Com a posse de Simone Tebet, hoje, mais cedo, completa-se o quadro de que a toda hora vale-se a mídia para imaginar uma “guerra intestina” no Governo Lula por ‘pré-candidaturas’ à Presidência em 2026: Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, a própria Tebet e o Ministro da Justiça, Flávio Dino.
Não que os quatro deixem de alimentar a ambição de sucederem Lula, mas porque não é a disputa entre eles que definirá as chances de cada um em tornar-se um candidato viável, mas a capacidade em credenciarem-se como continuadores do que será o governo que se iniciou no domingo se este for muito bem perante a população.
Caso a extrema-direita e o antipetismo doentio continuarem fortes e com poder eleitoral, é obvio que não servirão como alternativa de oposição, pois o apoio que deram (e dão) ao presidente os desqualifica quase eternamente diante desta parcela do eleitorado. Basta olhar para o que ocorreu com Ciro Gomes e se constatará que neste papel não se vai longe.
O que os pode credenciar à posição é exatamente o inverso: o sucesso da administração lulista e, dentro dela, o grau de confiança que conseguirem obter do presidente e o quanto conseguirem significar como auxiliares deste bom desempenho.
De Haddad, evidente, não se duvida da fidelidade a Lula, provada ao longo dos anos e dos desafios políticos que enfrentou em 2018, quando o substituiu na espinhosa missão de fazer frente ao bolsonarismo. Recebeu de Lula o posto mais chave do governo, o Ministério da Fazenda e, com ele, a chance de ser o símbolo de uma retomada econômica que credenciaria a uma candidatura.
Geraldo Alckmin, por seu comportamento desde que aceitou compor a chapa presidencial. O vice-presidente e agora também ministro passou a gozar da inteira confiança de Lula e tem o handicap de ocupar a vice-presidência e pode acrescentar a ele uma demonstração de que é capaz de agregar personagens do mundo empresarial e financeiro normalmente hostis à esquerda. Não é simples e está também ligado ao sucesso econômico do governo e à possibilidade, nada simples, de reverter a má vontade daqueles grupos ao PT, muitíssimo maior que a que a dos petistas para com ele, Alckmin.
Flávio Dino, mesmo sendo quem mais ocupou espaços na mídia nos dias que antecederam a posse e continuar sob holofotes com as notícias ligadas ao desvelamento das barbaridades de Bolsonaro, está muitos passos atrás dos dois em matéria de ligação pessoal com Lula. Vai, é verdade, começando a se tornar uma figura política nacional, mas não tem, até agora, partido para pensar em sustentar uma candidatura.
Simone Tebet, se desejar progredir em suas aspirações, ainda precisa curar o vício da “Terceira Via”. Isso a fez candidata, é verdade, mas não é possível, agora e no governo, pretender ser algo como “nem Bolsonaro, nem Lula”. A realidade mudou e não a levará a lugar algum ficar repetindo que tem “algumas divergências” com a equipe econômica, mesmo se apresentando como alguém que “vai somar” forças para seu sucesso. A maneira com que se referiu a Lula no discurso de posse insinua que está revendo esta posição e certamente o fará, se não cair no canto de sereia de virar mais um “papagaio da responsabilidade fiscal”, como estes que vivem agourando o fracassos nas contas públicas.
É deste quadro que se extrai a “preocupação zero” que tem Lula com as tais supostas divergências dos três integrantes da área da economia de seu governo e com o protagonismo que busca seu Ministro da Justiça.
Ao contrário, sabe que isso significará uma espécie de “trava antibobagem” sobre cada um deles, trazendo a prudência necessária a esta área de governo e induzindo, mais que à disputa, à arbitragem presidencial de suas posições e ações.
Inclusive a das pretensões eleitorais que, como está evidente, é ele quem arbitrará se e quando chegar a hora. Velho amante do futebol, Lula sabe que escalação, só na véspera do jogo.