O pão-de-ló

“Eu sou que nem pão-de-ló, quanto mais me batem, mais cresço”. A frase, que ouvi tantas vezes de Leonel Brizola em campanhas eleitorais, aplica-se hoje perfeitamente a Fernando Haddad nos enfadonhos debates de televisão entre candidatos.

Recuperando trechos do debate, que não pude assistir ao vivo, e lendo sua análise nos jornais e sites, fiquei impressionado com a convergência no nada.

Rivais sobem tom contra Bolsonaro e Haddad em debate na TV“, diz a Folha; Centro sinaliza união em debate e ataca ‘radicalismo’ de Haddad e Bolsonaro, afirma o Estadão, enquanto O Globo escreve que “Em debate, candidatos a presidente atacam Bolsonaro e Haddad, e criticam polarização.

É mais do mesmo que venho afirmando aqui: todos tentando comer do prato do antipetismo e, portanto, todos ficando com algumas migalhas, porque o “grosso”  disso já está com Bolsonaro.

A meu ver, o mais equivocado de todos é Ciro, que tinha uma avenida aberta à sua frente para ser o que de fato é: um dos mais ácidos críticos de Michel Temer, o odiado. Era um campo onde, afinal, reinaria praticamente sozinho ou poderia disputar com Haddad.

Escolheu  ser “mais um” antipetista e o resultado é que saem todos numa “geleia geral” onde até o histriônico Cabo Daciolo agora resolveu entrar.

Falam contra “o radicalismo”, mas seu comportamento agressivo destoa completamente da ideia que acham pretender passar.

Fica nítido ao espectador que ali não há esperança de vitória, trata-se apenas de “segurar o meu eleitor”.

E eleitor, na última semana, não se segura, exceto os militantes: ou se ganha ou se perde.

Haddad, se não tem boa “presença de palco” – ponto forte de Ciro – está transmitindo sinceridade e uma calma paciente que para alguns de nós, mergulhados na polêmica política, chega a incomodar.

Do ponto de vista da comunicação política, porém, ele está certíssimo: está falando a eleitores que estão em casa, os olhos brigando com o sono, cansados. E cumpre seu objetivo, de resto fácil num debate sem peso eleitoral: não produzir ou deixar que se produza qualquer ato que lhe possa tirar votos.

Cresce pelas críticas dos outros que, assim, ratificam sua condição de favorito.

E que, fazendo do antipetismo agressivo e raso seu cavalo de batalha, acabam ficando com cara de “ajudantes do ex-capitão”.

Fernando Brito:

View Comments (32)

  • Oposição bisonha, não tem plano de governo.
    Ficam falando do deus deles e criticando o PT.
    Parece mesa redonda sensacionalista e não um debate político.

  • Eu olho pra essa foto e penso que um dia esse negócio de querer juntar os candidatos num "debate" com pretextos democráticos vai ter ficado pra trás, dos tempos em que a tevê era a única maneira de conhecer quem eram aquelas pessoas. Parece tão anacrônico e tão "jogos vorazes" ao mesmo tempo. E fico tentando imaginar se existe do outro lado do aparelho de tevê pessoas que genuinamente queiram ouvir o que é dito para além do que já decidiram, de acordo com o ambiente em que estejam visceralmente inseridas.

  • Será que um debate chocho realizado às 22 horas de um domingo e na emissora do cara que manifestou apoio ao Coiso tem capacidade de influir em alguma coisa? Nem perdi tempo com isso.

  • Esse modelo está ultrapassado. Ontem tentei , assistir mas vi uns 20/30 minutos quando minha esposa falou " Esse Alckimin tem 20 anos que fala a mesma coisa,a Marina coitada até hoje não se sabe o que pretende se for presidenta"; resolvemos mudar de canal. Haddad ganhou votos pela falta de compromisso, mensagem e clareza de programa de governo dos outros presentes, exceto o Ciro que abe o que fazer no governo mas não diz como e também continua com uma cruzada suicida contra o PT; gratuitamente ofende e ontem também sobrou para o Alckimin. Enfim, até o capitão foi beneficiado mesmo ausente. Uma perda de tempo esses debates; nada de construtivo. Uma mesa redonda esportiva é bem melhor e causa mais impacto.

  • Faz muito tempo que não assisto a nenhum debate.
    Não sinto falta.

  • Lamento por aquele que deva por obrigação profissional acompanhar esse tal de debate eleitoral.
    Não sou militante de nenhum partido,mas meu voto está decidido hà décadas
    .Pessoas que precisam de debates para definir seus votos ,fora uma pequena parcela da sociedade que navega em águas calmas sem ser rico,o resto é POBRE,TRABALHADOR,PEQUENO COMERCIANTE em fim,se tivessem consciência política ,não teriam dúvidas.
    Fazer o quê,eu imagino um mundo em que as pessoas não votem em pessoas ,mas em IDÉIAS.Um dia ,quem sabe.

    • Infelizmente, temos que votar em pessoas, pois muitos traidores trocam ideias por dinheiro e poder. No debate, temos como traidores claros do ideal de esquerda, Ciro e Marina. Como traidores da democracia e apoiadores de Temer: Alckmin, Álvaro dias e Meirelles.

  • Ciro infelizmente parece que tomou um caminho sem volta. Não vai seguir o conselho lúcido do PHA. Deve estar com o projeto de receber a herança do PSDB e se tornar oposição ao PT. Isto apenas não consistiria em algo errado, mas o pior é que parece estar aderindo ao uso da mentira.

  • Tirando você Fernando, todo o Brizolismo está com Ciro. Dá uma repensada aí.

    • Repensada ? É piada né.

      Quem está com Haddad é o bom senso e a lucidez.

    • Se for pensar assim. Estão disputando a eleição é o Brizola e o Lula.

  • Estão colhendo os frutos da ação do gênio de Lula, que matou, exceção de Bolsonaro que conta com os votos das viúvas da ditadura, todos os demais candidatos, especialmente os golpistas escondidos em outras denominações partidárias. Estão sem discurso, todos, que possa atingir o povão, e estão perdendo parte da classe média.

  • Bolsonaro já empregou a fsmília, seu único projeto, foi competentíssimo, faz discurso contra políticos em geral no entanto todos os parentes se garantindo em algum cargo bem remunerado. Ele realmente é inteligente e sabe muito bem usar os burros. Merece não?

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