Recebi, e republico com dor e prazer, a carta-crônica da Marceu Vieira sobre a demissão – é demissão, mesmo, porque o contrato era de emprego – do radialista Adelzon Alves da EBC- em que ele, na falta de santos a quem apelar, apela às almas dos nada santos defuntos donos da mídia brasileira.
Adelzon é um personagem que se confunde com as madrugadas no Rio de Janeiro há mais de meio século. É pior ainda, porque isso se faz quando outra carioca das antigas, a Rádio Nacional, com quem ele passava as noites, está completando 80 anos.
Para quem não é do Rio ou é e muito novo, já do tempo destes troços que foram pendurando na gente – walkman, cd-player, Ipod e agora o celular que quase já perdeu o nome de telefone, de tanto que faz – o Marceu conta que é o Adelzon.
O presidente da EBC, Ricardo Melo, que Temer quis defenestrar, talvez nem saiba que estão fazendo isso. Ou, quem sabe, tenha há tanto tempo emigrado do Rio para São Paulo que se esqueceu das noites cariocas, com o o Angu do Gomes na Praça XV, o biscoito Globo, e os radinhos de pilha dos porteiros, dos vigias, dos taxistas, dos catadores e até dos sem-teto, nas calçadas, de onde quase invariavelmente saía a voz dos sem amigos, exceto ele, o amigo da madrugada.
Carta a Roberto Marinho e Chatô
em favor de Adelzon Alves
Marceu Vieira
Caros doutores Roberto Marinho e Assis Chateaubriand.
Escrevo aos senhores, que foram donos do Brasil e tiveram os políticos sob seus pés – os maus políticos, vá lá, o que tornou suas biografias ainda mais interessantes -, bom, escrevo aos senhores como um último recurso.
Adelzon Alves, 76 anos, 77 daqui a pouco, 55 deles à frente de microfones de rádio, o nosso Adelzon, patrimônio da radiofonia brasileira, profissional que, de modo sobrenatural, consegue reunir excelência e bondade, o Adelzon, enfim, está fora do ar desde a última terça-feira, 20 de de julho.
Isso é um absurdo. Peço a ajuda dos senhores.
Na verdade, já era quarta quando foi ao ar pela última vez. Porque, como os senhores devem se lembrar – mais ainda o doutor Roberto, que foi patrão dele -, Adelzon é o “amigo da madrugada”. Apresenta, com este nome, “Amigo da Madrugada”, um programa desde 1966.
Caso o doutor Chatô não recorde, pois se foi daqui em 1968, e só conviveu dois anos com o sucesso do Adelzon, rogo ao doutor Roberto que confirme a minha descrição. Adelzon Alves é o principal radialista da história da MBB (Música Boa Brasileira). Trabalhou na Rádio Globo por 26 anos. Teria saído de lá (perdoe a indiscrição, doutor Roberto) depois que um sambista cismou de criticar a construtora Odebrecht no ar.
No dia seguinte, segundo relato de gente da época, o Adelzon nem da portaria da emissora da Rua do Russel 434 pôde passar. Águas passadas, doutor Roberto, o tempo as absorve e as absolve – e desconfio mesmo que o senhor não permitiria coisa assim hoje em dia, se por aqui ainda estivesse.
Adelzon é um homem pobre, espero que ele releve a minha inconfidência. Vinha ganhando um salário inacreditável na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), braço do governo federal a que a Rádio Nacional, onde ele trabalha, está submetido.
Aliás, trabalhava. O contrato furreca dele, de R$ 5 mil mensais brutos, não descontados o que ele paga mensalmente de ISS e a um contador, expirou dia 20 – e a EBC não quis renová-lo. A estatal alegou que o país está em crise, que o orçamento da emissora anda prejudicado, e expurgou o nosso “amigo da madrugada”.
