O castelo da Lava Jato era de areia

Quem “pegou” primeiro o significado da imagem da capa da Veja com Sergio Moro foi o jornalista Luís Costa Pinto.

“O ex-juiz, apequenado, está desconfortável na cadeira – ela, visivelmente, não é para alguém com a estatura dele: observem que os pés por um milímetro não ficam balançando no ar. Para sentar ali, diz o mobiliário histórico [do Ministério da Justiça], tem de ser maior em tudo do que essa ameba disforme e sem núcleo pensante.

De fato, na entrevista, Sergio Moro mostra ser capaz de dizer tudo o que vai agradar os ouvidos do chefe Bolsonaro: que não é candidato em 2022, que não tem pretensão política alguma, que nunca teve problemas de relacionamento com o presidente e que jamais esteve perto de demissão.

A sinceridade de Sergio Moro equivale à sua imparcialidade como julgador. E ambas valem coisa alguma.

O fato objetivo é que, desde que deixou o castelo da Lava jato, onde imperava sem que alguém abrisse o bico para contestá-lo, Sergio Moro só fez encolher.

O superministro virou miniministro ou, já dizem alguns, mimimiministro, porque repete o discurso triunfalista da sua cruzada enquanto sofre derrotas sucessivas.

Serve, apenas, para dar uma minguante legitimidade jurídica ao discurso brutal de Jair Bolsonaro sobre liberação de armas e assassinatos policiais.

Sem as suas armas jurídicas – prender, humilhar, acusar e condenar – viu-se na condição que Maquiavel apontou ao frei Girolamo Savonarela, ao qual tantas vezes foi comparado em seu fundamentalismo, “que fracassou na sua tentativa de reforma quando o povo passou a não acreditar nele, e ele não possuía os meios de conservar firmes os que nele haviam acreditado, nem de conseguir que os incrédulos cressem”.

Pois os incrédulos não passaram a crer e os que diziam crer, por medo, já não temem e – ainda sem que confessem – e já não creem.

É que, como observou Costa Pinto, seus pés não estão no chão, nem a cabeça à altura da coroa.

 

 

 

 

Fernando Brito:

View Comments (31)

  • Ciranda dos moristas anticorrupção arrependidos

    Ciranda Cirandinha
    Vamos todos cirandar
    Vamos dar a meia volta
    Volta e meia vamos dar

    O anel que tu me destes
    Era vidro e se quebrou
    O amor que tu me tinhas
    Era pouco e se acabou

    Por isso Senhor Moro
    Entre dentro desta roda
    Diga um verso bem bonito
    Diga adeus e vá se embora

  • Não que eu vá ler a reportagem, pela capa dá para saber que Curitiba é um lugar puro e isento de intrigas!

  • "Brasília é Cheia de Intrigas", com o marreco sentado no troninho, talvez seja uma das chamadas de reportagem mais hilariantes dessa revista desclassificada.
    Esse sujeitinho se queixar do próprio meio em que se move e reproduz é hipocrisia em estado puro.

    • O "chanceler" Ernesto Araújo disse que era necessário repensar o Brasil a partir de sua "essência conservadora". Qual a "essência conservadora" do Brasil, senão os vícios de toda sorte que foram entranhados pelo escravagismo?

    • O "chanceler" Ernesto Araújo disse que era necessário repensar o Brasil a partir de sua "essência conservadora". Qual a "essência conservadora" do Brasil, senão os vícios de toda sorte que foram entranhados pelo escravagismo?

      • Perfeito. Vícios perpetuados pela ignorância, preconceitos religiosos e a fundamental contribuição da pior mídia do mundo.

  • Mais um texto de antologia, Fernando! Seu livro sobre esta época tenebrosa vai ficar muito bom.

    • É.. escrevi o elogio ao Fernando antes sequer de ver os comentários. São preciosos esses tijolaços.

  • É claro que o senhor não vai demitir o ministro do turismo né capitão. Vai segura-lo até o final do seu mandato que não será longo. Aguarde e verás aonde irá parar a sua empáfia. Na verdade, o senhor sabe que está nas mãos desse ministro. Isso porque o esquema teve a ver com a campanha toda do PSL e com o seu consentimento. O senhor é cúmplice dele. E, se o ministro for demitido, não tendo mais nada a perder e se sentindo traído, pode muito bem ser mais corajoso que o Bebiano e cair atirando né. Aliás, o Bebiano não caiu atirando porque ia se encrencar também. Agora, se o ministro do turismo já estiver encrencado a coisa muda muito de figura.

  • Um caipira provinciano, idolatrado pelos caipiras provincianos e preconceituosos.

Related Post