O espetáculo é dantesco, um show de horrores.
Depois de mandar a mulher chorar por proteção divina ao governo, dar “carona” numa rede oficial de rádio e televisão e preparar gravações para em que ela entre nos lares brasileiros defendendo a família e a moralidade, Jair Bolsonaro submete Michelle a uma patética combinação num programa classe “Z” de televisão a dizer que ele é “imbroxável”.
É assim que pretende conquistar o voto feminino, no qual, como publica hoje a Folha, as pesquisas o dão em franca rejeição. É esta a “qualidade” de Jair, ser um ícone de virilidade?
É esta a campanha do “Deus acima de tudo”?
Mas ele capricha, porque que tudo é “zueira” (sic) e dá a ele a imagem de “homem do povo”, machão, grotesco e exibido.
Bolsonaro parece um remake sórdido e desqualificado de um velho e clássico filme de 1960, O Belo Amtonio (que me perdoem Marcelo Mastroiani e e Claudia Cardinale, os protagonistas), no qual o pai propagandeava a volúpia do tal Antônio, o que aumentaria o seu reconhecimento social. Leia só o que narra – 60 anos depois, não há spoiler – o crítico Sergio Vaz, na sinopse do filme:
O Belo Antonio vai fundo na radiografia de como era atrasada, arcaica, estúpida, suja a sociedade siciliana. Os maiores valores eram a riqueza, as posses, as aparências – e o desempenho sexual dos homens. O macho é o dominador, a mulher é sua escrava. A mulher vale pouco mais que o cocô do cavalo do bandido.
Dos homens exigia-se que comessem o maior número possível de mulheres. Das mulheres “de bem” exigia-se absoluta castidade até o casamento – e fidelidade total e absoluta ao marido.
O trabalho, o emprego, tudo se baseia nas amizades, no quem indica. Respeitável, honrado é quem desfruta da amizade dos poderosos. O Estado serve para dar emprego aos que já eram ricos, já tinham poder.
Não há propriamente vida privada – tudo tem que ser exposto a todos. Pai e mãe de Antonio abrem a janela de seu apartamento e gritam para os vizinhos as suas conquistas, os seus privilégios – da mesma maneira com que todas as famílias agem também.
Todos sabem o que acontece na intimidade das casas de cada pessoa.
Nunca achei que aquele filme pudesse virar uma crônica dos tempos que viveria meu país na segunda década do Século 20, nem que o Brasil fosse, como foi a Sicília, a terra dominada por uma máfia, assassina, sórdida e hipócrita.
E que seu presidente, em matéria cuidar da felicidade do povo, fosse um Belo Antonio.