Não foi fraqueza, foi fascismo. Por José Sardá*

Durante o velório do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no final da tarde de hoje (ontem), no hall da Reitoria da UFSC, uma dedução predominou: nem durante a ditadura militar a Universidade foi tão chacoteada como agora pela justiça federal e Polícia Federal. A vice-reitora Alacoque Erdmann, resumiu a tragédia: “Luiz Carlos Cancellier deu seu sangue pela UFSC”.

Sim, claro. Na entrevista que concedeu há cerca de uma semana, Luiz Carlos afirmou a Moacir Pereira: nunca fui tão humilhado.

Vamos refletir. O reitor foi preso e conduzido à penitenciária da Agronômica, igualado a bandidos e corruptos, sob a acusação de ter obstruído a investigação judicial. Nenhum reitor foi sequer admoestado durante a ditadura e hoje estamos assistindo à prepotência do judiciário, que se acha no direito de governar a Nação pela imposição de julgamentos pessoais ou de grupos de circunstâncias sociais e políticas brasileiras.

O que é obstruir a justiça? Ora, há bandidos governando dentro de penitenciárias o tráfico de drogas no Brasil, e a justiça entende que o reitor pode obstruir as ações de investigação dentro da UFSC. Cinematográfico ou circense?

Conheci Luiz Carlos em 1981, quando foi iniciar sua vida jornalística em O Estado. A sua jornada foi brilhante. Paralelo ao jornalismo, cursou Direito e ingressou na carreira de professor, crescendo como diretor do Departamento Jurídico e diretor do Centro de Ciência Jurídicas da UFSC. Há cerca de dois anos, em um encontro casual, ele me confessou: “vou trabalhar por um candidato a reitor que recupere a dignidade da UFSC”. O seu movimento culminou com uma decisão consensual de apoio ao seu nome. E ele se elegeu com sinais vitoriosos de mudanças.

Aos poucos, ao lado da professora Alacoque Erdmann, Luiz Carlos restaurou o clima de diálogo, reciprocidade de confiança e de relações com a sociedade.

De repente, é preso, como em uma situação de guerra, de ditadura. Levado à Penitenciária da Agronômica, Luiz Carlos perde-se na agressão a um mandato que deveria ser, sobretudo, considerado pela autonomia e respeitabilidade de uma universidade. Mas, não. Dane-se a instituição! O que vale são os novos princípios da justiça e da Polícia Federal, que poderiam ter exigido de Luiz Carlos o comparecimento a uma audiência, prestação de provas, etc.etc. Mas, não. Preferiram humilhá-lo, ou seja, dizer-lhe que a justiça e a PF estão bem acima das instituições de ensino. Ou seja, uma caça a bruxas como se toda a Nação precisasse provar que não é corrupta. Do geral para o particular, todo o brasileiro é por natureza corrupto. E viva a autoridade judicial e policial que tem os holofotes e aplausos populares.

Até que prove o contrário, Luiz Carlos, o Cao, não suportou a humilhação, tanto a ele quanto à UFSC.
Sintam-se como Cao: a imprensa dizendo que ele estava sendo acusado de desvio de recursos. Aliás, os jornais Folha de S. Paulo e O Globo, e seus sites de hoje, repetem isso ao anunciar a sua morte.

Não se trata de fraqueza humana, mas, sobretudo, de uma defesa – quem sabe frágil – da sua moral, dignidade e do direito que a PF e a justiça não lhe concederam, de provar a sua inocência antes de ser jogado numa prisão, na mesma vala de Eduardo Cunha, Joesly Batista, etc.etc.etc.

A ditadura de hoje não é militar. É judiciária. O desembargado Lédio Rosa tem razão: “Mataram meu amigo Cao. E não haverá responsável. Isso é fascismo da pior espécie”.

* Laudelino José Sardá é jornalista e professor da Unisul, Universidade do Sul de Santa Catarinae publicou o texto em seu Facebook.

 

Fernando Brito:

View Comments (48)

  • Que sua ida de forma tão doída mas CONSCIENTE ,DESPERTE aos que inda não ENTENDERAM que sem nós : não haverá ÉTICA e EQUILÍBRIO precisamos SIM despir os medos e UNIR iDÉIAS e IDEAIS num MESMO FITO: NOSSO POVO<NOSSO PAÍS nosso Momento PLANETÁRIO não é para FRACOS e OMISSOS e muito menos para os MENTIROSOS que deturpam a verdade para denegrirem e prejudicarem...

    • A exemplo do que fizeram com o Gushikem. Esta na hora de um basta. Que e inicie eta discussão e debate nas Universidades Federais.

      Quando prendem para delatarem é certo? Esta e tantas outras que estamos assistindo tem que ser debatido. Não contem com a rede Globo.

  • A globo é um cancro com várias metástases que atingem o MPF, o STF, a PF e as Forças Armadas. Tudo bichada. O Brasil está sufocado com tanto mal. Não temos furacões, mas tem o Temer e quadrilha por aqui. Não temos atiradores assassinos como os americanos, mas temos seus agentes arregimentados nas nossas instituições públicas. Que os amigos e companheiros de universidade levem à família do reitor nossa solidariedade. Que as Universidades federais façam todas uma homenagem sincronizada ao reitor Luiz Carlos Cancellier no sétimo dia de sua morte. DA defesa de um de nós abatido de forma injusta dependerá a defesa de nossas universidades. Não é exagero. Isso é só o começo.