Doutor Roberto, doutor Chatô, não duvidem de mim. Adelzon, que nem celular tem, nunca tirou férias, nem descansou em feriado. Mora na Pedra de Guaratiba, bairro humilde da Zona Oeste do Rio, e, até anteontem, ia trabalhar todas as noites de trem. Tomava um ônibus até Santa Cruz, e dali embarcava no comboio da SuperVia.
Na volta, depois de três horas de programa, da meia-noite às 3h, caminhava até a Central do Brasil pra pegar um BRT. Chegava em casa às 5h da manhã. Nunca reclamou disso. À família, sempre disse ter um compromisso com a “música brasileira verdadeira”.
Peço ajuda aos senhores pra que intercedam, daí, de onde estão agora, e este crime de lesa-música seja revertido.
Em plena era das descobertas de imensas corrupções, quando milhões de reais públicos são desviados pra contas na Suíça, e outros bilhões igualmente nossos financiam as Olimpíadas do Rio ou maluquices como a Hidrelétrica de Belo Monte, não é possível que não haja R$ 5 mil no orçamento da EBC pra manter no ar o programa do Adelzon.
Nesta segunda-feira, 25 de julho, ao meio-dia, uma roda de samba promete se formar na Rua Gomes Freire, Centro velho do Rio, em frente ao prédio da EBC, num protesto contra atitude tão mesquinha de subalternos do governo provisório de Michel Temer.
Doutor Roberto, doutor Chatô, os senhores, que foram donos do Brasil e souberam como ninguém criar e conduzir o poder das rádios, os senhores precisam nos ajudar nesta causa.
O Adelzon, sabe bem o doutor Roberto, foi contratado pela Globo, em 1964, pra falar de ieieiê e jovem guarda. No entanto, pôs no ar sambistas do morro, como Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Zagaia, Silas de Oliveira, Geraldo Babão, Djalma Sabiá…
O Adelzon, praticamente, lançou Paulinho da Viola e Martinho da Vila.
Coisa parecida, doutor Chatô, com o que fez na sua querida (e nossa também) Rádio Tupi o locutor Salvador Batista.
Adelzon doou ao Brasil o sucesso de Clara Nunes. Lançou João Nogueira (saudade), Roberto Ribeiro (saudade também) e ainda Dona Ivone Lara e ainda Wilson Moreira e ainda tantos e tantos mais.
No programa dele, despontaram Zeca Pagodinho, Almir Guineto, muita gente. Não é possível que façam com ele o que estão fazendo agora.
No início dos anos 1970, Adelzon pôs em seu programa o eterno e grandioso Jackson do Pandeiro – e o resultado foi que a música nordestina se reaqueceu, e Jackson perdurou oito anos com nosso radialista no ar. Graças a esse gesto, vieram novas gravações de Luiz Gonzaga, só pra citar mais um mito.
Doutor Roberto, doutor Chatô, conto com os senhores, que foram donos do Brasil e souberam fazer rádios como ninguém, e tiveram sob seus pés os políticos – sobretudo, os maus e os mesquinhos e os avarentos. Conto com os senhores.
O Adelzon, que é figura maior e iluminada e desapegada das coisas terrenas, não está pedindo ajuda, nem nada. Quem estamos somos nós. Humildemente, somos nós. Em nome do bom rádio brasileiro, humildemente, somos nós.
Com respeito, acolham este tão sincero rogo e aceitem, por favor, o cumprimento, embora desimportante, deste cronista digital.
8 respostas
Comovente carta de Marceu Vieira em favor de Adelzon Alves que é o principal radialista da história da MBB (Música Boa Brasileira). Esse governo Temer não é só compostos por canalhas golpistas mas por ignorantes, pessoas sem culturas e principalmente fascistas que só possuem ódio no coração. Não valem o prato que comem. Tudo o que fazem não tem valor pois se apoderaram do poder por golpe para destruir nossa cultura, nosso país, nossa dignidade. A esses seres nefastos e malditos desejo-lhe que tudo o fazem de maldade, a vida lhe destine em dobro.
