Sem gravata, lendo um discurso projetado em teleprompters de acrílico, Sérgio Moro lançou-se formalmente à política eleitoral hoje, na sua filiação ao Podemos, num espetáculo superproduzido onde faltava, como é natural, gente do povo.
Mas foi a ele que Moro apelou, num discurso que se iniciou de um modo bizarro: o ex-juiz confessou que sua voz era desagradável mas que era ela que o Brasil precisava ouvir.
Depois, descreveu sua santidade, seu combate ao crime em todas as suas formas – traficantes, ladrões de banco, corruptos…- e seu sacrifício ao ir para o governo – segundo ele, um governo que tinha a esperança de todos os brasileiros “de bem” – para dedicar-se à causa do combate à corrupção, para o qual diz que lhe faltou apoio do governo.
Não se sabe em quê, porque durante mais de um ano teve muito poder e apoio para mandar ao Congresso o seu “pacote anticrime”, que não empolgou ninguém e morreu de inanição e acabou gerando o “juiz de garantias”, que irritou o ex-herói e foi, providencial e vergonhosamente suspenso pelo “amigão” Luiz Fux.
Mais irônico ainda foi Moro, cinicamente, lamentar o desemprego, do qual ele foi um dos principais causadores, ao destruir empreiteiras, estaleiros e várias outras empresas, mandando para a rua centenas de milhares de trabalhadores diretos e mais de um milhão em empregos indiretos.
O cúmulo, porém, foi o tom de “salvador da pátria” desinteressado:
Nunca tive ambições políticas, quero apenas ajudar. Se, para tanto, for necessário assumir a liderança nesse projeto, meu nome sempre estará à disposição do povo brasileiro.
O sujeito pensa ser D. Pedro I no Dia do Fico, só pode.
Tudo é falso, artificial, a gravata ausente a sugerir que o medíocre Clark Kent está em meio à metamorfose para tornar-se o Super-Homem que vai segurar o trem no ar e prender todos os vilões de Metrópolis.
Espera que os eleitores de extrema-direita devolvam-lhe os superpoderes que teve contra Lula, mas agora a história é outra.
Moro virou um perdedor e perdedores não cabem no papel de herói.
Com todos os salamaleques que recebeu de uma plateia onde faltavam justamente os políticos de que agora ele precisa, a volta de Moro foi, para o tamanho que ele imagina ainda ter, um fiasco.