O segundo adeus de Paulo Henrique Amorim

Em falta com a equipe do Conversa Afiada, em razão de problemas pessoais que me impediram de gravar as participações que, há três meses, estava fazendo na TV Afiada, recebo a notícia que o pai de todos os blogs, o Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim deixa hoje de ser atualizado.

Junto com o fim do Nocaute, de Fernando Morais, é o fim de um mês de baixas sérias para a blogosfera progressista, como nunca antes.

Não nos destruíram ao destruir governos progressistas, não nos destruíram com processos judiciais (PHA enfrentou dezenas deles), não nos destruíram com a onda de fanatismo direitista e autoritária.

Como disse antes, o que nos está abatendo – e abatendo grande parte de quem produz conteúdo na internet – é a perda de recursos de publicidade que a pandemia, esta imensa tragédia, está causando, com seus efeitos econômicos.

O leitor, só leitor, ainda nos dá sobrevida.

Algumas sobrevidas, porém, vieram mais cedo, porque é isto o que Paulo Henrique Amorim deu ao Conversa Afiada, desde sua morte, há um ano, dia 10 de julho de 2019.

O adeus ao blog, hoje, portanto, é o segundo adeus a Paulo, uma presença amiga deste Tijolaço desde que ele nasceu, como um irmão mais velho a nos aconselhar e explicar, como disse no vídeo abaixo, gravado no seu velório, na Associação Brasileira de Imprensa.

Faz e fará mais falta ainda a conversa muito afiada de PHA e seu blog e, para tentar dar conta da impossível missão de supri-la, nosso papel é seguir fazendo barulho, com a ajuda daqueles que são nossa razão de existir, os leitores.

Fernando Brito:

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  • estou desolada. Continuamos a luta, com vc e os demais blogues que desafiam os poderosos. Abraço

    • Tenho dito desde 2014 que precisamos constituir um Fundo Independente de Financiamento da Mídia Progressista no Brasil. As pessoas e organizações nacionais e internacionais doariam a este fundo independente que distribuiria os recursos entre os sites progressistas. Os sites seguiriam com suas estratégias individuais, mas o fundo comum ajudaria a financiar matérias e reportagens especiais, causas judiciais entre outras agendas. Não consigo financiar a todos os blogues que gostaria, mas doaria com certeza a um fundo compartilhado por todos.
      Penso também que os blogues precisam se fundir e nossos jornalistas precisam se especializar (alguns tem mais presença de vídeo, outro de texto, e isso precisa ser observado em prol do público).
      São muitos. Não consigo acompanha-los a todos todos os dias.
      Precisamos nos unir, compartilhar custos, juntar forças, sermos inteligentes.
      Junto somos muito mais fortes.

      • concordo plenamente. eu achei que o Barão de Itararé desempenharia esse papel, mas não aconteceu. A gente colabora como pode, mas não é suficiente pra enfrentar o volume de recursos que a velha mídia tem à disposição

        • Os blogues progressistas precisam ser reunir para definirem as regras de acesso aos recursos captados (por exemplo, quanto um site maior como o Brasil 247 ou um menor como o Tijolaço podem receber).
          Barão de Itararé pode ser a organização a coordenar o processo todo depois dessas regras serem definidas.
          Repito: os sites seguem com suas estratégias individuais, mas contariam com o Fundo como uma nova fonte de renda.
          Imaginei que esses recursos do Fundo Independente para a Mídia Progressista - FIM-Progressista fossem destinados primordialmente para:
          1. uma parte para custear a manutenção dos custos dos blogues (a maior parte);
          2. uma parte para financiar projetos especiais, matérias investigativas, consórcios investigativos, publicações, vídeos etc.;
          3. uma parte para pagar as defesas de processos judiciais contra os blogues.

          Se bem divulgado e com direção ativa, o FIM-Progressista poderia alavancar recursos internacionais, além de ter melhores condições de coordenar campanhas para a ampliação dos recursos captados pela mídia progressista, realizar campanha junto aos sindicatos e associações e etc.

  • Começo a ficar assustado: vão sobrar somente os blogs e vlogs dos minions e fascistas?

    • precisamos constituir um Fundo Independente de Financiamento da Mídia Progressista no Brasil.

  • Pasmado, é a única palavra que me mostra. Só não entendi porque?

    • Problemas financeiros. É o que está pegando praticamente todo mundo. O blog Viomundo do Azenha também está com problemas financeiros e está pedindo apoio para não fechar. Muito triste tudo isso que está acontecendo.

