O Dr. Joaquim, Mr. Trump e o cachorro doido

maddog

Vi ontem na internet o Dr. Joaquim Barbosa – it’s alive! – admitindo que, por ser “um homem livre”, poderia vir a ser, em tese, candidato a Presidente em 2018. Hoje, procurei em O Globo, versão impressa – e não vi uma linha.

Deu-se, ali, no papel, a nenhuma  importância política que hoje tem o personagem que era, não faz muito tempo, o “salvador do Brasil”. Como a memória é curta, seu colega, o juiz Sérgio Moro, desfecha mais uma fase, a 567.845ª, da Lava Jato, mandando prender um cidadão que já estava preso…

Leio também, que tudo se vai acalmando, com a esperança de que Donald Trump – graças a Deus! – será infiel às ideias que professou na campanha eleitoral e que, afinal, lhe deram a vitória. O “real market” o conterá. A chamada da primeira página do site da Folha é de uma explicitude quase religiosa: “Choque de realidade pode frustrar eleitores de Trump“.

É, sabemos bem o que é o eleito pela vontade do eleitor curvar-se às “realidades” do mercado…

Todos eles, porém, são muito menos importantes, porque as glórias do mundo são passageiras, do que aquilo que despertam.

Com o Dr. Joaquim, de quem poucos se lembram, nosso país ganhou o Judiciário-espetáculo, onde os que se continham diante da generalização do termo “mensaleiro” a quem quer que fosse acusado e que, no dizer da Ministra Rosa Weber, a jurisprudência e não as provas cabais, permitia condenar.

Quem discordasse, gostava de pizza.

Evoluímos daí para o atual “não temos provas, mas temos convicção” atual. E para as delações premiadas e condenações por atacado, que saem em catadupas, das celas e do tribunal curitibano.

E claro, quem diverge disso é protetor de corrupto e, provavelmente, corrupto também.

Tudo isso, porém, por mais que não se apaguem os holofotes da mídia, poderia serenar e restabelecer-se com novas eleições, num mundo ideal, onde a sociedade fosse como um computador que, quando trava, pode ser reiniciado e pronto, sem maiores consequências.

Infelizmente, não é possível um ctrl + alt + del nas relações político-sociais deterioradas por processos assim.

É que estes processos, cá ou lá, despertam ódios, intolerâncias, generalizações imbecis, culpas a priori, criminalização da política, transformação da imprensa em “promotoria”  (ou “defensoria”, conforme o pendor do “réu”) e a formação do pensamento “cachorro louco”, aquele que, de tanto ódio, crava os dentes em sua própria carne.

Recolho, do facebook de uma brasileira que vive – modestamente – nos EUA, a seguinte pérola deste estado de espírito (ou de perda dele):

Você gosta de pagar um montão de imposto para vim um cubano e ter até aluguel pago com o meu dinheiro!Eu sou mulher sou imigrante e estou muito feliz com o resultado e sabe porque? Porque antes de ser mulher e imigrante eu sou trabalhadora e estou cansada de pagar impostos altíssimos pra sustentar preguiçosos!!! Quem vem pra cá só pra ter filhos e ser sustentado pelo governo.”

Tudo com o apoio de outra brasileira, negra, casada com um norte-americano.

Não duvide que, em São Paulo (e não apenas lá) haja milhares de  descendentes de nordestinos vociferando contra os nossos “cubanos”, os “baianos do bolsa Família”. Ou descendentes de gente pobre que nos veio da Europa e viveu, à custa da caridade estatal, na velha Hospedaria dos Imigrantes vociferando contra a praga dos haitianos ou venezuelanos, ou dos bolivianos…

E isso é contagioso, porque, sabemos desde antes de Isaac Newton,  ação conduz à reação de igual direção, intensidade e sentido contrário.

No campus de uma universidade no Illinois, relata uma ex-aluna, apoiadores de Trump foram provocar e xingar estudantes latinos, muçulmanos e portadores de “outras maldições”.

“Estudantes negros estão registrando incidentes de agressão e ameaças no campus hoje partindo de eleitores do Trump. Um estudante disse que sua amiga viu um homem puxar uma faca em direção à um muçulmano no ônibus a caminho do campus. Diversos estudantes latinos tiveram simpatizantes de Trump os intimidando ou ameaçando. Há um estudante se vangloriando abertamente online por ele e seus amigos serem os responsáveis por escreverem mensagens de ameaça do lado de fora do edifício de estudos latinos no ano passado, e disse que com Trump como presidente, eles estão agora empoderados pois o grande líder da nação compartilha de suas opiniões de que os latinos não pertencem aqui. Estudantes e funcionários presenciaram  hoje simpatizantes de Trump gritavam quando estudantes negros passavam por eles. Neste momento há um homem agitando uma bandeira americana e gritando com estudantes negros.”

E o recolhimento e tristeza dos anti-Trump, além de marchar da Union Square e  até a Trump Tower, numa Avenida Paulista novaiorquina  ao revés,  já falam em “derrubá-lo”.

A mídia e a direita colhem sua semeadura maldita.

Os personagens cria para a sua feitiçaria político-social tomam vida numa multidão, em muitas multidões.

E em uma crise permanente  que aniquila e destrói.

Ao transformar a disputa política (a qual dificilmente vence)  e social (na qual muito pouco perde)   em disputa racial, sexual, religiosa e, sobretudo, moral, a classe dominante e sua máquina de propaganda (e de formação de práticas sociais) abrem  as porteiras da selvageria para um caminho que só termina em países arruinados.

E, no caso de impérios, na guerra.

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