Na prática, a extinção da CLT, por Nilson Lage

2017clt

O Brasil tem o costume de tornar obsoletas leis sociais sem revogá-las.

Quando criou o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço, em 1966, o então nascente regime militar não revogou o instituto anterior da estabilidade, mas tornou o novo sistema optativo – optatório, diziam os humoristas da piada pronta, embora sem graça: quem não optasse não obteria emprego.

Fizeram algo parecido, agora, com a Consolidação das Leis do Trabalho. Nos 74 anos de vigência que completou em 1° de maio passado, ela foi alterada 52 vezes; desta vez, porém, tem-se por certo que as mudanças, de tão radicais, na prática a extinguem.

Nas próximas semanas ou meses, outro pilar da organização do trabalho no Brasil, a aposentadoria dos trabalhadores, deverá sofrer a mudança mais profunda desde que, na sequência da implantação do Fundo de Garantia, os institutos de previdência das categorias profissionais (comerciários, industriários, marítimos etc.), fundiram no INPS, sigla que mudou para INSS quando a palavra “seguridade” substituiu “previdência”
.
Em ambos os casos, as medidas que estão sendo tomadas agora alteram critérios fixados ao longo do tempo por gestores políticos de linhas divergentes: a CLT, por exemplo, resultou de um decreto-lei de Getúlio Vargas, na vigência do Estado Novo; a extensão da previdência aos trabalhadores rurais, que se pretende, agora, alterar radicalmente, é criação do regime militar. São décadas de leis, portarias e jurisprudência que decaem.

A razão alegada é que, suprimidos direitos dos trabalhadores, empresários investirão mais na produção. Como o consumo interno tenderá a encolher em decorrência da perda desses mesmos direitos, trata-se de aposta nas exportações e na substituição de importações. Em ambos os casos, é improvável que aconteça: a competitividade depende cada vez menos do custo da mão de obra, a transferência da base industrial para o Oriente é algo de difícil reversão e a globalização limita a possibilidade de proteção cambial ou alfandegária.

Desestabilizadas as relações de trabalho, há preocupações com a segurança interna, que se manifestam na projetada transformação das forças armadas em polícia de segunda linha, destinada a vigiar fronteiras e conter as anárquicas rebeliões e ondas criminais previstas nas cidades.

Dez anos após o craque em câmara lenta de 2008, a elite econômica que comanda a política no Brasil fez um lance arriscado, apostando em um modelo – o da desregulamentação neoliberal, no estilo de Margareth Thatcher e Ronald Reagan – que ainda é contestado no mundo todo.

Do ponto de vista da política interna, é uma vitória da oligarquia de São Paulo, que se vinga de Getúlio Vargas e demole sua obra política, que moldou o Brasil atual.

Do ponto de vista geopolítico, uma vitória do chamado Ocidente contra as forças internas e externas que o contestam.

Do ponto de vista do país, o fim de um projeto de diálogo entre as classes sociais mediado pelo Estado.

Do ponto de vista dos trabalhadores, um mergulho na incerteza e, talvez, um chamado à luta.

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7 respostas

  1. Ao sr. Luciano: sempre ouvi dizer que para entrar em Colégios Militares era necessário ser inteligente; mais um mito desmentido pela realidade.

  2. ….”Do ponto de vista dos trabalhadores, um mergulho na incerteza e, talvez, um chamado à luta”. Quem que vai a luta ? Os trabalhadores ? . As coisas tem ficar piores do estão e com bastante força , para um trabalhador ou ex trabalhador ( desempregado )deixar o sofá e sair de frente da TV ( líder ) e ir para rua . Os carneirinhos domesticados terão que saber a opinião do Jornal Nacional para botar o pezinho na rua . Agora com a maioria da população comendo ovo ( o que tem de mais barato para mistura )no café da manhã , almoço , e jantar . Além de carneiros , temos a geração galinha . Somado se aos burros , o Brasil está totalmente domesticado .

    1. Esse Luciano M Silva édesconhecedor da história vir dizer que a era fhc teve pleno emprego kkkkkkkk FHC( o verdadeiro “encantador de jumentos”) quebrou o país 3 vezes!! Pra ativar a memória dele:

      “O jornalista Paulo Henrique Amorim divulgou em seu blog, Conversa afiada, que o Brasil chegou a bater recorde de desemprego durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Para ativar a memória dos brasileiros, o jornalista, hoje na TV Record, publicou matéria do jornal Folha de S.Paulo revelando que, no ano 2000, o Brasil era o segundo do mundo em taxa de desemprego, quando a avaliação era de números absolutos, com 11,45 milhões de pessoas desocupadas. O país perdia apenas para a Índia, então com 41,3 milhões de desempregados.(…) ” (http://www.bancariosrio.org.br/2013/ultimas-noticias/item/27057-brasil-bateu-recorde-de-desemprego-na-era-fhc)

      E segue o link ai pros defensores do modelo lava jato:

      https://www.brasildefato.com.br/2017/07/19/belluzzo-lava-jato-e-carne-fraca-produziram-5-a-7-milhoes-de-desempregados/

  3. Fui aluno do CMC, e não aguentei ficar, está turma do acordar mais cedo, pra ficar mais tempo sem fazer nada dos militares só presta pra isso, lá não pode pensar só obedecer, só servem pra capachos mesmo.

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