O interrogatório de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, desenhou claramente o que acontecia por lá .
Ficou evidente que havia duas forças em choque: Dias, indicado do deputado Ricardo Barros e as “forças especiais” de Élcio Franco e, portanto, de Eduardo Pazuello.
As duas correntes entraram em choque, quando Dias cria obstáculos a uma compra de extratores de testes para Covid com preço escandalosamente superfaturados.
A história começa em junho do ano passado, quando o governo dispensa os dois auxiliares diretos de Dias no departamento: dia 9 de junho, o tenente-coronel Alex Lial Marinho vai para a Coordenadoria-Geral de Logística de Insumos Estratégicos para Saúde, no lugar de Fabiane Karwowski e,seis dias depois, com a designação do também tenente-coronel Marcelo Batista Costa no lugar de Luciana Karkowski.
As duas Karkowski são do Paraná, estado de Ricardo Barros. Acaso, acaso…
A solução então era tirar Dias do caminho sem dar um tapa em Ricardo Barros. E isso se faria com sua exoneração ser “casada” com sua indicação para a Anvisa, feita em agosto de 2020.
Mas vem à luz que Dias, em 18 de Setembro, toma uma posição de anular um contrato para testes anticovid que, segundo ele, estava cheio de “vícios”.
Isso sai no Estadão no dia 26 de outubro e Bolsonaro retira a indicação de seu nome mesmo dia.
Mas era preciso contornar a defesa da posição de Ricardo Barros no Ministério e Dias, mesmo cercado de “forças especiais” seguiu no cargo, mas “jurado de morte”.
No início de janeiro, quando, depois de muita resistência, o governo cede a fazer negociações para a compra de vacinas, uma portaria retira todos os poderes de Dias nas negociações de imunizantes para a Covid.
Se o caso do Cabo Dominghetti-Davani, para a compra de 400 milhões de vacinas – que só pela quantidade fedia a armação – foi arranjado para fazer “crescer o olho” de Dias ou se ele é idiota de “combinar” um negócio desta monta num “happy hour” de shopping, não importa. Como disse há dias o presidente da CPI, Omar Aziz, “chapéu de otário é marreta” e, por gula, relacionar-se com um óbvio estelionatário, caiu a Dias o papel de otário, querendo morder mais do que lhe cabia na boca.
Importa é que finalmente houve um caso público, com a história do pedido de um dólar, para degolar, sem possibilidade de defesa, o afilhado de Barros do Ministério.
Impedido de apontar diretamente o seu conflito com Élcio Franco como causa da sua desgraça, passou o tempo todo fazendo apenas insinuações.
Ainda assim, coloca Élcio Franco em posição difícil, porque não pode dizer que era Ricardo Barros, o líder de Bolsonaro na Câmara, que mantinha e continuava a tentar manter, o controle dos “pixulés” a quem Eduardo Pazuello atribuiu sua queda.