O ministro da Justiça e sua “delação verdadeira”. Por Janio de Freitas

soumfora

Mestre Janio de Freitas, a quem só a imbecilização do que resta de leitores à Folha deixa de reconhecer o talento e a honra que lhe marcam as seis décadas de jornalismo, escreve hoje uma coluna demolidora sobre o estado “ético” do governo e da Justiça brasileira, nesta era monstruosa em que estamos vivendo.

Vale a leitura. E vale a vergonha que é inevitável  sentir.

Moraes mostra que governo tenta influenciar Lava Jato

Janio de Freitas, na Folha

Nem a “investigação” do ministro da Justiça se justifica, antes devendo-se um agradecimento a esse precário Alexandre de Moraes; nem é verdadeiro que desembargadores paulistas tenham apenas anulado os cinco julgamentos e condenações precedentes dos 74 PMs do massacre de 111 presos no Carandiru.

A tal investigação, por Moraes ter informado jornalistas de nova operação da Lava Jato nesta semana (a prisão de Antonio Palocci), está a cargo da Comissão de Ética da Presidência. A Comissão, porém, não tem condições de investigar a ética de alguém, se não olha à sua volta e toma as providências consequentes.

Está na sua vizinhança, com banca de ministro na Presidência, um “anão do orçamento”, integrante do grupo de deputados que fraudava o Orçamento nacional em proveito próprio. Também com banca na Presidência, também o recordista de fraudes em concorrências, mancomunado com as grandes empreiteiras quando governador do Estado do Rio. E, para não perder mais tempo, um presidente homenageado por delações na Lava Jato e pendurado em processos na Justiça Eleitoral. Nenhum deles notado pela Comissão de Ética.

Acima de tudo, Alexandre de Moraes fez uma delação verdadeira. Quando delações de óbvia falsidade são feitas para receber prêmios, e aceitas como válidas, a delação que se comprovou, já de um dia para o outro, não deveria passar pela inversão ética de ser ela a perseguida.

Se esses argumentos forem insuficientes, ainda há o serviço prestado ao país por Alexandre de Moraes, como convém a um ministro da Justiça. No governo Dilma, os aécios não se cansaram de propalar que o governo interferia na Lava Jato, prejudicava-a, queria controlá-la. Até que o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, em nome da Lava Jato, disse que o governo jamais fez, ou tentou, qualquer interferência na operação.

Moraes e sua delação aos repórteres revelaram mudança essencial. Mostrar-se informado de próximas ações da Lava Jato significa que o governo atual extinguiu a distância que o separaria das operações, como se deu com a liberdade plena entregue, por Dilma e José Eduardo Cardozo, à ação da Polícia Federal.

Conhecimento das ações da Lava Jato, sendo a PF subordinada ao ministro, só tem sentido se for para praticar o poder hierárquico de influência. Para quem se lembra do que disseram Romero Jucá e outros, sobre a necessidade e modo de “parar essa sangria” feita pela operação, Moraes deu sinal de grande utilidade. Por mim, muito obrigado.

O sexto julgamento do Carandiru, por sua vez, ocorre quase um quarto século depois do massacre. Os desembargadores Ivan Sartori, relator, Camilo Léllis e Edison Brandão determinam que o processo volte ao começo. Por sorte, não pensaram em começá-lo um pouco mais atrás, pelo morticínio de 111 presos.

Cinco conjuntos de condenação anulados em sequência, um quarto de século de liberdade e impunidade dos acusados –o que é isso, se não for uma forma de absolvição? Os 74 PMs estão absolvidos de fato, em demonstração irrefutável do massacre que o sistema de Justiça –não os juízes como indivíduos, o sistema que os engolfa– aplica na ideia de Justiça.

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6 respostas

  1. … Ainda acerca do ‘braZ$&l’ na era da ‘merdiocridade’ &$ da ‘TEMERidade’:
    “O atual ministro da Justiça é um fora da Lei!” Por honrado e impávido Patrus Ananias

    Pano rápido!

  2. E ainda vêm aqui os PATETAS ESTATIZADOS GOLPISTAS DO TEMER (QUE NÃO BOIAM) pregar moral de cueca e dizer que são contra a corrupção. Além de PATETAS, são HIPÓCRTITAS.

  3. Depois daquele golpe rasteiro e baixo nas instituições democráticas o que mais pode se esperar destes senhores do executivo. É dai prá pior. Moralidade zero. Decência zero. Ética zero. Não se pode enganar a todos o tempo todo. Engana-se os que deixarem serem enganados, mas até quando? Até quando durarem as conveniências. Tenho vergonha de após longo período de vida estar passando por situação de tanta baixaria e irresponsabilidade com a coisa pública. Sinto pelos meus filhos e netos que herdarão um país, a princípio, sem princípios éticos, morais e cívicos. A Ordem virou desordem e o progresso, um grande retrocesso. Aqueles que se enrolaram na bandeira verde e amarela e foram para as ruas gritar “Fora Democracia” devem estar sentindo alergia de si mesmos. Não acredito que pessoas de bom senso ainda consigam visualizar esta balbúrdia como solução para a pátria. Nunca é tarde para consertar erros. Já passou da hora de virarmos e rasgarmos esta página negra da nossa história. Eleições diretas já. O Brasil precisa e merece!

  4. A Justiça estava pronta para a Republiqueta de Bananas que nos tornamos. A impressão que dá é que estavam muito incomodados com os Governos do PT onde tinham que manter a aparência. Nossa justiça é composta de ratos, ratazanas e outros bichos do esgoto… em seu conjunto não passa de detrito sólido de maré baixa… A prova está aí, como as coisas se encaixam perfeitamente com um ministro desse quilate! Olha o MP, a PF e todo o resto: tudo perfeito para voltarmos aos bons tempos de República das Bananas!

  5. Que isso? Assim vocês matam os coxinhas. Estão todos envergonhados que nem vomitaram neste artigo. Ainda. Daqui a pouco eles aparecem aqui defendendo o Moraes, sempre com seu besteirol de sempre. Ou será que estou enganado e a ficha deles começou a cair?

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