Uma pessoa de bem não pode calar ou relativizar um assassinato frio e brutal, onde a cor da pele foi determinante na atitude dos assassinos a soldo de uma multinacional.
Ponto final.
Mas estamos cheios disso.
Um presidente que acusa que é vítima de “semear a discórdia” e vai dizer no G-20 que a luta por igualdade racial é “máscara” de “luta pelo poder”.
Um vice-presidente que diz que “racismo não existe aqui, é importado”, tese que “a chefia” hoje endossou.
34 juízes, em Pernambuco – a terra do negro Henrique Dias, herói de Guararapes – que se desligam de uma associação por não aceitarem a “infiltração ideológica” de discutir racismo com magistrados.
Não, não é que sejam “apenas” racistas e fascistas. São, por isso e por mais que isso, covardes.
Se estas questões não puderem ser tratadas por meio da política, do debate e da formação de uma consciência pública de que são inadmissíveis, serão tratadas como, no porrete? Na bala? Ou melhor, no chicote?
O fato de sermos um país miscigenado não nos isenta da chaga racista, porque esta mistura tem fases e as que ficam acima desta mistura são (ou se acham) brancas e as mais baixas, negras, mulatas, caboclos e indígenas.
Negam, negam, negam sempre a realidade, negam o que fazem e o que pretendem fazer, porque o que desejam é feio e nojento demais para que seja dito de forma clara, alto e bom som.
Se pudessem dizer, já teriam acabado com a Lei de Cotas, com a Lei Caó, com a Lei Afonso Arinos e até a Lei Áurea.
Mas, sem querer, fazem um bem à população.
Exemplificam, na prática, como a porção mais burra da elite brasileira – e nada pequena é, como se vê – é escravocrata, é racista, é desumana e é bruta.
No fundo, a morte de um negro, espancado indefeso como num tronco escravocrata não lhes causa nojo, causa-lhes prazer.
Mas a dos demais pobres, todos pretos de tão pobres, também não e é por isso que, por estas bandas, faz tempo que vidas pobres não importam.