O “Partido do Desastre” do jornalismo econômico

pibestadao

Luciano Martins Costa, em seu Observatório da Imprensa no Rádio, desmonta, peça por peça, o triste papel que o jornalismo econômico brasileiro vem desempenhando.

À semelhança do que ocorre na cobertura política, formou-se uma quase unanimidade: a de que o Brasil está caminhando celeremente para um desastre econômico e que, salvo por uma reversão radical da política econômica – claro que no sentido da adoção das conhecidas práticas neoliberais de juros, arrocho, entrega – não haverá “salvação”.

Formou-se uma espécie de partido hegemônico, quase mesmo partido único: o Partido do Desastre.

E, embora os fatos desmintam isso, esta é uma profecia que influi sobre os agentes econômicos, sobretudo sobre os menos poderosos e equipados para análises econômicas: a população em geral e os empreendedores de menor porte, que passam a contar com uma retração econômica, aumento de preços e redução da demanda.

Os fatos, certamente, são mais fortes que suas versões. Mas as versões são tão uníssonas que acabam, elas próprias, influindo também sobre os fatos.

O inexorável peso dos fatos

Luciano Martins Costa

É manchete nos principais jornais desta sexta-feira (28/2) o resultado da economia brasileira no ano de 2013.

O tom de espanto domina os títulos das reportagens e das análises dos economistas credenciados pela imprensa.

O Produto Interno Bruto cresceu 2,3%, contrariando o canto fúnebre entoado incessantemente pela mídia tradicional até o dia anterior.

O discurso muda subitamente: agora, diz-se que “uma surpresa favorável estancou a piora das expectativas”.

As edições desta véspera de carnaval devem ser guardadas pelos analistas da comunicação jornalística como um caso a ser estudado em futuras pesquisas.

Trata-se da mais deslavada demonstração de irresponsabilidade, para não dizer manipulação criminosa, no exercício dessa que já foi considerada uma atividade luminar da vida moderna.

Ao ver desmentidas pelos números suas próprias adivinhações, a imprensa usa o contorcionismo das metáforas para dizer que, agora, as expectativas catastrofistas não têm sentido.

Ora, mas quem foi que criou essas expectativas, se não a própria imprensa, ao dar abrigo e destaque para as piores previsões disponíveis?

Com exceção de uma minoria de especialistas, que passaram as últimas semanas fazendo penosos malabarismos verbais para não cair na corrente do apocalipse, o conteúdo dos jornais tem induzido os operadores da economia a um estado mental depressivo, que afeta principalmente o setor industrial, mais suscetível ao clima de pessimismo.

Alguns textos acusam o governo atual de haver insuflado no mercado um otimismo exagerado, há três anos, ao projetar taxas de crescimento anuais em torno de 4%.

Acontece que, desde então, a imprensa tem trabalhado no sentido contrário, produzindo um clima que induz a estratégias cautelosas por parte dos investidores.

Ainda assim, note-se, o nível de investimento cresceu 6,3% em 2013, a maior alta desde 2010.

O gráfico apresentado pelo Estado de S. Paulo anota, timidamente, que os investimentos devem crescer mais em 2014, impulsionados pelas obras da Copa do Mundo.

Manipulação e malabarismo

No amplo espectro das causas que compõem os fenômenos complexos, não se pode descartar o efeito do pessimismo da imprensa sobre escolhas de empresários e executivos mais conservadores.

Observe-se que, progressivamente, a predominância de opiniões negativas sobre a economia brasileira se tornou tão hegemônica que alguns autores passaram a usar e abusar de figuras de linguagem para se dirigir a seus leitores, abrindo mão do vocabulário econômico específico.

Interessante notar também que um dos destaques desta sexta-feira é a frase de uma jovem economista muito apreciada pelos jornais, que costuma usar referências literárias para ilustrar suas análises.

Em declaração no Estado de S. Paulo, ela afirma que o desempenho do PIB “vai gerar um choque de realidade sobre a economia do País. O pessimismo não se traduz em recessão ou queda do PIB”, observou.

O leitor atento vai pesquisar suas manifestações anteriores e constata que a economista tem sido uma das mais agressivas ativistas do pessimismo, useira contumaz de ironias.

Note-se também que, mesmo diante da realidade que contraria tudo que vinha publicando, a imprensa se esforça para diminuir o impacto dos fatos sobre suas previsões alarmistas.

Numa página inteira em que analisa sinais de mudança no modelo brasileiro de crescimento, a Folha de S. Paulo apresenta nesta sexta-feira um ranking das economias que mais cresceram, lançando mão de um artifício primário para minimizar a importância do desempenho do Brasil: em dezembro, quando noticiaram estudos sobre mudanças na economia dos Estados Unidos, os jornais dividiram os países em dois blocos – os mais vulneráveis e os menos vulneráveis.

E qual o critério adotado agora pela Folha, para classificar o desempenho dessas mesmas economias em 2013? – Divide os países em três blocos, colocando o Brasil no bloco intermediário.