  • Essa foi uma tragédia anunciada. Em algum momento, uma pessoa mais sensível e intolerante à humilhação imposta pelos fascistas, seria quebrada ao meio. Assim como a PF e os "juízes" da ditadura brasileira atual, assim agiu Mussolini na Itália, com o óleo de rícino empurrado garganta abaixo de qualquer "suspeito". O reitor não era acusado de desvio de verbas, ocorrido (se ficar provado que ocorreu) dez anos antes de sua gestão. Ele foi acusado, no torpe espetáculo circense da mídia e do judiciário brasileiro, de "obstaculizar" as investigações. Porque tentou obter acesso às acusações, saber o que ocorria. Mas a polícia federal fascista, coadjuvante de um judiciário fascista, não admite isso. Eles fazem o que querem, acusam e investigam seletivamente, às escondidas, mantém os processos a sete chaves, apavoram os cidadãos, ouvem as delações que bem entendem, subjugam advogados, espionam e rasgam a Constituição diariamente. Jogar o reitor e outros professores nas masmorras, sem que houvesse acusação formal e sem que fossem ouvidos, despi-los e humilha-los, ignorar que seria necessário julga-los antes de condena-los. E tudo isso divulgado à opinião pública com o maior barulho possível, para que os juízes e seus delegados amestrados pudessem posar para as câmeras de tevê. Quem são os criminosos fascistas aqui? e quem irá puni-los?

  • Devo creditar o brutal assassinato do sr.Reitor a delegada da PF lavajatista ? É isso Dra marena?

    • Não só à delegada...:
      "Não há dúvida de que uma grande parte da responsabilidade pela morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo cabe ao Judiciário, na figura da juíza Janaina Cassol Machado. Ela decretou uma prisão absolutamente desnecessária, cujo único objetivo discernível era abater moralmente e humilhar. Uma prisão decretada antes de que o preso tivesse sequer sido convocado a prestar esclarecimentos! A prisão foi revogada, mas a juíza manteve o reitor incomunicável, a despeito de um claro diagnóstico de depressão. Estava impedido de entrar no campus e, fora advogados e médicos, só podia falar com seu irmão, o jornalista Júlio Cancellier. Quando concedeu que ele retomasse algumas atividades acadêmicas, foi introduzindo uma nova humilhação: sua presença na universidade seria estritamente cronometrada, duas horas e meia, como se fosse um elemento tóxico ou radioativo.
      Em suma: um exemplo perfeito da prepotência, da insensibilidade e do autoritarismo que, infelizmente, grassam no Judiciário brasileiro. Pergunto: uma vez que esse evidente abuso de poder levou a consequências tão trágicas, haverá algum tipo de punição à juíza?" (Luis Felipe Miguel)

      • Haverá, sim, rigorosas "punições": ou será promovida ou então aposentada com míseros 40, 50 mil de vencimentos.

  • Minha pergunta é. Até quando e até aonde vai o retrocesso a la idade media?

  • Devo creditar o brutal assassinato do sr. Reitor a lavajatista delegada da pf ? É isso Dra marena ?

  • O Império Romano quando queria ostentar seu poderio aos povos subjugados, enviava suas legiões as portas da cidade e ficava durante meses e até anos, NÃO ATACAVA, só para amedrontar e intimidar aqueles que já eram humilhados. Impressionante como isso funciona!

  • Eu quero ver o que vcs vão falar se for confirmado que foi crime passional e o namorado aparecer confessando o crime.
    Dilter Folha
    Brasil Acorda!

  • Florianópolis é uma das menores capitais do país, 421 mil habitantes. Destes, 123 mil (30%) são "estrangeiros" do resto do país. Aqui Aécio teve 70% dos votos!
    A "globo" local domina todas as mídias do estado.
    Nas manifestações contra o golpe eram poucos alunos, professores e funcionários da UFSC. Seja nas manifestações de 200 a 12 mil pessoas vi muitos alunos dos IFs, secundaristas, sindicalistas e "estrangeiros do Brasil" como eu e minha mulher.
    Somente quando Temer iniciou a carnificina contra a Educação e a Saúde eles apareceram...
    Mas aí, Inês era morta!
    Tenho amigos pessoais nativos em 2 das 3 universidades públicas daqui e eles confirmam o que digo. Aqui as Irmandades mandam clubes e associações de bairros da cidade.
    Conversar sobre política na cidade, quase sempre, é perda de tempo. Nada muda!
    Lamento profundamente pelo professor Olivo.

    • Não esquecer que o reitor estava entre "esses 70% que votaram em Aécio", além de ser a favor do golpe, dos golpistas e desse "estado fascista".

  • ERNESTO: não nos interessa a sua distorcida opinião. Você não tem culpa, pois votou no Aécio, né? Então, vá dar sua opinião no ANTAgonista, pois lá é o lugar certo para alienados.

    • Como apagaram meu comentário, o seu ficou sem sentido.
      Mas continuo achando que é uma vergonha o que os mortadelas estão fazendo.
      No afã de tentar apresentar o criminoso Lula como uma vítima de perseguição,
      querem explorar politicamente a tragédia causada pela fragilidade psicológica do reitor.
      Se acostumaram a fazer comício em cima de caixão.

      • Não apagaram, deram descarga. Como eu te respondi, a direita não vale o papel higiênico que usa pra limpar o rabo.

      • Vc amebiano, não come mortadela, come merda expelida pelo PIG todo santo dia pra imbecis como vc. Ainda bem que não chegamos ao ponto da rede transmitir odores.

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