Houve um tempo em que se discutia, na literatura, o valor da “arte pela arte”. O poeta francês Mallarmé havia inaugurado um estilo onde a forma tinha a primazia absoluta. O conteúdo era secundário. A revista Época parece ter aderido a essa tendência, adaptando-o ao jornalismo, e criou a “denúncia pela denúncia”. Diego Escoteguy, enfant terrible do Instituto Millenium, assina matéria com denúncias contra a Petrobrás onde, curiosamente, não há nenhuma denúncia. Há apenas a forma de denúncia, o tom de denúncia, a linguagem de denúncia.
Trecho de post do Nassif abordando este intrigante fenômeno:
“Esta semana a matéria de denúncia da Época fala em “Os lobistas e os negócios da Petrobras na África” (clique aqui).
O tom é de denúncia, o texto tem o estilo roteirizado das denúncias, cada episódio é tratado como se fosse uma denúncia. Quando se completa a leitura, não existe uma só denúncia na história.”
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Novas denúncias de Época: os superlobistas trapalhões
sab, 26/04/2014 – 13:46 – Atualizado em 26/04/2014 – 20:14
Luis Nassif, em seu blog.
Não dá para entender o novo modelo de denúncias da revista Época. Fica-se sem saber se a revista está com problema de falta de equipe de reportagem, ou a direção de redação padece da falta de conhecimento de negócios, para filtrar as matérias.
Denúncias envolvendo negócios têm sua complexidade. O repórter precisa saber a diferença entre operações habituais e as extravagantes, entender a lógica financeira para separar onde há suspeitas de negociata, onde há operações normais de mercado. Não basta obter um relatório da Polícia Federal se não houver discernimento para entender o tema e identificar o negócio.
Esta semana a matéria de denúncia da Época fala em “Os lobistas e os negócios da Petrobras na África” (clique aqui).
O tom é de denúncia, o texto tem o estilo roteirizado das denúncias, cada episódio é tratado como se fosse uma denúncia. Quando se completa a leitura, não existe uma só denúncia na história.
Poderia ser matéria de negócios, mas não é, dado o tom de denúncia. Poderia ser matéria de denúncia, mas não é, por ter apenas o tom, sem apresentar uma denúncia.
Faz um check-list de tentativas infundadas de lobby, mostrando um superlobista que não consegue um resultado sequer.
Finalmente, joga no papel um conjunto de informações genéricas de negócios – como, por exemplo, o fato público da associação entre Petrobras e BTG na África. E informa, judiciosamente, que consultou os personagens mencionados mas eles não quiseram se manifestar. Manifestar sobre o quê? “Pactual, o que você tem a dizer sobre sua associação com a Petrobras na África?”. “Petrobras, o que você tem a dizer sobre sua associação com o Pactual na África?”
Provavelmente o RP de ambas as empresas sugeriu ao repórter consultar os comunicados ao mercado. E com isso não deu as declarações entre aspas que poderiam ser utilizadas no texto. Extrair informações de textos técnicos é bem mais complexo.
A matéria toda tem 12.723 caracteres.
Trecho 1 – Viagem de Lula à África.
22% do texto. Todo o texto servindo apenas para informar que dois representantes de empresas estavam na comitiva, José Carlos Bumlai e Fábio Pavan. Legal! Viagens de negócios costumam ser feitas com representantes das empresas interessadas. Mas qual a relevância dos dois?
Restam 77%.
Trecho 2 – Perfil de Bumlai
Nos 10% seguintes, descobre-se que a razão de Bumlai estar na matéria é o fato de ser amigo de Lula. Menciona-se sua influência para indicar diretores para a Petrobras. E apresenta uma prova irrefutável: o fato de João Augusto Henriques – também chamado de “lobista” (na reportagem todos são lobistas) – ter procurado o apoio de Bumlai para o influente cargo de diretor internacional da Petrobras. E não ter conseguido a indicação. 0 x 1 para o lobista.
Restam 67%.
Trecho 3 – os negócios do lobista em Acra.
27% da reportagem para narrar as aventuras empresariais de Pavan e da Constran em Acra – que não deram certo. E relata o fato do superlobista ter ido atrás do apoio da Petrobras. E nada ter conseguido. 0 x 2 para ele.
Restam 41%.
Trecho 4 – negócios com o grupo Charlot.
18% para informar que os lobistas tentaram vender um poço do grupo Charlot para a Petrobras por US$ 150 milhões, antes de saber se o poço tinha petróleo. Mas sabendo que o Conselho de Administração não aceitaria, propuseram um sinal de US$ 8 milhões e o pagamento dos US$ 150 milhões só se saísse petróleo. Que não saiu. 0 x 3.
Restam 23%
Trecho 5 – o acordo do BTGB e da Petrobras na África
11% para informar que a Petrobras juntou seus ativos africanos e vendeu parte para o BTG Pactual por US$ 1,5 bi. E que os dois lados lucraram com a operação. Informa também que “procurado pela reportagem”, o BTG não se pronunciou. Mas se pronunciar sobre o quê, se não há um dado sequer a ser checado.
