O fim do primeiro ato

Daqui a pouco, após a missa que lembrará os 68 anos de nascimento de Marisa Letícia, provavelmente Lula irá ao encontro de seus captores da Polícia Federal.

Será o fim do longo primeiro ato da tragédia brasileira, inciada em 2013 e que ganhou personagem central no ano seguinte, quando Sérgio Moro começou a sua caminhada desde as sombras em que montou, com a ajuda de seu velho delator Alberto Yousseff, a Operação Lava Jato e galgou o estrelato nacional, sob as luzes e os salões da mídia.

Em quatro anos, apenas, curto tempo para tragédias políticas, transformamo-nos de um país de exalava esperança e auto-estima em outro, que exala ódios e prazeres mórbicos, quase que numa catarse daqueles famosos “instintos mais primitivos”

Nada mais retratador desta regressão à incivilidade que a “cervejada” grátis  promovida ontem diante de um bordel paulistano, para comemorar a prisão de Lula, devidamente ilustrada pela imagem dos “coronéis” que o mandaram à cadeia, claro que ambos puros como congregados marianos.

Ocorre que, agora recolhido à prisão, Lula é o “morto que segue vivo” e, por um lugar que não buscou, mas o obrigaram a estar, veste os trajes do martírio.

Lula, que se tornou forte com aquilo que Leonardo Boff definia como um dos sacramento da vida – a alegria, a festa, onde os homens dizem sim a todas as coisas – por simbolizar desejos e esperanças, foi transformado naquele que encarna as dores e frustrações de uma população sempre – e cada vez mais – marginalizada e espoliada.

“Promoveram-no” de santo a mártir.

Começa, agora, com esta carga simbólica e com data marcada – 7 de outubro, o dia das eleições – para seu ponto dramático, o segundo ato da tragédia brasileira, a narrativa de um país que “quase” se descobriu um só, até ser revelado que, de fato, são dois. Porque assim o querem suas camadas dominantes, incapazes de vê-lo como um corpo único e gigantesco.

Preferem fruir das ricas migalhas que nosso atraso lhes dá, atrás das grades, cercas e vidros blindados e escurecidos, para que não lhes vejam e contam que as forças represssivas da polícia, do judiciário e – por que não? – dos militares para que o insustentável se sustente.

Fernando Brito:

View Comments (28)

  • Vamos lembrar de Brizola. Se o jornal nacional pede cadeia para Lula, devemos ser contra a cadeia para Lula. Asilo, por favor.

  • Há uns trinta e sete anos que sigo o PT. Passamos por momentos triste e momentos muito alegres como as festas das posses de Lula, com o povo comemorando nas ruas.
    Hoje passamos por um momento triste, mas as lágrimas e suor da luta servirão para ajudar a amalgamar a consciência de classe do povo brasileiro. Ele sabe que quem está indo preso não é um bandido, é um dos seus, um do povo que ousou chegar ao poder máximo, que elevou o país no respeito mundial, que erradicou a fome, equiparou as chances do pobre chegar à universidade...
    O povo sabe ser grato, mesmo que continue sendo golpeado. O troco virá. Vamos botar um mais radical que o Lula, que é um conciliador.

    • (...)A bandeira segue em frente atrás de melhores dias
      No estandarte vai escrito que ele voltará de novo
      E o Rei será bendito, ele nascerá do povo,(...)

  • LULA deveria pedir asilo político e continuar a luta. Preso, Lula vai virar troféu da Globo e vai morrer na prisão.

  • Não se entregue Lula!!!
    Não se culpe se algo acontecer por uma possível invasão, a culpa não será sua, a culpa será da globo e da justiça.
    Todos já estão cientes disso.
    NÃO SE ENTREGUE, deixa a PF invadir, se ela tem coragem!!!!

  • Um amigo meu acertou em cheio sobre o destino daquele policial que denunciava Aécio Neves. Ele disse: "Se for preso, vai amanhecer "suicidado". " Foi o que aconteceu. Depois ele disse: "Acho o Michelzinho muito parecido com o Joesley Batista," Será? Pensei eu. Depois eu li que Temer fizera cirurgia de próstata aos 70 anos, quando deve ter sido o ano em que gerou Michelzinho. É deveras muito estranho. Agora, esse mesmo amigo adivinhador fica dizendo que Lula pode amanhecer "suicidado" também. Sei lá, sei lá...Eu, por meu lado, acho que a Maçonaria tão mal afamada é que está dando as cartas, e me vem à memória o que o maçom Aécio disse: "Tem que ser um que a gente mata antes de delatar." E aquele outro maçom e pastor 171 lá da Penha que afirmou que seus seguranças atiram para matar e não erram.

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