O Estadão anuncia como “eleitoral” a intenção da Presidenta Dilma Rousseff de estender para uma fatia maior da classe média os benefícios do programa “Minha Casa, Minha Vida”.
Curioso, porque uma das mais graves deficiências das políticas sociais brasileiras, nas últimas décadas, foi ter deixado, exclusivamente, por conta do “mercado” a construção de habitações, tanto para o povão quanto para as classes médias mais simples.
Nos meus 55 anos de vida, vi as gerações mais antigas terem um lar por conta das políticas estatais de habitação.
Meu querido avô, um operário, pagou durante 40 anos a casa modesta, mas digna, em Realengo, ao IAPI, o instituto de previdência dos industriários, num fundo de financiamento formado pelas contribuições dos trabalhadores para a recém criada previdência pública, com Getúlio.
Minha mãe, professora, depois de separada, finalmente conseguiu comprar sua casa pelo instituto dos servidores da antiga Guanabara.
Eu… bem, quando cheguei aos primeiros tempos da maturidade já não havia nada para toda uma geração (e depois outra, e outra leva de jovens) apoiar-se na compra de uma casa.
Foram anos e anos, para mim e para milhões, de alugueis levando pelo ralo boa parte dos nossos salários.
Quando – e se – finalmente conseguimos foi com financiamentos sufocantes feitos via bancos privados, que criaram crise sobre crise de inadimplência no setor.
O Estadão trata, porém, como “eleitoreira” a medida de ampliar um pouco mais as franquias concedidas pelo “Minha Casa, Minha Vida”, como se nos grandes centros urbanos, hoje, não fossem modestas as moradias pouco acima dos 190 mil fixados, hoje, como teto do programa.
Não consegue enxergar o problema humano que está na construção de vidas sem ter a segurança do morar.
É curioso ainda mais porque ocorre no mesmo dia em que o “concorrente” do Estadão, mas parceiro na visão elitista do país, a Folha, publica artigo de Eliane Cantanhêde protestando contra a aplicação aos cartões de débito e aos de crédito pré-pagos, nos gastos nos exterior, as mesmas alíquotas de imposto já existentes para o cartão de crédito comum.
Diz que o Governo está cortando os “brioches” da classe média emergente.
Afinal, o que é poder comprar uma casa perto de comprar bugigangas em Miami, não é?
9 respostas
Para os jornalecões, tudo o que melhora a vida do povo é “eleitoreiro” e “populista”. E todas as medidas que prejudicam o povo são medidas “corajosas”.
Roberto, é exatamente isso. Quando leio no PIG “eleitoreiro” posso traduzir como “bom pro povo”
Trabalhei mais de trinta anos, aposentei-me proporcionalmente por não ter registros de todos os locais nos quais trabalhei. Passei por muitas crises e sempre paguei aluguel desde que saí da casa que foi dos meus pais. Hoje, pelo sistema atual de financiamento, aos 67 anos, teria somente 13 anos garantidos pela CEF e o custo seria além do que posso pagar pela aposentadoria. Não tenho herdeiros. O país terá em breve uma população de velhos, conforme as estatísticas oficiais. Não sei quantos idosos existem na mesma condição. Por que o governo não cria um sistema alternativo de financiamento para arrendamentos de domicílios, que voltariam para o banco ou o Estado depois da morte ou incapacitação do usuário? A incapacitação seria o maior problema, que aí só um asilo ou a generosidade de parentes para resolver. Pelo menos, enquanto o idoso for capaz, os preços seriam compatíveis com as rendas dos candidatos e sem o perigo de despejo ou suspensão de contratos por conta da alta do mercado imobiliário.
Olá, Maria Rita: com alguns poucos anos mais do que você, hoje vivo da minha aposentadoria conseguida por tempo de serviço. Não obstante, achei criativa e oportuna a sua proposta. Parabéns. Acho que seria conveniente encaminhá-la para os nossos representantes no Congresso Nacional. Abs.
Concordo com o Roberto Cabrera quando diz que o financiamento deveria ser estendido a imóveis usados, para diluir um pouco o controle dessa área, que fica todo nas mãos das construtoras. Seria muito bom poder comprar imóveis antigos, prédios abandonados e apartamentos usados nas áreas centrais, para revigorar esses espaços e criar uma dinâmica de ocupação espacial mais rica, diversificada e inclusiva!
A proposta de possibilitar financiamento de imóveis usados poderiam juntar-se à excelente proposta de Maria Rita, voltada para os maiores de 60 anos, pedindo que o Estado crie um sistema alternativo de financiamento para arrendamento de domicílios, que voltariam para o banco ou o Estado depois da morte ou incapacitação do usuário!
Por favor me nomeie o ” MERCADO”, fica mais fácil a gente ir conversar com ele.
Mercado neste setor são : as construtoras, as incorporadoras, os investidores em imóveis com objetivo de obter renda com aluguéis, os especuladores imobiliários com adquirem terrenos nas cidades e os deixam “parados” a espera de valorização e outros. Os jornalões representam estes setores ? Sim. Basta ver a quantidade de propaganda ($$$) nos jornalões de lançamentos imobiliários destas empresas.
Resumindo são aqueles que obtem lucro com a escassez de imóveis. Por isso são contra programas do governo para diminuir a demanda por imóveis.
Não leio o PIG, acho que só nossos blogueiros deveriam consultá-lo a fim de nos informar para melhor o combatermos. Quanto mais acessamos, lemos ou assistimos, estamos, na verdade, lhes dando dinheiro. E por mim, podem definhar até apodrecerem.
Globo, apenas futebol, do mais, sequer dou uma olhada. Veja, Folha, Época, Estadão… nada disso recebe minha atenção e meu dinheiro suado.