O Corinthians e o Brasil

socrates

Talvez alguns achem esdrúxulo o que vou dizer, mas sempre que vejo estas monstruosidades que ocorrem com as torcidas de futebol, penso no comportamento da mídia e de certa parte da “intelectualidade”.

Alguém se atreveria a achar “aceitável”  que os grupos de vândalos e agressores que se misturam à massa torcedora possam, em nome de qualquer paixão clubística, agredir, espancar, invadir, atirar pedras, depredar?

Se não aceitamos no futebol, porque o aceitamos nas ruas, em manifestações?

Hoje, lendo a coluna de Juca Kfouri, onde ele traça um paralelo entre as manifestações políticas da “democracia corintiana”, ao tempo das Diretas-Já e a invasão e agressão feitas por corintianos ao Centro de Treinamento do clube, no sábado, com agressões físicas aos jogadores e depredação das instalações do clube , uma frase me chamou a atenção, quando ele lamenta a falta de reação dos jogadores contra aquela barbárie:

“Talvez conseguissem que a verdadeira “torcida que tem um time” reassumisse seu papel e expulsasse os vendilhões da arquibancada.”

Pois é.

As nossas lideranças políticas, à direita e à esquerda, ficaram também inertes diante da violência e, hoje, parece legítimo em qualquer manifestação, que estes grupos atuem brutalmente, em nome de uma “liberdade”  que transforma em conflito qualquer manifestação pública.

A mídia e a oposição, ávidos pelos dividendos eleitorais que lhe possa trazer a conflagração artificial das ruas, limitam-se a “lamentar a violência”.

Mas esfregam as mãos e torcem para que ela se torne constante e maior, até as “eleições no clube”.

Ou será que alguém, em sã consciência, não percebe que isso se tornou a grande – e, talvez, única – esperança de amealhar os votos que não tem em paz?

Do lado do governo, existe um imenso receio de enfrentar de peito aberto esta polêmica.

Aliás, quase todas as polêmicas.

E um receio cego, porque o projeto político que vem reerguendo o Brasil já se teria interrompido se não fosse a polêmica, em 2006 e em 2010.

Se não sinalizarmos, para usar a expressão de Kfouri, à “torcida que tem um time”, o povo brasileiro, estas deformações selvagens do “esporte democrático” vão continuar se alastrando e o mundo, como publiquei aqui, está pródigo de exemplos de onde isso leva.

O combate a esta selvageria, é evidente, não se faz com selvageria “inversa” da polícia – que parece ser a única reação do Estado a isto, uma vez que o Ministério Público e o Judiciário – ao contrário do que acontece com o inofensivo rolezinho da periferia nos shoppings – ficam inertes diante dos sucessivos e previsíveis atos de vandalismo de grupos como os black blocs.

Faz-se com combate político, com um chamado político ao nosso povo que gramou muito mais – e com muito mais dores – que os corintianos durante seus 21 anos sem títulos.

Só ele desarma, anula, paralisa a barbárie como método de ação política, sem interditar o debate democrático, ao contrário.

Precisamos, pois, de uma referência, como a democracia corintiana a teve.

Precisamos da volta do nosso “Dr. Sócrates”.

Por quem nós sempre torcemos, fosse qual fosse o nosso clube, porque torcemos para o povo brasileiro.

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2 respostas

  1. Caro Fernando;
    Muito bom, mais uma vez! Nunca é demais insistir no tema. O ano de 2013 marcou, no mundo todo, um momento de descortinamento total das forças que regem o mundo. Foi também o momento em que muitos heróis aclamados da chamada “esquerda” acabaram perdendo seu encantamento ao ficar evidente seu comprometimento por preferirem o cinismo ao reconhecimento das evidências das false flags que levaram o mundo a esse estado à beira do totalitarismo em que se encontra. Houve no Brasil um fato marcante sobre o qual o governo e o PT se calaram, mesmo antes das manifestações de junho. Refiro-me à onda de boatos sobre o Bolsa Família, em 18-19/05, que ameaçou causar uma tragédia de grandes proporções. A partir daquele episódio ficou claro o grau de comprometimento de todas as lideranças do PT, sem excessão, a começar por Lula. Será natural que a Polícia Federal conclua que tal boataria foi criada por geração espontânea e que todos se deem por satisfeitos? Será natural a pasmaceira da Presidente Dilma, e de Lula, e demais lideranças do PT, diante da histeria fascista daquelas manifestações de junho? E a reação apatetada do governo que acabou levando o Congresso a votar em peso um festival de sandices, como a derrubada unânime da PEC 37? E essa reforma política traiçoeira, coordenada pelo Vaccarezza, que quer sorrateiramente introduzir o voto distrital para igualar nossa democracia ao faz de conta que se vê nos
    EUA e na Europa, matando para sempre a esperança de uma alternativa autenticamente democrática para a civilização? O governo, o PT, e Lula, particularmente, estão diante da obrigação de assumir um posicionamento claro. Coomo que o exercício do terrorismo coo “liberdade de expressão” pode ser bom para nossa democracia? Será que podemos continuar aceitando o cinismo de declarações que atribuem protestos fascistas histéricos ao desejo do povo querer mais, pois já virou “classe média”? Por favor, senhores, se assumam, porque as pessoas estão preparadas para compreender que não podemos bater de frente com o complexo militar corporatocrata que domina o mundo, mas não poderm compreender a cumplicidade com a baderna. Acima de tudo, é preciso deixar claro o que o governo pretende fazer para concientizar a população, principalmente os beneficiários dos programas sociais, para que não tenhamos o dissabor que vê-los engrossando o bloco fascista.

  2. Ah, se o maior erro do Lula fosse ser corintiano!
    O maior erro dele foi ter dado um assento pro Barbosa no STF.

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