Não venham com essa de que Chagas caiu por causa de “blogs sujos”. Caiu por viver em outro mundo

laranjalimao

 

 

Ser assessor de Comunicação – agora elevado a status de Secretário – de Governo não é fácil em circunstância alguma.

É viver de sobressaltos, a apagar incêndios, a equilibrar ética profissional com o sigilo e a disciplina que implicam estar no centro de decisões políticas.

E não deixar que nada disso tire você do foco que a comunicação deve ter para que seja instrumento de realização do projeto administrativo- político-social daquele Governo.

Quando um governo é odiado, espancado e sitiado pelos interesses da mídia empresarial, tudo piora em grau exponencial.

Digo isso em razão da notícia de que a Secretária de Comunicação da Presidência, Helena Chagas, será, finalmente, substituída no cargo. 

Se Helena Chagas entendia que a Globo, Folha, Estadão e outros grandes veículos da imprensa mereciam atenção especial, estava correta e não fazia mais que sua obrigação profissional em fazê-lo.

Da mesma forma estaria certíssima em destinar aos veículos com mais audiência parcelas maiores do volume de publicidade. A chamada “mídia técnica” é uma imposição da qual podemos até não gostar, mas devemos seguir se queremos fazer corretamente comunicação publicitária.

Franklin Martins o fez e ninguém – a não ser a grande mídia, que não quer a sua parte, quer tudo – o contestou. Mas o contestou, essencialmente, por propor os mecanismos regulatórios que a atividade empresarial de comunicação está obrigada numa democracia e que assim é pelo mundo afora.

Ninguém, a não ser os beleguins jornalísticos dos interesses patronais que se apressam a dizer que qualquer investimento em comunicação fora da grande mídia é subvenção a “cumpanheiros”, como se referem pejorativamente àqueles que não fazem do governo progressista um saco permanente de pancadas.

Em 1989, eu e meu amigo Ricardo Kotscho, assessores de imprensa dos então candidatos Brizola e Lula, fomos a um debate no Sindicato dos Jornalistas aqui do Rio.

E, naqueles tempos ainda ingênuos do jornalismo da democracia, nos perguntaram porque tratávamos diferente os pedidos de jornalistas da TV Globo e de pequenos jornais.

Eu disse com todas as letras – está registrado no livro “Jornalistas pra quê? – Os profissionais diante da ética” – que podíamos e devíamos tratar os profissionais de imprensa com os mesmos critérios, mas que não iria ser hipócrita de dizer que os veículos de comunicação podiam ser tratados de forma igualitária, até porque tínhamos o dever político de tentar ocupar os melhores espaços de comunicação.

É uma tolice – pior, uma redução à língua falada pelos executivos da grande mídia – dizer que Helena Chagas caiu por não concordar com a concessão de publicidade aos blogs de esquerda – que eles chamam de “sujos”, como faz O Globo, hoje.

Não há nenhum, entre eles, que reivindique nada além de receber, se for o caso, publicidade pelas mesmas regras que todo o mercado atua, que é receber em função de seu volume de acessos e da adequação ao público que se pretende atingir.

Nada além do que faz o Google, que não discrimina, embora pague uma miséria, porque fica com a parte do leão da receita publicitária. Mas não recusa publicidade a blogs, como este, que beiram os 3 milhões de acessos mensais, metade deles únicos.

A conversa é outra.

Helena Chagas caiu por incapacidade de fazer o que este governo precisa, sob pena de morte, fazer: enfrentar a onda avassaladora de desinformação e terrorismo político-econômico que a mídia levanta contra ele.

Isso quer dizer abrir guerra aos jornalões e à Globo?

Não, de forma alguma.

Mas significa contraditar, polemizar, esclarecer e mobilizar a opinião pública e não achar que simpatia e amizades pessoais com “repórteres especiais” e editores resolvem o problema de comunicação de um governo de esquerda.

Ou que abobrinhas de “marquetagem” servem para dissolver problemas reais, cujo enfrentamento está, em grande parte, na área de comunicação.

Um exemplo, recente e estarrecedor foram suas declarações, há poucos dias, sobre as manifestações anti- Copa e o fato de terem se tornado violentas.

Disse Helena Chagas à Agência Estado:

“Questionada pela reportagem em Davos no fim de semana, a ministra Helena Chagas, chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, admitiu que “não sabia” dos detalhes sobre como esse plano será adotado. Mas indicou que, para promover a paz, uma pomba seria solta em cada jogo para simbolizar a necessidade da realização da Copa em condições pacíficas.”

Francamente, mais que uma bobagem, isso indica o mundo da Lua em que vive a titular da Secom.

E é de lá, e por isso, que ela caiu.

Caiu, aliás, faz muito tempo. Todos sabem que ela já não se encaixava nos rumos presidenciais há meses.

A única injunção política da queda de Helena Chagas é ela ter permanecido lá até agora.

Um governo não escolhe – ou não deveria escolher – seus colaboradores por considerações de ordem pessoal e nem mesmo de ordem profissional, apenas. Certamente não se quer questionar nenhuma das duas em Helena Chagas.

O problema é que este governo, para sobreviver e vencer, precisa do embate político. Civilizado, democrático, republicano e diria até cortês, porque cortesia e civilidade nunca fazem mal a ninguém.

Talvez seja ela, inclusive, a menos errada neste processo.

Minha finada avó sempre me recriminava quando eu esperava algo que a natureza de alguém não lhe permitia dar.

– Meu filho, se laranjeira não dá limão o problema é seu, não da laranjeira.

