O olhar dos humilhados

A foto de Domingos Peixoto, na edição online de O Globo é só um amargo aperitivo de muitas mais que virão por aí nos próximos dias.

Os maníacos e os insensatos jamais pensarão nesta mulher revistada hoje na Favela da Kelson’s como sendo a sua mãe, nem no garoto que assiste a cena como se pudesse ser seu filho. Nunca cogitarão da humilhação que isso lhes faz.

Eles responderão: “ah, mas o tráfico pode estar usando a mochila do menino como disfarce”.

Claro, se tivessem alguma indicação disso, poderia se justificar.

Mas não, a “atuação profissional” do Exército, para variar, virou uma loteria. Retém todo mundo, revista todo mundo, que uma hora a gente acha “o bagulho”.

Algum resquício de inteligência policial nisso?

Nenhuma consideração sobre a humilhação e o constrangimento a que vão submeter milhares e milhares de pessoas simples, honradas, seres humanos.

Nenhuma investigação para saber – tão difícil, não é? – onde ficam os traficantes, quem são, como operam…

O próprio porta-voz do Exército diz que não há nenhum objetivo além de criar o clima de ocupação militar.

— A Operação tem objetivo de coibir, ela não tem objetivo de números. Só quer fazer ação de presença, coibir atividade ilícita. Não há cumprimento de mandados, prisões a serem realizadas. Não crie expectativa de números.

Ora, perdão, mas presença de homens armados de fuzil é algo tão simples que até o tráfico faz.

Qualquer operação destas no Baixo Leblon ou nos Jardins apreende mais drogas do que algo feito assim.

Mas lá, não, não é?

Eles não são negros, eles não são pobres, eles não são bichos.

Cuidado, porém.

Eles não são muitos.

E os humilhados e ofendidos são. E se enxergam nestas fotos onde mauricinhos e patricinhas não veem seres humanos.

 

Fernando Brito:

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