Nestes tempos de gritaria dos comentaristas econômicos contra os gastos públicos, bem que nós poderíamos substituir a diretoria do Banco Central pela clarividência indubitável da colunista Miriam Leitão.
Ela cravou, hoje cedo, no Bom Dia, Brasil, que o BC vai subir os juros. Não assegura se será em 0,25 ou 0,5%, mas decreta: “De qualquer maneira, os juros sobem amanhã.”
O mais triste é que são maiores as chances de que ela esteja certa que errada.
Porque parece haver um medo generalizado de confrontar o terrorismo inflacionário, que segue de vento em popa na mídia. A inflação continua sendo uma espécie de “cisco no olho” que impede suas visões medíocres de olharem o financiamento público – porque é isso o que são as taxas de juros do BC – como ferramenta de políticas econômicas de médio e longo prazo.
Dêem uma olhada e vejam se o Fed ou o Banco Central Europeu ficam mudando taxas de juros de dois em dois meses e a cada subida de índice de inflação.
Aqui, a inflação não saiu de flutuação fixada pelo próprio BC e não tem uma tendência altista que seja consolidada. Mesmo assim, basta o mercado prever que ela vá aumentar, nem que seja 0,1%, para os “juristas da economia” gritarem por mais juros.
Como não há dia que se passe sem que ataquem a política de investimentos do Governo, da Petrobras e do BNDES.
Por isso, não houve nenhum destaque para um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, sobre perspectivas de desenvolvimento mundial, onde o Brasil “é fartamente citado como exemplo de boas práticas de políticas industriais eficazes”, segundo artigo publicado no Valor pelo professor Mauro Borges Lemos, da UFMG. Segundo ele, o país está plenamente alinhado às recomendações do OCDE:
“1) construção de legitimidade institucional para políticas industriais de longo prazo (em vez de resultado de curto prazo, a maioria das medidas do PBM é de longa maturação); 2) construção de políticas industriais baseadas em alianças público-privado (exatamente o desenho do sistema de gestão do PBM); 3) abertura de espaço político institucional para a emergência de “novos setores” críticos para a competitividade (convergente com a “criação de novas competências” do PBM); 4) garantia de financiamento estável e de longo prazo para pesquisa e desenvolvimento (como prevê o recém lançado “Inova Empresa”); 5) reconstrução de capacidades em países onde as instituições de política industrial foram desmanteladas (caso típico do Brasil, em que já foi voz corrente que a “melhor política industrial é não ter política industrial”).
PBM, para quem não identificou, é o Plano Brasil Maior, do Governo Federal, aquele que, segundo o ínclito tucano Álvaro Dias achou “cansativo” votar no Senado.
Bem, com esse nível de análise econômica, nada impediria a gente de tomar providências para economizar dinheiro. Sairiam o IBGE, com seus índices econômicos, e entrariam o Boletim Focus, onde os analistas dos bancos fazem previsões sobre tudo, com direito a manchetes semanais, e Alexandre Tombini, presidente do BC que se comportou mal, ano passado, quando fez a traquinagem de baixar os juros contra a vontade da imprensa.
Vamos ver se a maioria do Copom, que vai decidir amanhã sobre a taxa de juros, lê análises e indicadores econômicos ou apenas os colunistas, como Míriam Leitão.
2 respostas
Engraçado que a inflação sobre na mídia, mas meus produtos teve seus preços reajustados para baixo para não perdermos venda. Tem alguma coisa muito errada nessa história toda.
Xô ave de mau agouro!!
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