Motociata patética

Orlando, capital do Disney World, recebe daqui a pouco a motociata de Jair Bolsonaro, um espetáculo poucas vezes tão expressivo de uma sub-elite que vive no mundo da fantasia.

Não importa que o país esteja mergulhado numa profusão de problemas, medido num escândalo trágico de violência – aparentemente a poucas horas de explodir tragicamente – ou que seja inusitada uma manifestação eleitoral no exterior.

Vamos ter Um Pateta na terra do Mickey [que] faz motociata para Brasil passar mais vergonha, título do artigo do colega Ricardo Kotscho, no UOL, que torna inevitável a ilustração do post.

Restou ao nosso capitão o papel de Pateta deslumbrado, pilotando uma motocicleta para lugar nenhum, no mundo encantado de Walt Disney, enquanto no seu país 33 milhões de pessoas passam fome todos os dias e 5% dos mais pobres sobrevivem com R$ 1,30 de renda por dia, mas isso não é problema dele. Se lhe perguntarem, dirá: “E daí?, eu não sou cozinheiro…”

Quem pode achar que estes milhões de pessoas existem, depois de ouvir Bolsonaro vangloriar-se de que somos “o celeiro do mundo” e “alimentamos 1 bilhão de pessoas”, embora entre estes não estejam aqueles milhões de compatriotas?

Ou que a Amazônia é a área mais protegida do mundo, depois que um órgão do próprio governo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, revela que 900 km² de área de floresta estava “sob alerta de desmatamento” em maio e este é um número prévio, que costuma ficar bem atrás dos definitivos, de apuração mais demorada.

Que nada! Devemos brincar de desfilar de moto, no momento em que os peritos verificam se o material “aparentemente humano” encontrado pela Polícia Federal é do indigenista e do jornalista desaparecidos.

Acho que devemos, eu e o Kotscho, desculpas ao Pateta.

Quem estará desfilando de moto não é ele, é o Patético.

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