Não há ainda confirmação de que a causa da morte do sr. Olavo de Carvalho tenha sido a Covid-19 e nenhuma razão para comemorar-se o fato de que ele tenha sido mais um dos mais de 623 mil brasileiros que perderam a vida para a doença.
Do ponto de vista social, muito mais relevante que isso é o câncer que ele ajudou a desenvolver neste país, um tumor de gente má e destruidora que tem como metástase a elevação de Jair Bolsonaro à presidência da República.
E o ex-capitão, afinal, tem razões para emitir o único sinal de perda que, depois destas centenas de milhares de mortes, foi capaz de emitir, depois dos repetidos “e daí?” que lançou a todas as vítimas da Covid.
“Olavo foi um (…)um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, disse no Twitter.
Foi, sim, um farol a guiar pessoas para a estupidez, a ignorância, o ódio e a incivilidade, transformando tudo em deboche, xingamentos, acusações de “comunismo” e intolerância.
E, sim, o que ajudou a fazer nos marcará por muitos anos, servindo como advertência contra aqueles que tem “razões absolutas” (aliás, frequentemente irracionais) e julgam que podem as impor pelo fanatismo de tons religiosos.
Olavo de Carvalho será reconhecido como uma espécie de Jim Jones brasileiro, menos dramático por não ter promovido suicídios literais, mas muito mais eficiente ao dar suporte pseudofilosófico à tentativa de indução de milhões de pessoas a um suicídio político.
Para chegar a isso, contou com a leniência de quem achou que poderia se servir dele e da criação de uma camada de fanáticos para tirar proveito político, como quem se serve de uma matilha para amedrontar “inimigos”.
O cachimbo de Olavo entortou a boca de muita gente que desejava babujar agressões.
Tudo isso, porém, já estava em dissolução, e Olavo de Carvalho se vai quando sua tropa de choque já se esconde pelos cantos. Vai-se, assim, quando já tinha ido politicamente e, nisto, sem deixar saudades.
Não é a morte física, mas a política que nos deveria provocar esperanças.