Na véspera das eleições norte-americana crescem as escaramuças do trumpismo contra o que parece ser, pelas pesquisas, uma derrota anunciada, dificultando-se o acesso às urnas e lutando nos tribunais contra o acolhimento dos votos enviados pelo correio – e ainda há 31 milhões de cédulas solicitadas por eleitores que ainda não “voltaram” preenchidas – que o Correio federal vem atrasando.
Há gente que fala na possibilidade de eclodirem confrontos – armados, inclusive – com adeptos do trumpismo inconformados com uma eventual derrota, estimulados pelas atitudes do atual presidente, que repete, sem provas, histórias de fraude e de intromissão estrangeira.
Se as urnas que se abrirem amanhã à noite deixarem logo claro uma derrota de Trump, não creio que haja mais que pequenos episódios de confusão e a tendência será de uma festa de alívio.
Mas se a apuração for lenta e apertada – e a disputa Bush – Al Gore , 20 anos atrás, mostra que pode ser – prepare-se para momentos de grande tensão.
A pressa indecorosa com que Trump nomeou Amy Coney Barrett para a Suprema Corte mostra que o atual presidente não está esperando que ela, como fez até agora em disputas menores sobre prazos de recebimento dos votos, vá ser manter ausente das decisões e permitir decisões que contrariem as pretensões do Partido Republicano de excluir votos da contagem.
Há muitos – e não sem razão – que acreditam que um governo do Partido Democrata, como de outras vezes, não vá ser melhor que os dos republicanos em matéria de políticas para a América Latina e mesmo em relação às políticas sociais nos próprios Estados Unidos.
Sim, ninguém espera que Biden vá abrir totalmente mão da Doutrina Jefferson, deixando de nos considerar caudatários dos EUA.
Mas a derrota de Trump será, sem dúvida, um símbolo de que é possível vencer a onda de brutalidade obtusa que se espalhou sobre o mundo. Não será um passe de mágica, mas os grupos fundamentalistas de direita terão sido derrotados justo naquele país que apresentam com o grande modelo de suas ideias.
O contrário, porém, é aterrador. Mesmo que seja parcial e temporária – por conta da apuração dos votos antecipados, pessoais e por correios, cuja contagem é, em geral, mais lenta – o cenário, é quase certo, vai ser de conflitos de rua e uma postura de autoproclamação de vitória por parte de Trump.
E com o mundo paralisado pela pandemia, não é possível esperar muita reação internacional que o detenha.
Nunca antes na história dos Estados Unidos a democracia daquele país, ainda que formal, esteve tão ameaçada por uma eleição.