Em longa entrevista à Folha, o marqueteiro da campanha de Sergio Moro diz que seu “alvo” são os “bolsonaristas decepcionados”.
Com todo o respeito, é uma bobagem sem tamanho em matéria de estratégia.
Bolsonaro teve, em 2018, 55,13% dos votos válidos e 49,85% dos votos totais. Portanto, caso tenha perdido metade dos seus votos, os “bolsonaristas arrependidos são apenas 25% dos eleitores.
Para um candidato a presidente da República escolhe falar para um quarto, apenas, dos eleitores é suicídio. Quem quiser provas, veja se Lula fala o tempo todo de Bolsonaro. Claro que não, na maior parte do tempo está fazendo crítica social e econômica do país, coisas que afetam 100% – ou quase – dos cidadãos.
Agrava-se isso quando deixa-se de considerar a grande praga que assola quase todos os outros candidatos: o fato de terem dado seu aval ao ex-capitão. É como alguém vender a você um carro “bichado” e, tempos depois, vir te oferecer outro, garantindo que “aquele era ruim, mas este é bom”.
Dizer que vai tratar dos problemas econômicos e sociais e fazer isso dizendo que adotará “forças-tarefa” – versão policialesca das antigas “comissões de alto nível” típicas dos que não tinham soluções , porque “não dá para passar ao largo” é quase uma confissão de que aquelas questões são uma aborrecida necessidade quando se pretende essencialmente o poder.
Nada porém é tão sincericida quanto a frase “O Bolsonaro está no nosso espectro”.
Sim, é isso: está no mesmo campo, no mesmo grupo de pensamentos, no mesmo espectro ideológico, apenas apresentando-se de outra maneira, como se as grosserias e os modos chulos do atual presidente fossem o seu problema e não a postura odiosa e as políticas que nos levam ao caos.
Moro tinha um ponto eleitoralmente muito forte e que usou para ajudar Jair Bolsonaro: a sua imagem midiática de campeão da integridade. A ‘boca” no governo, o desejo frustrado de ir para o STF, os diálogos da Vaza Jato, a decretação pela Suprema Corte de que foi um juiz parcial e, finalmente, o fato de ter ido trabalhar para uma empresa norte-americana que se encarregou de enterrar os ossos das empreiteiras que a Lava Jato quebrou acabaram com esta imagem e “sobrou” disso a própria razão de toda a sua trajetória judicial: o ódio a Lula.
Será este, nenhum outro, o mote de sua campanha eleitoral, se ela for até o final. Seu argumento central é de que ele “será o melhor” meio de derrotar o ex-presidente e, por isso, seu antibolsonarismo só tem esta razão de ser.
E, claro, o ódio que tem do atual presidente por não ter dado o que ele queria, o que é tão evidente que até João Dória, do alto dos seus 3% de intenções de voto, manda recados de que lhe poderia dar: um cadeira no Supremo.