Não há uma guerra no Brasil, há um massacre

Ressalve-se os que estão arriscando, nos hospitais e unidades de saúde, os que estão arriscando – e muito mais do que deveriam estar – arriscando suas vidas na batalha desigual contra o vírus.

Feito isso, diga-se que não há uma guerra à pandemia no Brasil, há o massacre de um população tornada indefesa por seus líderes, porque guerra pressupõe que haja luta.

E o que há é uma cínica rendição.

É impossível calcular quantas dezenas de milhares morrerão – já se foram os primeiros 10 mil – mas é obrigatório dizer que serão muitos, demais, imensamente mais do que precisariam ser, se os governantes tivessem cumprindo seu dever.

A pressão de Jair Bolsonaro e de vagabundos insensíveis que formam parte do grande empresariado nacional impede, por toda a parte, que se tomem as medidas duras, mas inevitáveis, de quarentena que ainda nos dariam alguma chance de deter o avanço da doença sem que nossas defesas médicas entrem, como estão entrando, em colapso total.

O fechamento total das áreas avassaladas pelo contágio, medida que é praticamente a recomendação unânime dos epidemiologista é evitado com medidas cínicas: faz-se um rodízio de veículos -os que têm carro de placa par contaminam-se em dias pares, os de ímpares, no dias ímpares – fecham-se os centros e deixam as periferias – onde os contágios sobem mais rápido – entregues à própria sorte e permitem-se atividades “essenciais” como os páreos de corridas de cavalos que serão disputados hoje à tarde no Jockey Club da Gávea.

Acima de todos, o grande Satã presidencial comanda uma legião de monstros que, fingindo preocupação com a carne que queima por dinheiro, prestam-se à hipócrita cantilena de dizer que “a economia é tão importante quanto a saúde”, quando todos permanecem isolados, dando ordens pelo computador e com seus médicos e hospitais ao alcance de um telefonema e um deslocamento de carro com motorista.

Os militares brasileiros -contra a vontade de muitos dos seus oficiais da ativa – viraram cúmplices destes colaboracionistas da morte. Como em 1964, fazem do poder uma ferramenta para que os homens do dinheiro engordem em meio a um povo que morre.

 

Fernando Brito:

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