Nem no governo Sarney, nem no de FHC, em que o Centrão foi parte nuclear, nem nos demais governos em que a ele se teve de conceder poder, já se tinha assistido o que acontece agora: o controle total da área econômica pelos vorazes deputados e senadores que formam a base de sustentação de Jair Bolsonaro.
Paulo Guedes tornou-se um nada e, atropelado pelo “arrebenta-teto” do novo auxílio (de R$ 400, mas que deve ser elevado a R$ 500 no Congresso) foi duplamente chantageado: pelos políticos, que marcaram a data para que ele vá explicar a tal offshore nas Ilhas Virgens e por sua própria equipe de auxiliares que, em nome das vozes do mercado ameaçou-o com pedidos de demissão em série para reafirmarem sua devoção ao “teto de gastos”.
Não é preciso que se diga o que deseja Jair Bolsonaro de seu ministro, um “empurra isso aí para a frente, depois a gente vê”. Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal da Fundação Getúlio Vargas diz que “o plano Bolsonaro-Guedes (…) consiste em empurrar o teto com a barriga até que as pessoas percebam que o teto não existe mais”.
Não fosse o seu caráter falho e o medo de que, sem o cargo, seja estraçalhado pelo Congresso, Guedes já teria pedido o boné. Vale-se, porém, do fato que é penoso para seu chefe mandá-lo para o espaço – a comparação com Marcos Pontes e a “zeragem da verba do Ministério da Ciência não é despropositada.
A demissão de Guedes, ainda que a pedido, formalizaria ao mercado financeiro que o controle fiscal foi mandado às favas – e foi – em nome da reeleição do presidente. Foi isso, e apenas isso, que acionou a marcha à ré do anuncio do auxílio, ontem, não as indecisões legais.
No “vácuo” do fura-teto para o auxílio emergencial irá – alguém duvida? – mais um lote de emendas parlamentares muito úteis à reeleição, também, dos próprios deputados. “Se Jair pode, porque não podemos nós?”, esta é a lógica. Ao mesmo tempo, rechaçarão qualquer proposta de compensação que implique em alta nos impostos cobrados às empresas, ou melhor, aos empresários, como a tal reforma do Imposto de Renda que os jornais dão como morta.
Vai tudo, mesmo, para a conta da Viúva e para o próximo governo. E que, pressionado por um caos fiscal, terá de ir pedir, “por favor, por favorzinho” que o Centrão o ajude nas dificuldades.