O comercial de Neymar ou a autoindulgência bem paga

Repercute nas redes o comercial da Gillete com a “nenhuma autocrítica” do jogador Neymar Jr. e eu, que vivo a escrever sobre política e economia, não resisto a falar de futebol, sempre uma paixão e porta de entrada na minha profissão, há 40 anos, na editoria de Esportes de O Globo.

Parto do que diz o coleguinha Xico Sá: Neymar “não foi à terapia, não foi ao divã, simplesmente dirigiu-se à caixa registradora em mais um oportuno anúncio publicitário”.

Até aí, nada de mais. Convenhamos, faz tempo que o futebol e seus craques perderam sua natureza de paixão popular e foram, eles próprios, devorado pelo marketing, com seus dentes de dinheiro e de “dolce vita”.

Confesso, porém que fiquei pensando no que o competente texto do anúncio diz, num chororô que se desmancha a cada frase.

O craque descreve, primeiro, as botinadas, joelhadas e agressões que sofre em campo. Sofre. Mas em que os zagueiros agiriam com ele de forma diferente da que fazem com Mbappé, Modric, Messi, De Bruyn, Hazard ou  Cristiano Ronaldo para ficar apenas em algumas estrelas desta Copa?

Nenhum deles é fisicamente menos vulnerável que Neymar, nenhum deles é menos essencial a suas equipes de tal forma que não pudessem ser alvos de defesas “botinudas”.

A resposta me parece simples: nenhum deles cai cinematograficamente e, por isso, a agressão, se não é verdadeira, é verossímil aos árbitos.

Antes de perder a bola com estas cenas dramáticas, Neymar perdeu boa parte de sua credibilidade com o espalhafato e, hoje, nem mesmo quando apanha de verdade convence que é veraz boa parte das pancadas. Portanto, além do que apanharia, apanha mais, porque virou “bom de bater”

A seguir, ele diz que, se sofre em campo, muito mais sofre na vida: “eu sofro dentro de campo mas, na boa, você não imagina o que eu passo fora dele”.

Verdade? Neymar descumpre o mandamento óbvio da pessoa exposta: ser discreto. Ou, se não for, a encarar as consequências disto.

Há muitas outras frases que, separadas, se tornam verdadeiros absurdos ou confissões daquilo que negam.

“Quando eu cesso a (paro de) dar entrevistas, é porque ainda não aprendi a te decepcionar” quer dizer o quê? Que tem de aprender a decepcionar? Tirando Mbappé, todos os outros, depois de algum jogo, estavam tanto ou mais decepcionados e tanto mais decepcionaram. Mas trataram do assunto sem se fazerem de vítimas, de injustiçados. Menos ainda pedem que os outros aceitem sem reclamar as decepções que causaram.

“Quando eu pareço malcriado, não é porque eu sou (seja) um moleque mimado, mas porque ainda não aprendi a me frustrar”. Deus meu, o que é um menino mimado senão o que não aceita frustração?

“Você pode achar que eu caí demais, mas a verdade é que eu não caí, eu desmoronei …e isso dói muito mais que qualquer pisão em tornozelo operado”.

Desmoronar é da vida e não sou ninguém para julgar a reação do outro diante de um fracasso dolorido. Se foi um pedido de perdão, não haveria torcedor que não o desse, no tempo que o perdão precisa para ser dado, pois não é algo que esteja pronto, na prateleira, esperando para ser entregue a quem o pedir.

Mas viria, quem sabe já no próximo jogo, no próximo drible, quem sabe no próximo gol, ainda mais se fosse um daqueles onde as pernas ágeis do atacante saltam sobre a chuteira bruta da zaga, dão dois ou três passos trôpegos, se reequilibram e armam o chute fatal.

Neymar, infelizmente, escolheu o caminho errado e produziu uma peça que, na verdade, se volta contra ele próprio.

Talvez não no bolso, de imediato, mas adiante, consolidando a imagem de “chorão” com a qual não se faz ídolos. Porque aquele “quando eu fico de pé, o Brasil inteiro levanta comigo”, é tão bem redigido quanto inconvincente.

Uma pena, porque talentos como ele surgem muito, muito raramente e, ao contrário dos que acham que o futebol é o “ópio do povo” nos gramados, penso que é e sempre foi fonte de orgulho, autoestima e afirmação para os brasileiros.

A gente também apanha, Neymar, no campo da política, às vezes com mais brutalidade que na bola, e nem por isso tem razão em ser autoindulgente.

“Tadinho” não ganha jogo, rapaz.

PS :O vídeo, para quem ainda não assistiu.

 

 

 

Fernando Brito:

View Comments (58)

  • Neymar e Gillete perderam oportunidade de ficarem calados. Ele tinha que ficar quieto e mudar a postura. Fez foi reforçar a expectativa em torno do tema e o estereótipo de mimado.

    • Verdade! Primeiro deveria se isolar da mídia um tempo, para de aparecer em festas etc, e começar ter outra postura, mesmo perdendo fosse homem suficiente para dá entrevista encarar os fatos reais, assumisse o erro. Verdade que esse pai dele parece mais imaturo do que ele, isso também o prejudicar muito.

  • Não vejo nada de competente no texto. Só serviu para irritar ainda mais os torcedores porque é totalmente artificial. Reforça o chororô de um sujeito muitíssimo bem remunerado, que sabe jogar pôquer como um profissional, sabe fugir do fisco em vários países e farrear como gente grande mas finge sofrer ingenuamente, como se ainda fosse um "menino" barbado de 26 anos. E finalmente, quem é que pede desculpas com patrocínio???