Pois é: é na comunicação que este Governo precisa escolher se vai ser espremido como uma laranja pela mídia ou arder como um limão em suas feridas.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

26 respostas

  1. Esta chegando a hora que os anunciantes vao fazer fila nos blogs. Muita burrice insistir em jornais e tvs falidos, de baixa qualidade e audiencia.

  2. Gostaria de parabeniza-lo por mais uma materia brilhante e dizer que o Sr. escreve de maneira muito clara e direta. Se por um lado temos pessoas que se sujeitam a se prostituir pelos interesses de seus patrões, por outro lado, temos os blogueiros “sujos” (rsrsrs), como você que estão de parabens pelo trabalho insistente e combativo por um pais mais juste e, sobre tudo, por uma mídia mais igualitária. Obrigado e sou seu leitor assíduo.

  3. O próprio governo não dá exemplo de enfrentamento, vide o ministro Padilha que ao primeiro ranger de dentes do PIG, se abaixou e se humilhou, cancelando o convênio com a ONG, em que seu pai já tinha se desligado desde 2009. Morrem de medo do PIG. Como é que se pode esperar que este novo secretário de comunicação haja diferente da Sra. Chagas????? Este é o mau do PT e do governo, não faz enfrentamento. Além de politica de comunicação zero. E ainda enche os bolsos dos seus inimigos. Eu já desisti….

    1. Se o Roberto Messias ficar na SECOM a mudança não é política, é pessoal, e não vai adiantar nada.

      É este cara (tucanalha?) que garante a grana de Globo, inimiga do povo.

      Vamos acompanhar . . .

      Se os incomPTentes acordaram prá vida o Paulo Bernardo tem que ir embora também. Cuidar da campanha da patroa.

  4. Olá Orlando, eu tambem já desisti, acho que vou entrar no procom, pois me venderam uma guerreira e me entregaram uma traira e COVARDE, que governou com e para a grande imprensa, virando as costas pra quem lutou para eleger ela, enchendo os bolsos dos inimigos que execram o pt e o governo lula, mas uma amigo me disse e eu agora acredito que foi tudo de caso pensado, o pig fez o trabalho para a traira, eliminando a concorrencia interna, mas o que esperar de alguem que tem como principal acessor o fernando pimentel, o maior traidor de minas, aquele que disse a poucas semanas em uma entrevista que tem uma relacao fraternal com o aecio neves, deve ser por isto e pelo premio da megasena que recebeu da fiemg sem trabalhar, que o traira pimentel entregou a prefeitura de bh para a turma do aecio…

  5. Demorar quase quatro anos para perceber que essa moça estava no lugar errado demonstra também incompetência da equipe mais próxima da Presidenta. Cá de fora todos nós percebíamos que faltava muita coisa na área de comunicação. Agora quero saber quem vai para o lugar do outro morto-vivo do governo: Paulo Bernardo. Logo, já,esse senhor precisa de voltar pra casa de vez.

  6. Pelos ataques do PiG ao Traumam, sinal de que ele é uma boa escolha.
    É verdade que Traumam fazia parte do staff de Brizola?
    A explicação de Brito neste post me fez rever a revolta que tinha do governo destinar muita verba a Globo e congeneres que trabalham arduamente pelo golpe.
    Uma pergunta: Dilma não poderia usar mais seu horário gratuito da TV para divulgar as obras do governo?

  7. Finalmente vamos nos ver livre dessa idiota e sua corja de tucanos infiltrados? Inclusive aquele sujeitinho que acha “bacaníssimo” o “Bolsa de Mulher”?
    Nem acredito…
    Por outro lado o Bernardo continua forte…É certo que nos livramos de sua preclara esposa, mas precisavam enfiar o Mercadantas no lugar dela?
    E o pusilânime Suplicy continua candidato ao Senado por São Paulo?
    Não dá para aposentar esse infeliz e lançar outro nome? Ele que vá servir de cicerone pra blogueira da CIA em suas viagens internacionais.
    Cambada de gente nefasta e mau caráter.
    Troca essa corja toda, Dilma!

    1. Tem tanta gente ruim “ajudando” a Dilma que ainda esqueci do Zé Dantas Cardozo…
      Imperdoável esquecer do sujeito.

  8. O Governo Dilma precisa entender que os blogs sujos têm uma audiência já bastante considerável; e que seus proprietários também precisam levar o leite das crianças pra casa.
    Afinal de contas, a grande maioria desses proprietários também são jornalistas conceituados.

  9. Fernando Brito, tudo bem, os rapapés da corporação são civilizados e precisos, mas indo-se direto a raiz do gravíssimo problema: já foi tarde! Simples assim.

  10. Pior que esse que ficará no lugar fez toda a sua carreira na Folha e na Veja, tendo tendencia de ser pior ainda do que Chagas.

  11. Não se enganem. Não vai mudar nada com a saída da ministra. A Helena Chagas e o Paulo Bernardo seguem fielmente as orientações da Dilma. Eles apenas cumprem ordem da presidenta.

  12. Se não puder ser o Franklin, O Leandro Fortes já está na área. Tem também o ansioso blogueiro Paulo Henrique Amorim, Fernando Brito, Azenha, o Cloaca News, o Rosário. Vixe, são tantos…

  13. Ainda bem que ela saiu e esperamos que o seu substituto venha a pedir á Globo um nada consta, pois ela está devendo á receita e está sendo processada, não podia estar recebendo verba pública.

  14. Pois é Fernando, é por este e por dezena ou mais de outros textos que preciso vir assinar o seu blog.
    Parabéns, só não entendo como esta senhora ficou tanto tempo no cargo, lamentável.
    Carlos Soares

  15. Eu contratava a Cristina, o Evo e o Corrêa por correspondência, o Chavez e o Brizola por prestidigitação e acabava com a concessão da Globo no ferro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *