O dilema de Moro e Ciro

Com tantas diferenças, Sergio Moro e Ciro Gomes enfrentam um problema similar em suas candidaturas.

Não conseguem superar – nem sequer se aproximarem – do ídolo que pretendem derrubar. Bolsonaro e Lula não perdem senão farelos para os seus ex-ministros que pretendem enfrentá-los.

Mais ainda, logo verão parte desta poeira ser atraída, pela força gravitacional da polarização, de volta ao núcleo de onde ser soltaram.

Moro achou que poderia ficar longe da polêmica – e da política – num exílio bem remunerado nos EUA e que, quando desejasse, faria sua rentreé triunfal, saudado como salvador da pátria e rivalizando com Bolsonaro no eleitorado conservador.

Só mesmo na rejeição, porém, já que ambos assinalam mais de 60% das declarações de que neles não votariam de jeito algum os eleitores.

60% de rejeição para quem está na chefia de um governo desastroso, explica-se por isso mesmo, mas para que é franco atirador, como o ex-juiz, revela um grau de ojeriza que vem menos dos seus atos que de seu caráter. Portanto, mais difícil de ser revertido.

Além do mais, se Moro não tem partido senão formalmente a apoiá-lo – condição em que empata com Bolsonaro, este tem (ainda) os partidos informais das Forças Armadas, das polícias e das milícias, além de parte das igrejas evangélicas, a darem capilaridade à sua candidatura, o que falta ao ex-líder da Inquisição brasileira, além de inteligência inata e a construída pelo traquejo político.

Sua candidatura, que seria um foguete em seu imaginário e sobe semelhante, no máximo a um balão japonês, vacilante e lerdo e isso realmente não empolga a festa.

Já Ciro Gomes, sobre quem os jornais registram as dificuldades de manter a fidelidade da bancada do PDT, está sofrendo os efeitos negativos daquilo que estabeleceu como seu eixo central de campanha, e desde de 2018: o de pretender ser o contraponto, o antagonista de Lula.

Desde lá, nunca funcionou.

Quando deixou de lado a oposição a Bolsonaro como centro de seu posicionamento, com a omissão cúmplice no segundo turno daquela eleição, Ciro cravou seu limite para o futuro. Quem tolerou a vitória de Bolsonaro não pode pretender seu maior adversário, algo que, com mais força, pela adesão explícita, levou João Bolsodória à situação deplorável em que está hoje.

Ciro surgiu, para Carlos Lupi e para a bancada de um PDT que tem pouco a ver com a herança de Leonel Brizola, surgia como uma possibilidade de sobrevivência e, até, de expansão mas, agora, representa um risco de aproximar-se, na votação nacional, do limite da cláusula de barreira que passa a ser aplicada este ano.

Ciro pretende, ao que se noticia, com mais do mesmo e corre o risco de agravar seu isolamento.

Não aparece, hoje, nenhum sinal de que se vá quebrar a polarização entre Bolsonaro e Lula.

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