O fanatismo religioso na política chegou mesmo ao grau de insanidade.
Não bastasse Jair Bolsonaro transformar – com o beneplácito de pastores muito interessados na proximidade com o César – os cultos religiosos em seus comícios eleitorais, agora a sua mulher, Michelle, virou “pregadora” palaciana.
Falou quatro vezes mais tempo que ele, num culto em BH, hoje. E disse que o Palácio do Planalto foi, por muito tempo, “consagrado a demônios, cozinha consagrada a demônios, Planalto consagrado a demônios”.
E que, agora, graças a ela e ao marido, é “consagrado ao Senhor Jesus”.
Não se faça o jogo dos fariseus, que procuram colocar a religião e a fé a serviço de interesses eleitorais, dando importância demais ao fato de Bolsonaro estar se escondendo por detrás do discurso da mulher.
Michelle é apenas uma pessoa transtornada, que, seduzida pela corte de aduladores de seu marido por ter sido colocada na condição de “salvadora” de sua candidatura, tomou-se da soberba e esqueceu que ela “precede à ruína, e o orgulho, à queda.” (Provérbios 16, 18)
A ninguém de boa-fé se pode esperar concordância com o que ela diz, porque seria concordar que o país está numa guerra religiosa (nas suas palavras , “uma guerra do bem contra o mal”).
Muito menos que Jair Bolsonaro é “o rei que governa essa nação”, ainda que sua família, de fato, se assemelhe a uma corte imperial.
Ela não é louca (“”Podem me chamar de fanática, podem me chamar de louca. Eu vou continuar louvando nosso Deus. Vou continuar orando”).
É parte de um plano perverso de divisão do país em “crentes e não crentes” e, portanto, do caráter laico do Estado que é fundamento da democracia.
Aceitar isso é quase o mesmo que aceitar as fogueiras da Inquisição.
Aliás, um bom exemplo de “cozinha do Diabo”.