Merval e a “ameaça à democracia” de Lula

No comentário de hoje, na CBN, Merval Pereira, com a arrogância que lhe é peculiar, disse que é “absurdo” Lula se considerar “intocável”, por ter dito – segundo ele para os “blogueiros chapa-branca” – que “duvido que tenha um promotor, delegado, empresário que tenha a coragem de afirmar que eu me envolvi em algo ilícito.”

Merval, eu posso dizer o mesmo; o leitor deste blog pode dizer o mesmo e acredito que milhões de brasileiros possam dizer o mesmo.

Até porque – ao menos para as pessoas criteriosas – acusar alguém de se envolver “em algo ilícito” depende, senão de provas, ao menos de indícios muito robustos.

Do contrário, é caluniar. O que, isto sim, é crime.

E, de fato, uma ameaça à democracia.

Se isso é uma “ameaça”, como diz você em seu comentário, então eu e milhões de pessoas neste país somos “ameaças”, porque nunca nos envolvemos em algo ilícito.

O que ameaça a democracia, Merval, é a sua tese de que “depois que for investigado, se não tiver nada, aí sim, vai poder dizer que foi investigado, que foi perseguido e que não encontraram nada. Aí tudo bem”.

Não, Merval, só se age assim nas ditaduras, onde você vasculha a vida do adversário que passa a ter de provar que é inocente.

Na democracia, existe a presunção da inocência e é inadmissível a investigação de alguém sem acusação formal ou a existência de indício material de crime.

A “suspeita” subjetiva jamais é razão suficiente para isso. Não existe investigação porque se “acha” que alguém “deve” estar “envolvido em algo ilícito”.

E convenhamos, Merval, será que o Dr. Moro e os guapos procuradores do Paraná não teriam feito isso a Lula, se tivessem algo assim?

O seu Direito, Merval, é o Direito do lobo diante do carneiro.

Já que você é “ministro” do STF, vai mesmo em latim a lição de  Fedro, o fabulista romano, dedicada por ele “a todos aqueles que oprimem apenas se escondendo atrás de falsos pretextos”.

Ad rivum eundem Lupus et Agnus venerant siti compulsi: superior stabat Lupus, longeque inferior Agnus: tunc fauce improba latro incitatus jurgii causam intulit. Cur, inquit, turbulentam fecisti mihi istam bibenti?

Qualquer dificuldade, peça ao Michel Temer, ele traduz.

PS. Para nós, mortais, a fábula:

Ao mesmo rio lobo e cordeiro vieram
Levados pela sede. Acima estava o lobo.
E longe, abaixo, o cordeiro. Então com goela cruel
O ávido ladrão causa de disputa suscita:
“Por que” diz “tornaste-me turva
A água de beber?” O lanígero defronte temendo:
“Como posso”, questiona, “fazer o que lastimas, ó lobo?”
“De ti decorre aos meus tragos o líquido”
Repelido, ele, pela força da verdade:
“Antes destes seis meses”, afirmou, “mal me disseste”
Respondeu o cordeiro “Ora, nascido eu não era”
“Por Hércules, então teu pai”, responde ele, “disse-me mal”
E assim agarrado despedaça-o em injusta morte

 

Fernando Brito:

View Comments (29)

  • Para um "imortal", a capacidade de interpretação da língua portuguesa do bigode é decepcionante.

  • Esse moço tem dono. Ladra em nome de seu dono.

    É a vida... Mas muito bem remunerada...

    É tudo uma questão de escolha: falar ou ladrar!!!

  • É mais uma constatação do que eles temem, que Lula seja novamente candidato, o que restou a eles é tentativa de incrimina-lo, custe o que custar. Não vão conseguir. Tentaram o impeachment da Dilma que se inviabilizou pois não há indícios e nem prova. Tentam um passo mais a diante,inviabilizar a volta do Lula. Eles assistiram a entrevista e verificaram que se permitirem que Lula fale para o povão eles estão f........ e entre eles o Merval e a Globo.

  • Por pessoas como Merval, oposicao e cia, as pessoas ilibadas, sao acusadas, desmoralizadas, denegridas, nao respeitar o Lula e Dilma, que foram o governo que mais fez pelo Brasil, e inveja e receio que investigacoes cheguem a eles nao existem polliticos que sejam honestos e acima de qualquer suspeitas como Lula e Dilma , chega de conspiracao com a midia seletiva. Imortal nao e moral!

  • O Merdal sabe traduzir do Latim, afinal ele é membro(!) da ABL.

  • Do Blog P H Amorim
    Wadih Damous fez observações afiadas, aqui reproduzidas de forma não literal:
    - Vivemos a ditadura do senso comum: punir!
    - O espetáculo no PiG gera a exemplaridade, o linchamento – hoje, o Brasil é apenas formalmente democrático.
    Moro faz política - Moro é partidário. - Vazamentos jogam a favor de um projeto político-partidário.
    Há um debate que não se trava no Brasil – o que fazer quando há conflito entre “direitos fundamentais” e “liberdade de expressão”.
    - Nos Estados Unidos, prevalece invariavelmente a “liberdade de expressão”.
    - A menos que um jornalista mude, subverta uma decisão da Justiça, pressione diretamente o júri.
    - Na Corte da União Europeia, não. A liberdade de expressão não pode suprimir um direito fundamental, como a presunção de inocência!
    - Na Europa, um jornalista, em nome da liberdade de expressão não pode contaminar o direito a um “free trial”.
    - Na Áustria, um jornalista foi condenado porque perseguiu um ex-ministro sob julgamento!
    - É aceitável o PiG tomar partido num julgamento e divulgar só versão da acusação?
    - Onde estaria o Merval, na Áustria?

  • A ocultação de prova em prejuízo da defesa de Marcelo Odebrechet, isto é, a ocultação da afirmação categórica de Paulo Roberto Costa de que o acusado não participou de negociações de propina, ultrapassou todos os marcos do Estado de Direito. A manifestação recente do promotor de que o depoimento de Paulo Roberto não serviu à formulação da acusação é absurda e inaceitável. Ora, o depoimento na integra tinha que ser liberado para o advogado, uma vez que este é fundamental para a defesa e não para a acusação. Mesmo que outros delinquentes premiados possam apresentar versão diversa de Paulo Roberto, ainda assim, o depoimento deste tem extrema relevância pois instaura a contradição e em consequência o surgimento da dúvida. Para todo magistrado, é por demais sabido que, desde longínquo passado, face a dúvida não há segurança para prolatar sentença condenatória: " in dubio pro reo", a não ser que se volte aos tempos da inquisição, acreditamos que não esteja ocorrendo, onde os processos eram meramente formados para ornar uma condenação adredemente decidida. É obrigação da OAB manifestar-se neste caso. O trabalho do advogado foi sabotado. Espera-se da Justiça serenidade e imparcialidade e não o esbulho do direito de defesa.

    • O que está ocorrendo no Tribunal do Moro é escandaloso e inaceitável. Onde está a OAB, STF? Dilma diz que nesse tribunal há um ponto fora da curva, na minha opinião esse ponto é o Ministro da Justiça do seu governo, José Eduardo Cardoso.

      • Faço minhas as vossas palavras, Antonio Torres e renato arthur. Nem nos meus piores pensamentos eu imaginei que o Brasil reviveria um período tão ou mais autoritário do que o período militar iniciado em 1964. Mas estamos em regime democrático, o que faz com que esses fatos sejam muito mais graves. Precisamos de um Ministro da Justiça urgentemente.

  • No nosso passado recente tivemos um Carlos Lacerda, hoje temos mais um LIXO MIDIÁTICO GLOBAL, Merval.

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