Se optasse pelo mesmo critério usado para destacar a análise pessimista, o jornal teria feito um quadro com dois blocos, e o Brasil seria apresentado  entre os quatro países que mais cresceram, junto com China, Indonésia e Coréia do Sul.

São manobras como essa, inspiradas claramente num viés ideológico e no interesse político, que afetam a credibilidade da imprensa.

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25 respostas

  1. Credibilidade da Imprensa? A cara da bandidagem brasileira. Terno e gravata, voz empostada e a mao feroz na exploracao da inocencia do povo.

  2. Fernando Brito, acho o seu blogue o blogue mais esclarecedor, porque contra fatos, realidades estatísticas não há argumento, é isto que você faz quando coloca estes dados comparativos com outros países, e de governos anteriores com o de Lula e Dilma, você só deveria, ter alguns sktes bem resumidos de textos, mas com os quadros, para lançar de vez em quando, para refrescar a memória dos internautas, porque senão caem no esquecimento. Isto é uma “pancadaça” no PIG, eles lidam com a mentira e a passividade dos contestadores.

    1. Eu gostaria, cara, mas é coisa demais para um pessoa só…Ou duas, nos finais de semana, quando o miguel me socorre aqui…

  3. Acho que o correto não seria mostrar a média e sim a mediana, qual o sentido do gráfico da média ser maior do que praticamente quase todos os países ?

    1. Luis, duas considerações. A primeira é de que os dados que ele mostra são de setembro, quando nosso PIB teve retração. Segundo é que várias das economias que ele usa são pouco expressivas em volume, ao contrário deste gráfico, onde apenas a Bélgica poderia entrar nesta categoria. É obvio que não estamos falando que há um “pibão”. E sim que não há um desastre. E é um desastre que se lê diariamente no jornal.

    2. Há muito que a VEJA deixou de ser “revista” e virou PANFLETO.
      É claro que o “jornalista” Rodrigo Constantino, age de má fé e distorce fatos a serviço dos opositores do governo.
      Enquanto isso, os mesmos analfabetos políticos de sempre aplaudem a canalhice midiática.

      1. Ahhhhhhhhh sim…entendi..quando o seu jornalista exclui dez países ele não está manipulando…a economia vai bem e dá pra ver isso quando:
        a) a taxa de juros já subiu 3,5%
        b) o dólar está nas alturas
        c) e a inflação quase escapando da média né?
        E nem vou falar na contabilidade criativa….pulando mesmo a venda e a compra de plataformas de exploração de petróleo…
        Fala sério…vai enganar quem não lê…não tá ruim…mas está muito longe…
        outra coisa..pegar a economia da Europa em crise é fácil…

        1. Ninguém exluiu nada, rapaz, tanto que o gráfico da matéria é do Estadão. A taxa de juros altas é exigência da turma do mercado e da oposição e a inflação está quase escapando onde, você poderia citar os dados. Ficou todos os anos, abaixo do teto da meta…Já no Governo FHC…E a Europa em crise é muito ruim para nossa economia: vendemos menos para eles…

        2. Ninguém excluiu nada, rapaz, tanto que o gráfico da matéria é do Estadão. A taxa de juros altas é exigência da turma do mercado e da oposição e a inflação está quase escapando onde, você poderia citar os dados. Ficou todos os anos, abaixo do teto da meta…Já no Governo FHC…E a Europa em crise é muito ruim para nossa economia: vendemos menos para eles…

        3. A coisa tá tão “ruim” que a dona Catenhede tava reclamando que teve que se “acotovelar” com os “diferenciados” no aeroporto.
          Diferenciados estes que na era FHC não tinham dinheiro nem pra ir de ônibus clandestino ao nordeste.
          E o dollar tá tão “alto”, mas tão “alto” que daqui a pouco, mais uns 30 anos, vai atingir a marca dos QUATRO REAIS, como esteve na mesma era FHC…

  4. A direita esta queimando todos seus laranjas para distorcer informações, falsear a realidade, denegrir os grandes avanços e conquistas do trabalhismo, golpear a democracia, usurpar a decisão soberana das urnas.
    Já queimaram os jornais, as rádios, as revistas, os partidos de direita, o STF. Os últimos a queimar no inferno sãrão os falsos profetas e a grande prostituta global.

  5. O PIG e seus “Forrmadores de Opinião” são FHODHA( gente estudada, mas burra no tocante à capacidade de raciocínio e discernimento ou por interesse próprio não querem enxergar – os neoliberais )! Mas perderão, com certeza, ao menos no Brasil! Deus é grande e nós, aqueles que analisam e não acreditam no PIG, venceremos! Viva o Brasil, o Lula e a Dilma!

    1. Concordo completamente. São os piores, eles leem apenas as manchetes dos jornais e se acham informados. É o que temos de pior!

  6. Eu sugiro a todos,que tenham apreço por seus intelectos,lerem incontinente e difundirem o mais que puderem,uma análise criteriosa feita pelo BLOGUEIRO Luis Nassif.Um primor de análise e que todos deveriam ter acesso e DIFUNDIREM por todos os meios.No meu entendimento,a melhor análise recente,sobre LUTA DE CLASSES,embora a direita negue a existência dela!

