    do nosso rancor e muito menos
    do porquê do coração às vezes,
    ao mesmo tempo, ser amoroso.

    O que nos resta é a tentativa de organizar uma festa
    ao mistério que se manifesta aos poucos, e a todos.
    Sim, quase com certeza, esse é o desafio da beleza.
    *
    *
    OFERENDA
    by Ramiro Conceição

    Por ser um ser de passagem,
    tal qual rosa de uma roseira,
    preciso inventar um perfume
    que enfeite as nossas mesas.

    Então perfume-se, comadre;
    e, compadre, se embriague.

    1. A LESMA
      by Ramiro Conceição

      Sou lento… muito lento…
      pensando-sentindo tudo!
      Uma pedra para mim
      é um Pão de Açúcar,
      uma palavra, uma odisseia.
      Sim… sou uma lesma
      fantasiada de homem.

      Não sei como fabrico poemas.
      Devo ser uma lesma encantada,
      um bicho-papão em mutação,
      uma espécie de dragão, muito gosmento,
      a ser colado na imaginação das crianças.

      De início, fui uma lesma católica;
      depois, tornei-me uma marxista;
      freudiana; nietzscheana; reichana;
      e hoje sou uma lesma quase feliz,
      uma espécie de catassol aprendiz
      que ama navios perfumados a mar.

      É, agora estou literalmente a ver navios
      que sabem…: a tristeza ou a felicidade
      são migratórios pássaros de passagem.

      Embora lenta… a sabedoria da minha lesma
      ensinou-me que tudo é rápido, muito rápido,
      que o relevante não é a distância percorrida
      porém a profundidade e a altura do calado à
      geração de rastros, na busca de longínquos.

      Melhor do que um milhão de beijos: um único dado.
      Melhor que um milhão de olhares: um único amado.
      Melhor que uma biblioteca inteira: um poema alado.

      Sim,
      meu relógio são relâmpagos!
      A hora incerta dos araras,
      das crianças e das maritacas.

  2. … E a ombudsman da Folha de São Paulo “analisa o fracasso da mesma ‘Folha'”!

    ######################

    O desespero impotente da ombudsman da Folha.

    Por jornalista Paulo Nogueira

  3. … Falando em fracassos dos fascigolpistas e terroristas

    ############################

    DEZ ANOS DEPOIS, UM LIVRO QUE DESNUDA O ‘MENSALÃO’

    “O verdadeiro processo do mensalão” destrincha o escândalo que faz dez anos

    (…)
    Este é um processo que continua, que se desdobra em outros escândalos e se vincula a um processo novo nas democracias, o de criminalizar as forças políticas indesejadas, ao invés de removê-las por atos de força, como no passado, no tempo dos golpes de estado à base de tanques. Na base de sua construção está a violação do princípio da presunção da inocência, que dá lugar à condenação prévia, ao convencimento da opinião pública antes da manifestação dos juízes.
    (…)
    Não só para o partido mas para todos que têm compromisso com a verdade e enxergam a sofisticada cultura da criminalização política que vivemos, são importantes os esforços de João Francisco Haas para contrapor-se à narrativa predominante. Ainda que apenas no futuro elas venham a fazer sentido.
    (…)

    FONTE [LÍMPIDA!]: http://terezacruvinel.com/2015

    1. O LIVRO ‘O VERDADEIRO PROCESSO DO MENSALÃO’

      Obra do advogado João Francisco Haas “revisita em minúcias todo o processo e expõe as verdades, inverdades e meias-verdades distorcidas que proporcionaram ao país ‘o maior escândalo de todos os tempos'”, descreve Tereza Cruvinel, em seu blog no 247; segundo ela, ‘O verdadeiro processo do mensalão’ “dedica maior esforço a desconstruir, com bases em documentos, o pilar central da acusação de Joaquim Barbosa, o de que foram desviados R$ 78,3 milhões do Banco do Brasil para uma agência de Marcos Valério, a DNA, para financiar o pagamento de mensalões a deputados”; a tese foi resumida aos ministros do STF por Barbosa, relator do caso, “como sendo apenas uma grosseira transferência de recursos públicos sem contrapartida para financiar a corrupção de deputados”; jornalista volta a dizer, dez anos depois da denúncia, que o mensalão “fez mal, muito mal” ao País

      7 DE JUNHO DE 2015 ÀS 14:05

      (…)

      FONTE: http://www.brasil247.com/pt/24

  4. … Ainda sobre os fracassos da mídia fascigolpista, terrorista, antinacionalista e corrupta até a enésima geração de [emissoras] afiliadas!
    E de afilhadas(os) também!

    … As organizações criminosas Globo “no caminho da ‘Folha’ dos Frias da ‘ditabranda'”!

    ##################################

    Rede Globo mentiu sobre envolvimento da mídia no escândalo da FIFA

    Contrato da Nike com a CBF rendeu a Ricardo Teixeira US$15 milhões em propina. Outros 15 teriam ido para Hawilla, o afiliado da Rede Globo.

    A mentira de pernas tortas

    Por Antonio Lassance

    07/06/2015

    A Rede Globo não apenas escondeu. Fez pior: mentiu deslavadamente ao dizer que a investigação do FBI sobre o esquema de propinas na FIFA não envolvia as empresas de mídia responsáveis pelas transmissões das copas do mundo de futebol.

    (…)

    FONTE [LÍMPIDA!]: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia/Rede-Globo-mentiu-sobre-envolvimento-da-midia-no-escandalo-da-FIFA/12/33670

    1. “A mentira de pernas tortas…”

      Não. Pernas tortas quem as tinha era o Garrincha, que, a propósito, nunca teve nada a ver com isso.

  5. Excepcional começar segunda-feira e ler um texto cabal , sereno de Marcelo Rubens Paiva, certamente os coxinhas aos poucos vão minguar e voltarão para o abismo ou vácuo.
    Aos poucos voltamos ao trabalho e normalidade , por outro lado os coxinhas construíram um castelo de cartas e não resistiram a um simples assopro, por isso, chora coxinha, chora coxinha!

  6. Depois de uma descrição superficial de tudo o que já se sabia, o autor conclui, aparentemente frustrado, que a mobilização da direita não vingou por causa dos intrusos e da própria direita que supostamente percebeu ser conveniente continuar a se servir do poder.

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