Se o novo ministro da Casa Civil, senador Ciro Nogueira, tem habilitação para dirigir motocicletas, como sugere sua foto sorridente numa Lambretta – perdoem-me a expressão de velho – é bom arranjar alguma desculpa para não comparecer a motociatas como a de hoje, modalidade que se tornou a predileta de Jair Bolsonaro, porque produz tamanho, barulho e demonstração de força.
Porque, dos apelos do Centrão por um “Bolsonaro moderado” nada resultará. O presidente está em campanha e o mote de sua campanha é “ou eu ou não tem eleição”.
Jair Bolsonaro precisa reeditar a imagem do “anti-establishment do establishment” que encarnou em 2018 que, em 2022, terá muito mais dificuldade em parecer.
A radicalização não é um acidente, um evento, uma circunstância: é um projeto no qual, não duvide, não se exclui a violência de rua contra a oposição, simulada como “reação popular” que já ensaiam hoje.
Tanto mais provável isso é quanto maior seja a imobilidade a Justiça diante dos ataques de Bolsonaro às eleições.
Ciro Nogueira e os cabeças do centrão terão de sair do mutismo.
O suspeitíssimo Ricardo Barros, na mira da CPI, já tomou a sua decisão: subiu na moto e foi desfilar na motociata, mas é improvável que Ciro possa fazer o mesmo, a menos que resolva sacrificar toda a sua capacidade de articulação política.
Como Jair Bolsonaro costuma comparar seus relacionamentos políticos com namoros e casamentos, é lícito pensar nessa união como uma união instável, na qual as dissensões e aparências logo começarão a transparecer.
O horizonte, parece, é a partilha do Orçamento de 2022.