Mórbida semelhança

Separados e às turras desde o início de seus governos, Wilson Witzel e Jair Bolsonaro saíram da inexpressividade política para a vitória eleitoral montados no mesmo burro xucro do moralismo e da apologia do policialismo como solução para os problemas do Rio de Janeiro e do Brasil.

Entre o “mirar na cabecinha” e o “fazer arminha” as diferenças eram poucas e representavam a mesma promessa de que uma polícia letal e o cidadão fortemente armado seriam resposta eficaz contra a violência.

E que ambos, como ex-juiz e ex-militar iriam colocar ordem num Rio de Janeiro e num Brasil que, diziam, estavam em crise por causa da corrupção de governantes anteriores.

Como quase sempre acontece, o discurso da moralidade funcionava como capa da sordidez de gente sempre ávida de vantagens e pecúnias pessoais.

Bolsonaro, o irmão mais velho, não assumiu pessoalmente o parentesco, mas o fez expressamente ao colocar o filho Flávio como fiel escudeiro de Witzel, o que o próprio “01” admite.

Apesar de nunca ter tido o apoio do presidenciável do PSL, Witzel contou com a presença do senador eleito mais votado do Rio, Flávio Bolsonaro (PSL), em atos de sua campanha. Reportagem do UOL, logo após a eleição contava como era o “tal pai, tal Witzel”:

Apoiadores do presidenciável também pediram voto para Witzel em redes sociais e palanques, como foi o caso do deputado estadual eleito Rodrigo Amorim (PSL), o mais bem votado do Rio de Janeiro. A campanha de Witzel chegou a pagar anúncio no Google que associava o ex-juiz ao sobrenome Bolsonaro. Quando se digitava “Bolsonaro” no buscador, encontrava-se um link com a chamada “Bolsonaro apoia Witzel”. Somente ao clicar, o eleitor entendia que o apoio era de Flávio, e não do pai dele Jair Bolsonaro.
Também foram distribuídos panfletos com imagens de Witzel e Jair. As propostas e discursos de Witzel também buscam o máximo de proximidade com Bolsonaro. Se o capitão reformado defendia segurança jurídica para policiais em caso de mortes em confrontos, o candidato do PSC seguia a mesma linha e ia mais longe ao defender o “abate” de criminosos armados com fuzil.
Se Bolsonaro pregava a implantação de escolas militares pelo país, Witzel fazia a mesma promessa para o Rio. Se o capitão reformado falava em Deus, o candidato do PSC também recorria a perfil religioso. O governador eleito prometeu ainda expandir o número de clubes de tiro como apoio à proposta de Bolsonaro de flexibilizar o Estatuto do Desarmamento com o propósito de facilitar a posse de arma à população.
Até a proposta encampada por Bolsonaro Escola sem Partido foi citada no último debate Witzel x Paes, na TV Globo. O discurso contra a corrupção foi outro ponto em comum, além da imagem de candidato de fora do sistema.

Sem a cobertura judicial com que conta Bolsonaro, em seu poder maior, e jurado de morte pelo presidente, que não tolerou o delírio presidenciável do ex-juiz Witzel (não foi o único ex-juiz a sofre disso, registre-se), o governador do Rio não conseguiu que seus mal feitos fossem vistos em câmera lenta, como os da família presidencial.

O pai, atribuindo a ele a desgraça do filho com o MP e a polícia estadual, não hesitou.

Mirou bem na cabecinha e está lá o corpo político de Witzel, estendido no chão.

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