    • Também não vejo competência em um texto q não atingiu o q pretendia. Aliás, muito pelo contrário, reforçou a péssima imagem deixada por Neymar na copa de um homem q não consegue amadurecer.

  • Menino ney precisa comer muito feijão para chegar aos pés de Romero. O paraguaio do Corinthians talvez não consiga dar uma carretilhazinha inútil como aquela que menino ney aplicou num adversário num jogo da copa, mas quando precisa que o Romero lute, ele vai e luta, do jeito que dá, com a habilidade que tem. As coisas andam pretas pro meu lado, vou ver se encontro quem patrocine um desabafo meu, também

    • Se encontrar por favor, passe-me o telefone. Vivo no sertão baiano e aqui a gente tira água de pedra. E eu nem cobraria tanto

  • PUTS!!!!!!!!!!!!!!!!
    que mala sem alça ......................

    GILLETE nem de graça.

    • Pessoas como ele e o Gordo são vítimas. Coitadinhos. Podem falar: "Eu não tenho culpa. Eu votei no Aécio".

  • Desculpe mas não deu pra ler tudo. Quer dizer então que a VIOLÊNCIA está justificada porque Neymar não cai como "macho" ? É isso mesmo ? É impressionante como Nelson Rodrigues continua vivo, na sua definição da viralatice nacional denunciada, acima de tudo, no futebol. De Barbosa e Bigode em 1950 a Neymar, passando por Roberto Carlos em 2006, Ronaldo em 98, Zico em 86, Telê, Cerezo e outros em 82, Coutinho em 78 e por aí vai......... somos um país que não sabe perder sem achar CULPADOS, sem escolher bodes expiatórios, sem destruir pessoas.
    Ninguém mais se lembra do único título olímpico que nós temos, ganho principalmente por Neymar no Maracanã. O que importa é que ele tem que cair no chão do jeito que querem que ele caia, senão porrada nele. Podem bater que ele merece.

    • Se ele caísse, mas resolvesse alguma coisa quando estivesse em pé, ninguém se incomodaria com o cai-cai.

    • Você está brincando? Ele quem se coloca como vítima, como um cagão...É um profissional de alto nível e um dois mais bem remunerados. O que as pessoas esperam que ele seja é apenas um profissional, somente isso.

    • Cidadão Neymar Jr. é um mal exemplo. Jogador Neymar é excelente. Poderia ser ainda melhor se não fosse mau caráter (dissimulado).
      Diferença também há entre o Pelé e o Edson; o Zico e o Artur; por aí vai...

    • Cai-cai não ganha jogo. Ele é craque, mas é também narcisista. Se ele só jogasse bola, sem teatrinho, já estaria de bom tamanho. Ronaldinho Gaúcho era 10 vezes melhor do que ele e muito mais colega de seus companheiros. Neimar chegou no PSG e já queria tirar o Cavani do time. Bom, com o pai que tem... o fruto nunca cai longe do pé.

    • Tente ler tudo, então, porque parece que você não entendeu nada ......

  • Zidane fez um papel porco numa final de Copa e é ídolo respeitado na França e no mundo. Maradona foi eliminado por doping e é um deus na Argentina. Neymar não pode nem rolar quando cai depois de levar porrada. Somos um país sem amor próprio nenhum e com ódio de sobra.

    • Eu sei que é difícil para quem é fanático por determinadas figuras do futebol entender certas coisas do senso comum. Eu não entendo bulhufas de futebol nem sou torcedora mas acompanho as copas do mundo e até torci bastante na penúltima, antes do 7x1. Mas enfim, o problema do Neymar não me parece que seja técnico. Pra ser sincera, eu desconfio que esse moço tenha algumas sérias falhas de caráter. Na hora de faturar e farrear, posar para revistas como socialite global, etc, não chora. Muito bem, esse é o esquema dos jogadores celebridades de hoje em dia, tudo certo. Mas, quando ouve críticas ao seu desempenho ou ao excesso de encenação, se faz de vítima. Mimado e dissimulado, anda irritando fãs no mundo inteiro, não tem nada a ver com crítica de brasileiros a brasileiros. Ele ainda poderia se redimir jogando, acho eu. Jogando e ficando quieto. Menos marketing e mais bola no pé, essas coisas que meu finado pai dizia.

    • O problema é que ela cai demais e se vitimiza como criancinha birrenta.

    • Diferença é q Maradona e Zidane foram gênios dentro de campo.
      Maradona também fora de campo
      Nunca deixou de se posicionar.y

      • Maradona e Zidane já se provaram. São gênios do futebol, como Pelé. Neymar ainda está por se provar. E pelo andar da carruagem, corre o risco de não chegar ao q um kaka chegou, quanto mais ao q Messi e Cristiano Ronaldo fizeram. O mais trágico e q neymar possui um talento único. Totalmente desperdiçado pela falha no caráter. O tempo urge para Neymar, Júnior e pai..

    • Zidane e Maradona ganharam uma copa cada um e com o adicional de terem comandado suas respectivas seleções.
      Depois de fazer algo parecido, se fizer algum dia, poderemos pensar em comparar o Ney Filho com algum dos dois.
      Assim mesmo, na minha modesta opinião, acho duro.

    • Tu ta de sacanagem, né irmao??
      Idolo nao se faz so com bola no pé...É preciso ter carater, atitude e posicionamento. Dentro, e em igual medida, fora de campo. Isso Maradona e Zidane tinham (e ainda tem) de sobra.
      Voltando à bola no pé...quando Neymar ganhar alguma coisa perto do que fizeram Maradona e Zidane...ai a gente volta a falar.

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