Restam 12%.
Trecho 6 – relacionamento Lula-Bumlai
12% finais para mostrar que Bumlai e Pavan assistiram à inauguração do escritório da Embrapa na África, na qual Lula estava presente. E também a relevante informação de que, procurado para falar do relacionamento com Bumlai, o Instituto Lula não quis se pronunciar. E também a relevante informação de que o superlobista Pavan procurou de todas as maneiras um contato com a Petrobras e nada conseguiu. 0 x 4
Não resta mais nada.
11 respostas
Mesmo que fosse tudo verdade, mesmo assim só a tentativa de punir a intenção de roubar já é por si absurda.
Porque o PiG não apura se a Vale e CSN vão bem das pernas? Cadê o comparativo antes e após privatização? Se “eles” gostam tanto de privatizar, porque não fizeram o mesmo com a SABESP? Todo ano eleitoral temos essas patifaria de vômitos sobre a Petrobrás.
A canalhice no jornalismo nunca foi novidade, mas deve ser mostrada sempre, como se fez na matéria, quem sabe um dia esse tipo de jornalismo deixa de ser a regra e passe a ser exceção. O que intriga e me é incompreensível é a debilidade do governo federal em responder à altura todas as vigarices que surgem diariamente na mídia. Parece que vai ficando cada vez mais difícil o governo ganhar as próximas eleições e, a certeza é que se ganhar, sem democratizar a mídia, cai antes de terminar.
Há poucos meses das eleições o governo Dilma continua teimando em não se defender das repetidas mentiras da velha mídia acumpliciada com os demotucanos/psb. A minha sugestão diante desta falta de percepção política do governo é que um grupo de blogueiros “sujos”, que vem criticando (com razão) o apagão político/comunicativo de Dilma peça uma reunião à presidenta, informal, no palácio da Alvorada, para debater esta questão. Teria que ter um formato diferente da reunião com Lula e os blogueiros é que pediriam a reunião para não constranger Dilma a convidar e acabar esquecendo-se de alguém, através do Instituto Barão de Itararé, e os próprios blogueiros decidiriam entre si quem iria representando-os. Do jeito que está é que não pode continuar.
O que se procura é simplesmente ocupar as paginas dos jornais e os noticiarios da TV com os “escândalos”, até as eleições, já que a oposição não apresenta nenhum programa de governo.
A Época é uma revista da Globo Sonegadora. A falta de punição para os crimes graves como o de sonegação fiscal somente incentiva mais atos ilícitos dos criminosos. O denuncismo caluniador que é praticado por revistas como Época e Veja somente ocorre por que há total impunidade dos empresários donos desses panfletos em outros crimes mais graves praticados, e que não tiveram punição, como o da assossiação com bicheiro para cometer ilícitos, por exemplo. E, nem mesmo direito de resposta são solicitados, e se são solicitados, não são concedidos. Impunidade gera mais crimes.
Estou enojado com estas coisas.
O Brasil tem que passar por um banho de descarrego.
Esta geração de jornalistas que estão aí, com o
pescoço no prego, diante uma ferramenta que vai
isola-los.( Não os criativos e honesto), não repre-
sentam em nada jornalistas corajosos e independentes.
O que está aí, é uma loucura de jornais e seus chefes
estarrecidos diante o inovidavel…já eram….
Vão arrumar guerra do outro lado, lá no velho mundo…
o pig extrapolou o direito de democracia deles; esta atropelando o direito dos outros. tem que passar o rodo nesta pig.
Mas a mídia também se ferra, agora, estou vendo na globo a justificativa que estão dando na freportagem do tijolaço de que o pedágio de FHC equivalem a 10 estádios da copa do mundo.Estão justificando de que o pedágio é moderado, moderado é o do Lula em torno de 2 reais, o do FHC para irm num trecho de 140 km, vale em torno de 14,00 reais. E muito engraçado.
Até quando o Brasil vai permitir, que organizações como estas; dos marinho, manipulem as pessoas.
DEU NO NASSIF: INFORMAÇÃO BOA VAI PARA O GLOBO… MAS O GLOBO FAZ O QUE QUER DELA!
Valor contabil de Pasadena pode chegar a US$ 3 bi
seg, 28/04/2014 – 13:58 – Atualizado em 28/04/2014 – 14:58
Luis Nassif
Continuo não entendendo a política de comunicação da Petrobras.
As informações saem a conta-gotas, são entregues a bons repórteres de veículos com viés político que dão destaques apenas às informações negativas.
Hoje saiu uma boa matéria em O Globo sobre Pasadena, com informações exclusivas. Em geral O Globo e o Estadão tem uma preocupação maior com o conteúdo, mas valem-se do mesmo viés político na edição.
A manchete diz: “Despesas da Petrobras com Pasadena já chegam a US$ 1,93 bilhão”. Esse será o próximo número mágico a ser brandido como dinheiro jogado no lixo, já que nada se diz sobre as receitas nem sobre o valor atual da companhia.
Há um atenuante na foto em primeiro plano com a presidente da Petrobras Graça Foster informando sobre os resultados positivos deste ano