O império das corporações destrói a democracia

Os romanos não permitiam que um general com legiões atravessasse o rio Rubicão, isto é, se aproximasse de Roma, como forma de defender a sua república.

As constituições nasceram para limitar o poder dos reis.

A república moderna pariu-se da Revolução Francesa, para retirar o monopolio do mando pela nobreza e pelo clero.

A história da civilização é uma história de como as sociedades limitam o poder de indivíduos e de corporações.

No Brasil, de alguns anos, acontece o inverso. No nosso processo de “descivilização”, o que aconteceu foi o poder crescente e quase absoluto de personagens e de grupos.

Criaram-se ou hipertrofiaram estruturas de poder inquestionável: “Força-Tarefa”, “juiz da Lava Jato”, Polícia Federal…

A “causa da moralidade” é sempre a pretensa justificativa da tirania, a razão absoluta dos autoritários para violarem todas as regras que a sociedade construiu para proteger seus direitos.

Foi preciso, neste processo, acabar com o sistema de freios e contrapesos próprio das democracias.

Tribunais superiores, conselhos, todos os órgãos que deveriam impor limites àquelas estruturas foram avassalados, ao ponto de qualquer de seus integrantes que ousasse manifestar objeções à conduta do núcleo de perseguição formado em Curitiba.

A escalada autoritária avançou, pacientemente, durante anos e lançou-se ao último degrau, ao último ponto de apoio que faltava para alcançar o topo: ascensão do “capo” desta máfia ao posto de ministro e, daí, á formalidade de elegê-lo Presidente da República.

Por sorte, hacker, jornalismo independente (coisa rara por aqui), ou providência divina, neste momento trincou a pedra fundamental desta ascensão: a revelação de que tudo foi, desde o princípio, uma conspiração.

Há resistências, ainda, a entender que não é “um” comportamento errrado entre juiz e promotor o problema.

O problema a ser superado é o método.

A democracia, como o corpo humano, não pode sobreviver quando quistos se hipertrofiam. A própria hipertrofia induz à degeneração, que se espalha como metástase.

Será um longo e duvidoso processo de limpeza, indispensável, porém, para a sobrevivência harmônica de uma sociedade que se pretenda civilizada.

 

Fernando Brito:

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