    • Aqui nunca cortou, porque nunca houve. Posso te garantir que a razão é a que apontei: a perda de receita gerada pelas plataformas publicitárias. Sei o que é isso, por sofrer o mesmo aqui, desde o início da pandemia.

  • Dou meus "Pitacos" na internet desde o Blog do Mino,participei pouco do Conversa Afiada,tinha e ainda tenho uma certa mágoa de PHA desde a Band e Globo e o anti petismo no nascedouro da sigla.
    Mas tenho de admitir que o PHA era valente e peitava grandes empreitadas,cá no Tijolaço frequento desde o Brizola depois veio o Brito democrático,ponderado e também valente.
    Ser blogueiro é difícil,blogueiro progressista então é luta titânica pelo pouco recurso material e humano,Brito luta sozinho e sei o que é isso, abri o Lula Forever e desisti após três meses no final dos anos 90.

  • Apesar de todas as dificuldades e limitações, a blogosfera progressista consistui a única alternativa a um sistema de comunicação que, insisto, não tem paralelo no mundo. Como sabemos nossa Grande Imprensa, que só na forma se parece com as grandes empresas de comunicação no mundo, oscila entre ser "Imprensa Oficial" de regimes políticos ditatoriais ou autocráticos e/ou "Partido" Golpista antidemocrático, antinacional e antipopular. Mas ao lado dessa visão rósea ou otimista sobre o papel da blogosfera progressista tenho uma opinião um pouco mais pessimista a respeito dela.
    Vejo que ela oscila entre ser uma "outra" Imprensa e / ou ser órgão de comunicação, divulgação e propaganda dos Partido Políticos do campo de esquerda.
    No primeiro caso, a pretensão de ser "outra" imprensa, implica primeiro em ser uma imprensa "alternativa" à Grande Imprensa, seja sua versão "Oficial" seja sua versão "Golpista", e segundo ser uma imprensa "melhor" do que ela em termos de qualidade do jornalismo que se quer praticar. Trata-se portanto de uma pretensão totalmente legítima e necessária, pelo menos para quem acredita que a pluralidade de opinião é um valor e uma prática importante em um ambiente democrático.
    No segundo caso, a pretensão de ser "a" voz ou "outra" voz dos partidos políticos implica uma série de dificuldades. A primeira delas é que ao contrário da pretensão de ser outra e melhor imprensa é declarada em alto e bom som a pretensão de ser a "voz" dos partidos é feita por razões óbvias a boca pequena num jogo de simulações e dissimulações que parece paradoxalmente reproduzir a propalada "imparcialidade" da Grande Imprensa mas de signo invertido. A segunda delas é que devido a essa opacidade ao invés de aumentar ou melhorar a polifonia acaba por gerar uma perturbadora e estranha cacofonía, ao lado da que normalmente já existe nesses partidos políticos. Aqui parte do problema vem do fato de que os partidos políticos de esquerda foram incapazes de oferecer uma alternativa a Grande Imprensa (não vou entrar na discussão se tentaram ou não criar realmente essa alternativa, apenas afirma que o resultado prático é que não conseguiu). Uma outra dificuldade vem do fato de que os partidos políticos de esquerda têm mostrado uma enorme dificuldade em operar nestas novas condições "tecnológicas" digitais. Ao contrário do que acontecia antes dessa mudança os partidos de esquerda pareciam ter, apesar da escassez dos meios, uma enorme capacidade de comunicar-se com seu "público".

    Concordo totalmente e sou totalmente solitário com a primeira pretensão mas sou muito, mas muito, desconfiado em relação a segunda pretensão.

    Dito tudo isto volto a destacar aqui o papel de Fernando Brito e seu Tijolaço que continua com pouquíssimos recursos a ser essa outra imprensa e de todos os Blogs é o único que consegue manter uma relação independente com os partidos políticos do campo progressista, democrático, popular e de esquerda, não tem aquele tom laudatório acrítico no entanto consegue exercer o exercício crítico de forma ponderada, responsável, educada e ao mesmo tempo firme, e mais importante, honesta. Talvez seja nosso último dinossauro antes da destruição total. Nossa última esperança. Os partidos políticos tem que se responsabilizar por esse trabalho de comunicação e não deve "terceirizar" essa dura tarefa ao blogs progressistas, mesmo porque contam com muitos mais recursos que esses blogs. Essa é minha opinião.

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