O contragolpe na Turquia foi um golpe da Rússia contra a CIA
por J. Carlos de Assis
Aguardamos a Rússia então. …..fazer o quê
Eu moro em Minas Gerais, tenho 56 anos, e curti por muitos anos o Adelzon Alves, que com seu bom papo, conhecimento e suas histórias, embalava as madrugadas. Na abertura, a saudação era “Boa noite pra quem é de boa noite e Bom dia pra quem é de bom dia”. E um desfile que contava com Caetano, Hildon, Cartola, Dicró e tantos outros, numa combinação que aconchegava todos que o ouviam. Com um detalhe importante, mas ignorado por muitos de seus colegas: citava o nome de todos os autores da composição e não apenas o do intérprete. Adelzon tem espaço em quaisquer das mídias atuais. Sua linguagem é atemporal e todos os gêneros musicais cabem em sua galeria, apresentada pela bela voz de um temperamento de paz e harmonia.
Salve Adelzon. E seu imenso conhecimento e amor pela musica boa brasileira. Sua saida do radio e sinal dis tristes tempos pro pais e pra musica, ambos num momento muito ruim.
Desse governo eu nao me surpreendo com mais nada.So ferrando trabalhador.
BOA TARDE, GENTE BOA,
MEUS BROTHERS,
E PIOR:
AINDA CONTINUAMOS A PAGAR AS MORDOMIAS MILIONÁRIAS
DESSE INDIVÍDUO, O TAL DE EDUARDO CUNHA!
AUTOMÓVEIS DE LUXO OFICIAIS PRETOS PLACA DE BRONZE COM MOTORISTAS SERVIDORES PÚBLICOS, E TUDO MAIS!
UMA VERDADEIRA FORTUNA POR DIA!
ENQUANTO ISSO, TEMOS IRMÃOS E IRMÃS MORRENDO DE FRIO E FOME NAS SARJETAS DAS AVENIDAS, DIA A DIA, NOITE A NOITE!
HOJE, AINDA INVISÍVEIS!
“DÁ PRA TU?”
“MISERICÓÓÓÓÓÓÓÓÓDIA!”
“ISSO TEM TERMO?”
“FORA SEUS FIS DUMA BOBÔNICA!”
“FORA CUNHA!”
“FORA TEMER!”
“HOMI! HOMI! ABRA DO OLHO!”
“DILMA DO BRASIL DE VOLTA, DEMOCRACIA RESTABELECIDA!”
“DILMA DO BRASIL FICA!”
“SIM, DILMA DO BRASIL FICA!”
“O PRÉ-SAL É NOSSO!”
“O PETRÓLEO É NOSSO!”
“BABADO NÃO É BICO NÃO!”
JUÍZO GENTE! JUÍZO MESMO! JUÍZO JÁÁÁÁÁÁÁÁ…!!!
GENTE BOA, UMA BOA TARDE!
MEUS BROTHERS,
OS CORRUPTOS GOLPISTAS SÃO ESCUDADOS PELO “MBL – DIREITOPATAS EMPEDERNIDOS PARANÓICOS!”
“HOMI! HOMI! ABRA DO OLHO!”
“BABADO NÃO É BICO NÃO!”
“FORA TEMER!”
“FORA CUNHA!”
“FORA GOLPISTAS CORRUPTOS, VENDILHÕES DA PÁTRIA MÃE GENTIL!”
“A HORA É ESSA, A DEMOCRACIA TEM PRESSA!”
“DILMA DO BRASIL FICA!” E JÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ…!!!
“DILMA DO BRASIL DE VOLTA, DEMOCRACIA RESTABELECIDA!”
“HOMI! HOMI! ABRA DO OLHO!”
“BABADO NÃO É BICO NÃO!”
JUÍZO GENTE E JÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ…!!!