O corso das motos e a procissão dos pobres

Jesus chega a Jesusalém de burrico, não de Harley-Davidson.

Mas, registra hoje a Folha, o poder público no Brasil abre alas, gastando os tubos, para as motos parrudas da motociata de Jair Bolsonaro, infernizando a vida do paulista no feriado, sob o farisaico nome de “Acelera para Cristo” e, no mesmo dia, bloqueia e “pede documentos” ao padre Julio Lancelotti por causa de sua “Via Crucis dos Pobres“, com moradores de rua da capital paulistana.

Retrato do Brasil e de sua hipocrisia, a pobreza é suspeita e a ostentação, admirável.

Aos pobres, os gemidos; aos ricos, o rugir das máquinas, os novos tanques do poder autoritário.

Nunca se fez mal a esta gente que odeia a procissão da pobreza sobre as calçadas.

Mas muito mal se fez e se faz com os que as juncam, com seus corpos, nas madrugadas já frias.

Talvez os “cristãos de alta cilindrada” da motociata devessem ler Lucas, 6.

No versículo 46, pergunta-se: “Por que vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?”.

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