  7. Enquanto a midia entreguista batia palmas o FHC levava o Brasil para o buraco.
    Logo, por uma questão de logica, se a midia entreguista esculacha é porque o caminho agora esta certo, elementar, não acham?

  8. O crescimento econômico é gerado pelo investimento do capital, sem o qual ele não acontece. O capital do Poder Público é o que ele arrecada em impostos, enquanto o capital privado é o acúmulo do seu ganho. O Governo não pode fazer aquilo que é do interesse privado, cabe à iniciativa privada encontrar as opções de investimento do seu interesse. Nesse sentido, as empresas não podem viver do que é veiculado pela imprensa.
    Os interesses das empresas e empresários possuem um alcance tão amplo e tão diverso, espalhados por setores e atividades cada qual com suas especificidades e particularidades, que não podem depender da água rasa oferecida por essas analises que são panorãmicas e superficiais. As empresas precisam possuir condições de direcionar, localizar, programar, planejar e efetivar os seus próprios investimentos. Viver dos humores de analistas, sejam eles de qual tendencia política ou ideológica forem, é uma opção muito complicada num mundo tão dinamico em que a informação precisa e segura é fator de diferencial na correlação de negócios e interesses entre nações e empresas.
    Existem até mesmo os plantadores de notícias vinculadas a algum tipo de interesse e uma empresa não pode tomar decisões importantes apoiadas em algo que pode ser mera especulação. Ela tem a obrigação de estar imune a isso, e ser capaz de ter informação segura. Ter conhecimento do que ocorre é condição vital para se tomar qualquer decisão. Só na industria existe um defit comercial de mais de US$ 100 bilhões e não é por culpa do Governo, o problema é da própria industria que não tem sido competitiva. Incentivos existem os mais variados, e agora mesmo com o cambio mais favorável, pouca coisa muda.
    O Governo não pode ameaçar com guerra quem não comprar os produtos nacionais. A industria precisa melhorar e não é com discurso que isso vai acontecer. Somente com seriedade e muito trabalho se alcançará essa condição de se inserir com real competitividade no comércio internacional. Superar os próprios entraves passa pelo reconhecimento deles, numa busca que produza produtos melhores.

  9. Poderia estar crescendo mais se o governo investisse em eficiência, permitindo redução de impostos, especialmente os que incidem sobre o consumo e produção (ICMS é o maior vilão do desenvolvimento, além de ser um imposto pago quase exclusivamente por pobres).
    Mas não, 12 anos sem mudar NADA NADA NADA de relevante da matriz tributária.
    Serviços públicos continuam de baixa qualidade, e o governo continua fingindo que não tem problema nenhum. Mas tem.

  10. Brito, não sei se vc sabe os critérios para chegar à média mundial, destacada no gráfico, mas sugiro que o refaça, excluindo China e Coreia do Sul, que são pontos fora da curva, estatisticamente. Vai ficar claro que nosso crescimento não foi só o terceiro melhor, foi muito melhor que a média do mundo, excluindo China e Coreia do Sul.

    1. Acredito que isto seja extremamente relevante, principalmente no caso da China. Pelo que li a alguns anos, e não deve ter mudado muito, a população do china compunha-se em sua maioria de agricultores de subsistência. Os números chegavam a 800 milhões, portanto quando se fala em um crescimento de 7,5% não devem estar levando em conta este contingente populacional.
      Para mim o PIB da china é uma verdade contada com mentiras.

  11. Não é “Partido do Desastre”. Simplesmente é o PIG, em seu estado mais puro. E, como eu digo, o PIG jamais fez previsão alguma. Leitão, Sardenberg, Cantanhêde, Azevedo, Nunes… todos eles sabem muito bem como funciona a economia brasileira, vide o quanto os patrões deles ficaram mais ricos nos últimos meses. O que eles fazem é torcida, campanha difamatória e por aí vai. Só que aí vêm os fatos e eles tem que explicar pros inocentes uteis que acreditaram na palhaçada que eles são pagos para fazer em rede nacional.

  12. Eu queria entender uma coisa coisa, a relação entre crescimento do PIB e inflação.
    Por exemplo, mesmo que a nossa inflação esteja estabilizada, com tendência de queda, ela ainda é o triplo do crescimento do PIB. Isso não gera uma corrosão do próprio crescimento, mesmo contando com o crescimento da renda.

  13. E antes que alguns venham me atacar, o que acontece geralmente qdo tem questionamentos do tipo, eu não entendo de economia, a minha pergunta partiu de um leigo que quer entender a interação entre o Crescimento do PIB e a Inflação.

  14. Uma coisa é “média do PIB mundial”, e outra coisa é “aumento real do PIB mundial”. A média do PIB mundial pode ser influenciada por países pequenos, que aumentam muito seu PIB, o que não significa nada. Gostaria de ver uma estimativa do segundo número que mencionei.

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